segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Um dia em Búzios

Não houve um ano sequer em que passamos as férias em Rio das Ostras e não dedicamos um dia inteiro a Armação de Búzios, mundialmente conhecida como Búzios. A cidade é formada por 23 praias. Entre as mais conhecidas estão Geribá, Ferradura, Ferradurinha, Ossos, João Fernandes e Olho-de-Boi (de nudismo).
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O turismo local começou na década de 1940/1950, quando Búzios ainda era uma pequeno vilarejo de pescadores. À época, a elite carioca alugava ou construía casas de veraneio no local. Durante as férias recebiam visitas de amigos e parentes, alguns estrangeiros, pessoas influentes na sociedade. Era um ciclo: a fama de Búzios atraiu mais pessoas e quanto mais pessoas mais fama. O marco do avanço turístico na região foi em 1964 quando a atriz Brigitte Bardot visitou a cidade e toda a mídia nacional voltou seu olhos (câmeras, microfones e gravadores) para aquele vilarejo.

(Foto tirada desse link. Estátua em homenagem a Brigitte Bardot)
A partir daí, o turismo em Búzios cresceu como uma função exponencial. Turistas do mundo inteiro vão às praias da cidade em busca de conforto, luxo (que fica por conta da hotelaria local) e cenários paradisíacos.

Acomodações
A cidade já me apareceu em outras ocasiões. Além de ir lá nos três anos em que passei as férias em Rio das Ostras, também fui ao "vilarejo" das duas vezes em que fui para Cabo Frio. Dois fatores contribuem para isso. O primeiro, e mais óbvio, é a proximidade. São 25 Km de Cabo Frio e 40 de Rio das Ostras. O segundo fator é financeiro. Búzios é muito cara, por isso passamos o dia lá... e dormimos em outra cidade.

Para quem quer ficar na cidade, a primeira opção são os hóteis ou pousadas, mas se for com muitas pessoas, pense em alugar uma casa. Para quem quer pagar ainda menos, há uma série de albergues em Búzios. O site Mochila Brasil tem a lista completa. Ainda, algumas praias oferecem camping.

Para o estilo de cada um

Escolher uma entre as 23 praias do local não é fácil. Abaixo, uma lista não com as praias mais famosas, mas com as mais diferentes, para cada um encontrar a que se adapta melhor ao tipo de programa que mais gosta:

Praia da Azeda: Areia branca, água cristalina, é considerada uma das praias mais bonitas do Brasil. O acesso a ela é feito a pé. 50 metros adiante está a Praia da Azedinha. Igualmente bonita. Como as águas são mais calmas, é mais procurado por famílias com crianças pequenas.

Praia Brava: A preferida pelos surfistas, devido as fortes ondas.

Praia da Ferradura: Atende ao turista como nenhuma outra. Muitas opções de quiosques e divertimentos, como passeios de banana, jet-ski, caiaque e barcos. A praia do lado, Ferradurinha, é mais calma e apresenta uma piscina natural.
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(Foto tirada desse link. Praia de Ferradura)
Praia de Geribá: Já foi até tema de música. Geribá é a mais badalada do grupo. As barracas locais oferecem festas a noite, principalmente durante a alta temporada. Muita gente bonita (mesmo!)
Praia João Fernandes: Também e bastante badalada e atrai um número grande de turistas estrangeiros.

Praia Olho-de-Boi: O isolamento natural feito pela vasta vegetação fez da praia o local perfeito para o nudismo.

Praia da Tartaruga: É local de desova de três diferentes espécies de tartarugas marinhas, por isso o nome. É parada quase obrigatória de todos os passeios de escuna.

Praia de Tucuns: A mais deserta. Oferece ao visitante paz, sossego e uma linda paisagem.

Areia fina, mar azul... e quê mais?

Além das praias, outro ponto turístico muito famoso na cidade é a Rua das Pedras. Oferece uma grande variedade de lojas e boutiques (lembrem-se: caras) e é o ponto central da cidade para quem quer (e pode) ir as compras. Para quem não pode vale a pena passear por lá depois de um dia de praia. A iluminação da rua rende boas fotos.





















