terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Hospedagem inusitada

Há muitas formas de fazer uma viagem diferente. Uma delas é escolher um destino turístico que naquele fim de semana celebra alguma festa típica ou recebe algum festival. Outra é procurar pessoas que moram naquele lugar para te apresentar a cidade e mostrar, ao jeito -nativo-de-ser, os costumes e a cultura de um lugar. Muitas pessoas, porém, decidem se hospedar em hotéis inusitados.

(Proprietário da Villa Hamster mostrando como desfrutar das acomodações do hotel. Foto tirada desse link)

Tive contato com essa excêntrica forma de viajar quando descobri que em Nantes, cidade na região oeste da França, tinha um hotel em que as pessoas pagavam para serem ratos. O local se chama Villa Ramster e é todo decorado para isso. Nos quartos ois hóspedes encontram ração, feno, roda para fazer exercício e até uma fantasia, para quem quiser se sentir... mais a vontade. À época a diária custava 99 euros e estava fazendo tanto sucesso que o proprietário queria expandir o negócio e fazer hotéis para seres humanos que quisessem se tornar gatos ou cachorros.

Bizarro? Sem dúvida. Mas se analisarmos bem o dono não tem nada de louco. Afinal, se tem gente que procura esse tipo de serviço ele está mais que certo em investir. E é pensando nesse tipo de público - não necessariamente o público que gosta de se fantasiar de hamster - que os investidores vêm criando hotéis com design e propostas diferenciadas.

Uma das mais peculiares que já vi foi a hospedagem de luxo em um guindaste de cais. O local se chama Dockside Crane Hotel e fica na cidade de Harlingen, na Holanda. Como o quarto é único e super exclusivo, os casais pagam a bagatela de U$ 415 por dia. O acesso ao quarto é feito por meio de elevadores e uma escada liga o quarto à cabine de comando.

(O guindaste-hotel e o quarto principal ao lado. O local tem filas de espera de até oito meses. Fotos tiradas desse link)

Quem não se sentir muito confortável pode trocar a hospedagem no guindaste por uma noite em um avião. A 150 quilômetros dali, na cidade de Teuge, um Ilyushin 18, avião de design soviético construído em 1960, foi transformado em suíte de luxo. Com U$ 455 por dia, o casal pode desfrutar dos diversos cômodos que a cabine de 40 metros de comprimento oferece. O Airplane Suite oferece uma enorme TV de tela plana com coleção de DVD's, internet wi-fi, mini bar, sauna e jacuzzi. O avião não decola, mas os hóspedes podem encomendar voos especiais com direito a acrobacias no ar ou mesmo salto de paraquedas.

(O corredor de 40 metros mostrando a banheira e, ao fundo, o quarto. No aeroporto de Estocolmo, na Suíça, também há um Jumbo que faz as vezes de hotel. Fotos tiradas desse link)

Para quem gosta de arte nada melhor do que Propeller Island City Lodge, em Berlim, capital alemã. Cada quarto apresenta um conceito e é montado com o objetivo provocar uma experiência nova ao visitante. As propostas estéticas são realmente irreverentes. No quarto Upside Down, azulejos coloridos e cadeiras grudadas de cabeça pra baixo fazem o teto parecer chão. No Freedom, privada branca, buraco na parede e cama suspensa por cabos de ferro fazem o hóspede se sentir em uma cadeia. O Two Lyons tem jaulas de animais, o Grufts tem camas em formato de caixão e por aí vai. O preço varia de acordo com o quarto escolhido.

(Os quartos Upside Down e Freedom. Fotos tiradas desse link)

Se o tema for literatura, a ideia então é ficar no Library Hotel, em Nova Iorque. Os livros estão nas salas, no restaurante, nos quartos e, claro, na sala de leitura aberta 24 horas. Cada um dos dez andares apresenta livros de um tema, como Artes, Ciências, Conhecimentos Gerais, Filosofia e Religião. O preço é de U$ 220 por dia para o casal.

(Livros por todos os lugares. Foto tirada desse link)

Ao invés do aconchego de uma livraria, o turista pode escolher a rigidez de um palácio de gelo. O Ice Hotel, na impronunciável Jukkasjärvi, cidade suíça próxima ao círculo polar ártico, é um hotel feito inteiramente de gelo. E inteiramente significa tudo, desde as paredes aos lustres, passando pelas camas e pelos copos do bar. Os preços variam de acordo com a acomodação e a época do ano, mesmo assim são bastante salgados. Afinal, é um hotel é temporário. No verão europeu o gelo vira água e, quando o inverno começa, um designer é chamado para desenhar e construir novamente o Ice Hotel.