(Fotos tiradas desse e desse link)
Mas é a noite que a rua fica cheia mesmo: pessoas de todas as idades procuram por seus bares e restaurantes. No fim da Rua das Pedras se estende a Orla Bardot, conhecida pela estátua da Brigitte Bardot (foto lá de cima). As ruas paralelas também estão crescendo, alavancadas pela fama das Rua das Pedras.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Conforto é a palavra em Rio das Ostras

Todo local tem seu turista típico. Afinal, todo lugar tem caracteristicasa especificas e essas caracteriscas especificas costumama atrair pessoas que gostem delas. Logo, pessoas parecidas, ou com lazeres parecidos. Mas o que leva uma pessoa a Rio das Ostras?


Lá é o lugar do turista praiano. A maioria das pessoas que vai a cidade gosta de acordar no meio da manhã, tomar café e ir para a praia lá pelas 11h horas. Se acomodam na areia ou no chão de concreto de algum quiosque, jogam as sacolas em cima de uma cadeira, tiram a blusa e ficam sentados, de pernas pro ar. Às vezes, literalmente. Conversa vai, conversa vem, saem um, dois ou três pratos de petiscos. É hora do almoço e a maioria continua no petisco. Lá pras 16h todos juntam suas coisas, pagam a conta e se mandam da praia. Vão para o hotel ou para uma casa, curtem a piscina, tomam um banho e descansam. Às 20h é hora de sair de novo e procurar um lugar para comer. Claro que nem todo mundo é assim. Há espaço para as diferenças. Alguns gostam de caminhar ou correr no início da manhã. Outros no fim da tarde. Alguns saem da praia cedo pra não se queimar muito. Outros chegam depois do almoço, e por aí vai.

Até aí o turista de Rio das Ostras se parece muito com um turista de uma praia qualquer. Mas há uma grande diferença: ele gosta de CONFORTO.

Não é pra menos que a praia mais cheia é a de Costa Azul. Os playgrounds infantis estão a disposição dos pais, que nem precisam carregar as tralhas do filho para a praia para ele se divertir. Quem gosta de esportes tem academias ao ar livre e ciclovias, com uma ótima vista. E os quiosques com boa comida e atendimento relativamente rápido permitem que os clientes (estejam eles no calçadão ou na areia) não precisem fazer quase nada de esforço.

Até as características naturais do lugar ajudam a entender porque essa é a característica principal do turista de Rio das Ostras. Podemos dividir a praia em três. Tem a parte onde o mar é mais forte, com mais ondas (algumas que chegam a 3 metros), a parte onde não há onda nenhuma, devido a um isolamento feito pelas pedras, e a parte final que tem ondas que é um misto das duas: tem ondas, mas mais fracas. Há lazer para todos os tipos de gostos: para quem quer surfar, para quem quer nadar e para quem quer ficar tranquilo sem medo dos filhos pequenos se afogarem.

Me arrisco ainda a dizer que o turista em potencial é alguém que está indo com sua família. A maioria das pessoas que se hospedaram nos hotéis que fiquei e também a maioria das pessoas que vemos nas praias e nos restaurantes estavam com crianças, com familiares ou com amigos mais velhos. Não é um lugar que se vê, por exemplo, muitos grupos de jovens que decidiram passar uma temporada por lá. Ao contrário do que vemos em Búzios e Cabo Frio, para citar outras cidades cariocas.

E o conforto da cidade é na medida. Lugares confortáveis demais, com serviços demais, são caros. Ou chegam a ser desconfortáveis de tanta atenção que lhe dão. O clima de Rio das Ostras, ao contrário, faz com que o turista se sinta a vontade, como se estivesse em um cômodo da sua casa e não precisasse se preocupar com mais nada.

domingo, 23 de agosto de 2009

Feito pro turista

Hoje, aproveitando o período de vacas magras (e poucas viagens), resolvi falar de um passeio antigo: Rio das Ostras. A cidade é um município do Rio de Janeiro, que fica a 170 km da capital e a uns 40 km da badalada cidade de Búzios.


(Foto tirada desse link. Vista do mirante da praia )

A primeira vez que fui lá foi em 2005. Fomos levados pela história de um amigo do meu pai: "Fui pra lá uma vez, há vinte anos atrás, e desde então passo minhas férias de fim de ano aqui", disse. Alguma coisa aquele lugar tinha que ter, pensamos.


Para um mineiro, ver surgir a praia é sempre uma alegria. Em Rio das Ostras não foi diferente: o mar azul de areia fina com ótimas ondas para os surfistas realmente encanta. Mas, dessa vez, quando chegamos a Costa Azul, vimos surgir uma praia bem diferente, com uma infra-estrutura para o turismo sem igual.

Ok. Santa Catarina tem praias com uma ótima infra-estrutura. Natal nem se fala. A diferença é que esses lugares já eram atrativo turístico e daí foram ganhando investimento. Com essa praia foi o movimento inverso: com investimentos da Prefeitura, a orla de Costa Azul passou por uma grande obra de urbanização e se tornou o principal ponto turístico da cidade.

E a estrela é mesmo o calçadão. No início dele há um píer de onde as pessoas pescam (foto acima e a esquerda). De lá você consegue uma das melhores vistas da praia. Ao longo dos 850 metros do calçadão, podemos ver parquinhos para as crianças, academia de ginástica ao ar livre, ciclovias, quiosques planejados e 15 mil m² de restinga preservada. Até o piso entrou no planejamento, pois os azulejos são produzidos com um material que não queimam os pés, mesmo com o sol a pino.
















(Fotos tiradas desse e desse links)

No fim do calçadão, aonde os carros já não podem mais entrar, há uma galeria chamada Tocolândia, com lojinhas que vendem roupas, comida e artesanato. Depois dela você encontra a Praça da Baleia, outro famoso ponto turístico da cidade. O nome se deve a escultura de uma Baleia Jubarte em tamanho real, cerca de 20 metros de comprimento, toda coberta por chapas de bronze e liga de latão. A arte foi feita pelo artista plástico Roberto Sá, conhecido pelas suas esculturas hiper-realistas. Da Praça da Baleia dá pra subir no Mirante de Costa Azul, aonde também há uma bela vista da cidade.
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(Foto tirada desse link. Praça da Baleia e sua escultura. Reparem no mergulhador segurado na ponta da cauda da baleia)
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Do outro lado da orla, como é de se esperar, há hotéis e restaurantes. Os preços são acessíveis, nem baratos nem caros. O bairro local, que recebe o mesmo nome a praia, é recheado de pousadas e casas de veraneio.

Com alguns passeios pela cidade logo percebemos que nem todas as praias eram iguais. Na verdade, Costa Azul era a única. Por isso passamos 4 dos 8 dias de viagem lá. Inclusive o reveillon. E a experiência do amigo do meu pai pega. Voltamos à cidade em 2006 e 2008, algo inteiramente novo para o meu pai, que todo ano procura um lugar diferente pra ir.
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Há duas coisas, porém, que eu tenho que reclamar. Uma delas são os chuveiros que ficam ao lado dos quiosques. Grande parte deles não funciona ou a bomba foi roubada. A outra é a falta de manutenção dos jardins da orla. No primeiro ano que fui ao local estavam muito bonitos e bem cuidados, mas da última vez, em 2008, as plantas já estavam ultrapassando (em muito) do espaço do jardim.
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Mas a cidade avança em outros sentidos. No ano passado, por exemplo, vimos mudanças: a Praia das Tartarugas, mais ao centro, também ganhou uma obra de urbanização. Além de ciclovia, quiosques e "casinhas" de madeira para passar o dia, o local tem quadras de vôlei e futebol de praia. Ainda não é tão frequentada como Costa Azul, mas isso deve durar pouco tempo.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Dose tripla


Em uma crise existencial daquelas, com direito a um divórcio avassalador, depressão e choro contido no chão do banheiro, Liz decide deixar o país e viver um ano fora: quatro meses na Itália, quatro meses na Índia e quatro meses na Indonésia. Essa é a tônica do livro autoral Comer, Rezar, Amar (Eat, Pray, Love) da jornalista norte-americana Elizabeth Gilbert.

(Foto retirada desse link)

Esse livro junta tudo que mais gosto de ler: é um romance que fala sobre viagem. Destrinchando um pouco melhor a história: com 31 anos Liz tinha uma carreira jornalística bem sucedida, estava casada há alguns anos e seu marido planejava ter um filho. Mas ela não. A situação foi ficando cada vez pior a ponto de passar noites e noites chorando no banheiro da sua casa se sentindo culpada por ter uma vida tão aparentemente feliz.

Daí, uma série de eventos e fatos a fazem decidir viajar. E o leitor acompanha tudo: a transformação do divórcio em um estágio no inferno, um novo namoro fracassado que a faz ficar ainda pior, o porquê da escolha desses três países. Assim, ela se manda.

Na Itália, ela come como uma louca e engorda 10 quilos em 4 meses. Ela mesma fala que colocar o país no roteiro foi uma decisão que só levou em conta o prazer: prazer de aprender italiano, de conhecer o país, de comer comidas maravilhosas. E é só isso que ela faz: se diverte.

Na Índia, ela busca Deus praticando yoga em um ashram, uma espécie de mosteiro que recebe pessoas do mundo inteiro a procura da evolução espiritual. A idéia era passar 6 semanas, mas as experiências foram tão enriquecedoras que ela decide esquecer sua viagem pela Índia e ficar lá os quatro meses.

Na Indonésia, ela se encontra com um velho médico indonésio na busca de conhecimento e, ao fim, se apaixona. Por um brasileiro!

O livro é ótimo. A autora se preocupa em passar mais do que suas impressões pessoais e situação emocional. Nas três partes do livro ela passa capítulos inteiros contando curiosades e explicando a história e cultura locais. Como exemplo posso citar o momento em que ela conta a origem da língua italiana e explica porque é tão bonita: ela foi "criada". A Itália tinha vários dialetos quando dois intelectuais foram designados pelo rei a decidir o que é o italiano. Após muita pesquisa eles escolheram o italiano da obra A Divina Comédia, de Dante Alighieri. O italiano é praticamente uma língua literária! Além dessas pequenas histórias Elizabeth Gilbert dá várias dicas de viagem. Entre elas: leve poucas calças para a Itália porque um dia você vai engordar e ter que comprar outra.

Para quem quiser saber um pouco mais sobre o livro, a própria autora pode responder. Esse link é do seu site oficial (obviamente em inglês) aonde ela responde às 10 questões mais frequentes sobre “Comer, rezar, amar”.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O motorista - Personagens (2)

Com dezesseis anos ele já acompanhava o pai. Foi assim que Wyller Lucas começou a vida de caminhoneiro. Eles iam de uma cidade para a outra, cada parada e cada rodovia com um objetivo: entregar a encomenda no destino certo. Sem encomenda, sem dinheiro.

Sua família era pai mãe e 4 irmãos: duas mulheres e dois homens. Wyller era o mais velho. “Com dezoito anos eu já tirei carteira e meu pai comprou um caminhão pra mim”, conta. E dessa forma ele largou o banco de co-piloto e foi parar na frente do volante. Saiu por aí, foi rodar o Brasil. “De todos os estados só não deu pra ir naqueles lá mais do norte, Amazonas, Acre. Mas conheço o Brasil inteiro”.

Wyller entregava de tudo: janela, madeira, cano, granito pra fazer piso de banheiro. Na estrada ficava tranqüilo. Passava aperto era nas paradas. Ele conta que, antes, as estradas brasileiras não tinham muitos lugares para parar e se alimentar. E essa diferença aumentava de acordo com a região. Ele só garante que “a comida do sul é 10 vezes melhor do que a do norte. Na Bahia, no Maranhão, nesses estados, a gente só come porque não dá pra ficar com fome”.

Mas pergunta só para onde ele mais gostava de ir? “ah, pro norte. O pessoal é mais receptivo, mais alegre”. Quando batia o aperto mesmo, a melhor comida era a que ele mesmo fazia. “Ia pra trás do meu caminhão e pegava o fogaõzinho que a gente deixa lá guardado. Ele tinha um botijão pequeno e lá eu cozinhava”.

Wyller garante que rodar o país não inclui só ganhar dinheiro com as entregas, mas conhecer lugares novos, pessoas novas “e namorar muito também”, se diverte. Entre um namoro e outro conheceu um alguém especial e se casou. No início ela até viajava com ele e já chegou a ficar dois meses fora do estado. Mas com o tempo ele foi parando. Precisavam de estabilidade e aí virou motorista... de carro. “Parei por causa da mulher e dos filhos. Uma hora a gente tem que parar né?”. É Wyller, uma hora a gente tem que parar.

sábado, 15 de agosto de 2009

Os diamantes de Grão Mogol

“Os lixos têm forma de diamante”. Foi a primeira coisa que vi (e falei) quando entrei na cidade de Grão Mogol, na região do Alto Jequitinhonha, em Minas Gerais. Mais tarde, descobri que a pedra está até na bandeira da cidade. Não era mera coincidência, principalmente para um lugar aonde sua história se confunde com a história da exploração comercial de pedras preciosas na região.

De modo resumido, o local já atraia pessoas de todo o país desde o final do século XVIII. Em 1858 ele recebeu a categoria de cidade e até a década de 1960 Grão Mogol era a mais importante região do Norte de Minas, juntamente com Diamantina. Porém, o fim do ciclo de extração de diamantes coincidiu com a emancipação do território de Grão Mogol e a formação de municípios menores.

Daquela época, restam suas construções históricas. E isso é o que mais encanta. Pouco tempo depois de chegar a cidade, é possível ver (além dos lixos em forma de diamantes) a Igreja Matriz de Santo Antônio, construída por escravos no século XIX. Ela é toda feita de pedra. Toda, sem exageros. Não há revestimento, concreto, massa, areia, chiclete, cuspe... nada que faça uma pedra grudar na outra. E ela é incrivelmente bonita. Uma das igrejas mais bonitas que já vi.
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(Foto tirada desse link)

Os outros pontos turísticos são naturais: Tem a Trilha do Barão, caminho de pedras que ligava a casa do Barão ao povoado local, a Lapa da Água Fria, onde turistas e população local podem tomar um banho, o Canyon da Extrema, uma bela paisagem formada por algumas quedas d’água e poços profundos, e algumas várias cachoeiras
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(O Ribeirão do Inferno corta a cidade)

Uma coisa engraçada e que chama a atenção: Grão Mogol está no Vale do Jequitinhonha, mas não é tão quente assim. A culpa é da sua altitude e das montanhas que envolvem o local. De manhã faz calor (e olha que fui no inverno), mas a noite um ou dois casacos caem muito bem.
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Minhas impressões

Passei três dias na cidade com o objetivo de dar um curso de formação de jornalismo para jovens. Foram três longos dias com muito trabalho a fazer e não pude passear muito pela cidade. Mas por isso mesmo consegui perceber alguns aspectos culturais que seriam impossíveis se só tivesse passeado por aí. O primeiro deles é a infra-estrutura, diremos, tecnológica do local. Grão Mogol é uma cidade pequena, com cerca de 15 mil habitantes. Somente esse ano que revestiram de asfalto os 53 km da estrada que chega à cidade. Somente esse ano também que chegou cobertura telefônica da Vivo. A cobertura da Oi está em fase de implantação.

Outro ponto que me chamou a atenção foi como aqueles 15 jovens jovens com quem convivi (principalmente os jovens, pois tive mais contato com eles) gastavam seu tempo. As meninas que fizeram o curso comigo já diziam: "a noite, a única coisa que tem pra fazer é ir no Cê que sabe", uma lanchonete na parte baixa da cidade. Elas disseram também que as vezes tem uma ou outra festa, boate, mas não muito mais do que isso. De dia, quando não estão na escola, vão a casa de alguém se divertir ou conversar.

Parece bobagem, mas como nasci e cresci em Belo Horizonte, uma capital que mesmo não sendo uma São Paulo da vida oferece várias coisas para fazer, é engraçado ver como eles passam o dia. Já fui a cidades menores, mas quase sempre como aquele tipo de turista que fica longe da vida habitual da população. Ver isso tão de perto, conversar com aqueles jovens sobre a vida deles, é diferente. A noção de "meu Deus, o que farei do me futuro também é outra". Grande parte já tinha tomado uma bomba no colégio e a maioria nem pensava em vestibular. Alguns nunca tinham saído da cidade.
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Mas nem pense neles com dó ou algo parecido. Eles têm menos oportunidades e todas essas diferenças, mas, no fundo, são jovens como os outros. Saem, riem, namoram, querem fazer alguma diferença. Adoram computador, apesar de não terem tanta desenvoltura com eles. Sabem mais da história da cidade deles do que muitos belorizontinos por aí. Alguns mais velhos já trabalham, e uma delas até disse: "depois de toda essa experiência estou pensando em fazer jornalismo". Trabalho feito. Bem feito!

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Eu não conheço um lugar


Esse texto foi publicado num dos melhores blogs de viagem que conheço: o Viaje na Viagem, do turista profissional (olha que profissão dos sonhos?) Ricardo Freire. Vale a pena ler!

A melhor maneira de não conhecer um lugar é viajar até ele. De longe você pode estudar um lugar o quanto quiser; de perto você só tem tempo de descobrir o quanto ainda falta para conhecer. Quem viaja a Paris apenas para subir a Torre Eiffel, ver a Mona Lisa e andar de bateau-mouche conhece a sua Paris muito melhor do que quem viaja para conhecer Paris a sério. Se você tem 50 carimbos no seu passaporte, então são 50 países que você não conheceu.


Mas quem disse que é preciso conhecer a fundo um lugar para gostar dele? Segundo os psicanalistas, para conhecer a si mesma uma pessoa precisa de quatro sessões de análise por semana. Não, eu não quero levar viagem nenhuma para o divã. Até porque a parte mais divertida de uma viagem são as conclusões apressadas.

Longe de casa nos sentimos verdadeiros antropólogos autodidatas. Depois de 15 minutos em qualquer lugar já elaboramos as mais complexas teorias sobre a cultura e o comportamento dos nativos. “Os parisienses não carregam mais baguetes debaixo do braço!”, concluímos, depois de extensas pesquisas entre as 3 e as 4 da tarde sentados num café em Saint-Germain.

Uma coisa é certa: os países são mais fáceis de decifrar do que as cidades. Países são masculinos – e, assim como os homens, podem ser classificados em no máximo quatro ou cinco tipos, estanques e previsíveis. Você vai a um país agora, e quando voltar daqui a uns anos ele pode ter enriquecido ou empobrecido, mudado de partido político ou de profissão, mas continuará fundamentalmente o mesmo.

Já as cidades são femininas: misteriosas, multifacetadas, dadas a repentes e fases. Enquanto os países nos recebem com formulários, funcionários públicos e cães farejadores, as cidades nos recebem com um “psiu!”. Algumas se revelam de dia, outras só se entregam à noite. Às vezes uma cidade pode parecer feia – mas normalmente é você que não deu tempo para ela se arrumar. Existem cidades que fazem você virar o pescoço na rua, e outras que só mostram a que vieram entre quatro paredes. Mesmo essas, contudo, dificilmente se deixam conhecer, digamos, biblicamente. Cidades são criaturas difíceis, que preferem ficar o tempo todo fazendo charminho.

Voltar a uma cidade é sempre fascinante, porque você nunca sabe o que pode ter acontecido. Cidades engordam, emagrecem, fazem plástica, engravidam, mudam o penteado, se apaixonam e até se divorciam (da população, quando os eleitores resolvem escolher um mau prefeito). Você pode dar azar e visitar uma cidade em plena crise de auto-estima ou no auge da TPM – tempos depois, ela pode estar de novo radiante e bem-amada. Vá saber…

Depois de muitas viagens, você até pode entender os humores de uma cidade. Mas conhecer, conhecer mesmo – não dá. Nem morando a vida inteira lá, sem arredar pé nem nas férias. Mesmo porque, de fato, a única maneira de conhecer de verdade o lugar em que se vive é viajando. Quanto mais lugares a gente não conhece, melhor a gente conhece o nosso.

* Texto originalmente publicado em outubro de 2003, quando eu publicava a Xongas na Época

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Ensaio fotográfico

Eu disse que a sessão Diamantina ia ter fim no último post. Eu sei, eu sei. Mas disse também, no ínício da viagem, que mais tarde ia postar uma seleção de fotos que tirei no Festival. Assim, peguei as fotos que achei mais interessantes e informativas para colocar aqui.

Mercado Velho e sua praça. Por ser a maior da cidade, é nela que acontece o carnaval.

Ruelas de Diamantina. A direita, o beco da Tecla. A noite, várias pessoas pegavam seus bancos, colocavam na rua, ligavam o rádio e passavam a noite toda conversando. Pela manhã, era o ponto de venda de salgados e doces.

A foto a esquerda foi tirada como consequência do melhor passeio que é possível fazer na cidade: sair andando por aí.













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Antiga Rodoviária, hoje transformada em corpo de bombeiros, e Casa da Glória, da janela da minha sala de trabalho.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Festival de Inverno de Diamantina. Vale?

Sempre que escuto sobre festivais e afins fico na dúvida: o que acontece nesses eventos? São artistas da cidade ou que vieram de fora? Como saber qual festival vale a pena? Assim, para fechar a sessão “Diamantina”, resolvi fazer uma reflexão sobre o Festival de Inverno da cidade.

O primeiro movimento necessário é dar uma olhada no passado. Esse foi o 41º, e pelo que vi não foi dos melhores. Durante meu trabalho tive a oportunidade de sair a campo e conversar com moradores e turistas sobre o impacto do Festival na vida deles e na cidade. Quase todos disseram que o evento caiu drasticamente em todos os sentidos.

Uma moradora disse que no início o Festival durava um mês, depois começou a durar 20 dias, e hoje tem só 15. O número de eventos também caiu. Até o ano passado os artistas “brigavam” por espaço no jornalzinho impresso, pois eram 5 ou 4 matérias por dia e pelo menos 6 espetáculos. Esse ano ninguém ficou sem lugar. Em se tratando de verba então, nem se fala. Os coordenadores do Festival mostraram o tempo todo a dificuldade de conseguir patrocínio para realizar o evento. E sem verba tudo diminui. A principal atividade do evento esse ano, inclusive, foi um seminário que durou 2 dias e trazia para a roda dúvidas sobre como manter esse tipo de Festival e a cultura do patrocínio.

De toda forma, ele ainda e ótimo (e não estou ganhando nada pra falar isso, acreditem). O Festival de Diamantina é um dos mais antigos e maiores do estado. Foi ele que inaugurou esse formato – hoje tão comum – que traz, entre diversas características, duas que podem ser destacadas: oficinas para as pessoas se aprofundarem nas temáticas de sua escolha, como teatro, fotografia e vídeo, e uma série de espetáculos de rua e de palco de forma que o evento se transforma quase em um festival de cultura.

Os espetáculos do evento são muitos e de altíssimo nível. E uma curiosidade interessante: os grupos Corpo e Galpão, hoje internacionalmente conhecidos, começaram no Festival, há muitos anos atrás.

E mesmo que não seja tanto quanto nos anos anteriores, o Festival ainda movimenta – e muito – a cidade. Pousadas cheias, pontos turísticos movimentados e ruas acessas. Os comerciantes da cidade não tem do que reclamar, pois a renda sempre aumenta. Um vendedor me disse que o Festival ainda perde em quantidade de pessoas para dois outros eventos: o Carnaval e a Semana Santa, mas ainda assim é dinheiro entrando.

Se fosse para dar o veredicto final, eu diria que vale muito a pena. Por mais que a falta de investimentos e patrocínio atrapalhem, o Festival ainda é um dos melhores e mais interessantes Festivais de Inverno do estado e do país. Se possível, não só assista aos espetáculos a noite, mas encontre uma oficina do seu agrado e participe. Uma amiga minha fez uma oficina de teatro que diz ter sido excelente. E se estiver lá aproveite: visite a cidade, que é linda.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Nas quedas da cachoeira de BiriBiri

No último dia de viagem, resolvemos trocar as ruas de pedra de Diamantina pela Cachoeira dos Cristais, em BiriBiri. Para resumir; estávamos cansados de trabalhar, cansados de subir ladeira e loucos para matar o calor. Além de encantados com todos os elogios que as pessoas faziam às cachoeiras da região.

A maior dificuldade foi encontrar um meio de transporte. Pensamos em um ônibus intermunicipal, mas não há nenhum tipo de transporte coletivo para lá. Depois procuramos um táxi, que também trouxe problemas. Financeiros, claro. O mais barato que conseguimos negociar foi 100 reais (25 por pessoas) entre 14h e 18h. No fim, optamos por uma van que ficaria a nossa disposição das 11h às 16h. O preço (250 reais) seria dividido entre 15 pessoas. Ou seja: ir de Diamantina a Biri Biri é bem difícil caso você esteja com um grupo pequeno ou sem dinheiro.


Grupo reunido e van parada na porta da Casa da Glória, pegamos a estrada (de terra). Em 30 minutos o carro chegou ao seu destino. O resto do percurso teria que ser feito a pé. O trajeto é muito bonito, com uma paisagem que mistura a aridez do Vale do Jequitinhonha ao Cerrado mineiro. Com cerca de 40 minutos de caminhada leve chegamos à placa “cachoeira dos cristais”. Depois da placa uma ponte de madeira. Aí são 2 minutos para avistar as lindas quedas d’água.

(Nos brindaram com um dia de sol e lua no céu)

A cachoeira não é grande e nem funda, mas por isso mesmo é ótima para nadar. E é muito bonita também. O nome Cachoeira dos Cristais se deve a abundância dessa pedra na região. É possível encontrar várias pelo caminho, de todo tamanho. Alguns dizem que o nome se deve também às suas águas cristalinas.

Demorei a mergulhar. Estava muito gelada. Tão gelada que minha perna não ficou simplesmente dormente: ela doía. Mas alguns foram mais corajosos e pularam sem dó. Depois de um tempo, enfim, caí na água. A cachoeira tinha dois “compartimentos”. Primeiro vinham essas duas quedas que aparecem na foto. Depois vinha mais uma pequena queda (foto abaixo). Foi nessa outra parte que, sentada em um pedra, coloquei a cabeça e os ombros embaixo da enchurrada d’água “para espantar o mau olhado”, como me disseram.

Ficamos um bom tempo sentados, conversando, aos comentários de "a única coisa que ta faltando é um cerveja gelada". Mas era mentira, pois não estava faltando nada. Os mais aventureiros passaram o tempo andando pelas pedras. Pra quem se arrisca, dá pra subir até o alto da queda. Na volta, às 14h30, o mesmo sol forte no caminho. E aí sentimos a pele arder mesmo. Hoje já estou descascando (e olha que passei filtro solar).

A próxima parada era o vilarejo de BiriBiri, com sua grande população... de três famílias. O lugar é bem pequeno mesmo, mas bem agradável. A cidade é um distrito de Diamantina e foi fundada em 1870, quando o então Bispo de Diamantina Dom João Antonio Felício dos Santos resolveu fundar uma fábrica de tecidos. Em 1973 a fábrica parou de funcionar por problemas econômicos.

Entre as contruções locais estão a antiga fábrica, algumas casas e a única lanchonete que estava aberta naquele horário. Pedimos refrigerantes, cerveja e queijo no palito. O motorista que nos levou até lá disse que algumas casas estão sendo reformadas para dar espaço a bares e talvez um museu, que ainda não é certo. De modo geral, a cidade(zinha) não tem muito para se ver. A construção mais bonita do local é a igreja de 1890, com coqueiros em volta. Uma tarde no local é o suficiente. Mas para quem quer ficar longe da agitação, voltar lá é uma boa pedida.