(A simples entrada do Ice Hotel esconde as belezas do seu interior. E pra quem acha que lá dentro é frio, a temperatura é quase sempre melhor que do lado de fora. Fotos tiradas desse e desse link)

A Bolívia também oferece um hotel parecido, mas ao invés de gelo, ele é feito de sal. O Palácio de Sal, localizada no Salar de Uyuni, a maior planície salgada do mundo. Paredes, tetos e grande parte do mobiliário do hotel é feito da substância. O local apresenta salão de jogos, campo de golfe, piscina, spa e conta com 16 cômodos que se assemelham a iglus salgados. O preço da diária varia de U$ 100 a U$ 135 de acordo com o quarto escolhido.

(O sal está por todas as partes, menos nas almofadas. Foto tirada desse link)

Para quem acha que o ramo hoteleiro não está peculiar o suficiente, há boas novidades. Em 2010 profissionais de diversos ramos começaram a construção do Poseidon Undersea Resort, um hotel de luxo embaixo d'água nas ilhas Fiji. Mais especificamente 12 metros embaixo d'água. O local vai contar com sete bares e seis restaurantes, entres eles o maior restaurante embaixo submerso do mundo, um mini shopping, boutiques e centro de esportes aquáticos. A inauguração do Poseidon está prevista para o ano de 2012.

(Perspectiva de como serão as cápsulas/quartos do hotel. Foto tirada desse link)

Independente da estética ou do propósito, o que todos esses hotéis mostram é que existe um público que busca uma experiência de viagem diferenciada. Para eles não basta fazer pequenos passeios inusitados ao longo dos diversos dias de estadia em uma cidade. É preciso mergulhar de cabeça em algo que lhes faça sair do roteiro comum. Muitos podem desfrutar de suas hospedagens como se fosse mais um hotel de luxo qualquer. Mas se eles realmente resolverem vivenciar a experiência a fundo, imaginando como deve ser a vida de pessoas que vivem constantemente em temperaturas negativas ou buscar entender o que leva um designer a propor um hotel para pessoas se fantasiarem de hamsters, o passeio com certeza será mais interessante.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A favor do imprevisível

Toda viagem é um sonho. Sonhos devem ser perfeitos. Logo, uma viagem deve ser perfeita. Não é por menos que os futuros viajantes passam horas lendo guias de viagem, procurando resenhas em sites especializados e pedindo dicas para os amigos. Quando não conseguem fazer tudo sozinhos ou não têm tempo para isso, contratam uma excursão que saiba fazer daquele passeio uma viagem dos sonhos. Ou seja, perfeita. Mas alguma coisa sempre dá errado. E existem situações nas quais o mais comum é não dar certo. É sobre essas situações que Moacyr Scliar fala no livro Dicionário do Viajante Insólito.

(Foto tirada desse link)

Como o próprio nome diz, o livro é organizado em forma de dicionário. A de aeroporto, B de briga, C de cemitério e por aí vai. Quem lê todo o índice antes de começar acaba ficando intrigado com algumas letras, como K de kafka e Q de quando. Mas com um tempo é fácil perceber que qualquer coisa é motivo para o autor trazer indagações (e piadas) sobre o ato de viajar.

E isso acontece por dois motivos. Em primeiro lugar porque o livro é um dicionário. Com qual palavra ele ia preencher o Z? Eis então que ele conta a história do filho de um amigo que pediu uma Zebra para o pai que estava indo para a África do Sul. O autor poderia ter usado o mesmo texto para o E de Encomenda ou B de Bagagem... mas precisava de um Z. Nada mais justo.

Em segundo lugar porque ele já viajou muito. Nascido em Porto Alegre, Moacyr Scliar já morou em países como Israel e Estados Unidos e já visitou uma série de outros lugares, a trabalho e a lazer. O que não lhe falta são histórias, lembranças e casos de viagens para escrever - todos de forma bastante irônica e bem-humorada, claro.

Já na primeira crônica percebe-se que a ideia do autor é unir suas experiências pessoais às suas indagações sobre viagens. Ele quer, principalmente, que o leitor reflita. Por que viajar? Por que sair de casa para ver aquilo que eu já posso ver nos livros e filmes? Se o que mais se quer é ver uma coisa porque então as pessoas não aproveitam a paisagem ao invés de ficar disparando flashes para todos os lados? E, principalmente: por que esperar uma viagem perfeita se ela provavelmente não o será? As melhores surpresas não estão exatamente em viver o não programado?

("Ver, é o que o turista sobretudo deseja. Ver tal ou qual paisagem, tal ou qual museu, tal ou qual igreja. O turista é um grande e guloso olho que viaja pelo mundo. Um olho que não confia em si mesmo, daí a máquina fotográfica e a câmera de vídeo sempre a tiracolo" - no capítulo V de ver)

A verdade é que todo turista quer descobrir o desconhecido para contar aos amigos, mostrando assim como ele é desprendido, intuitivo e interessante. Enfim, um aventureiro nato. Mas todo turista quer também conhecer o que já foi descoberto. Afinal, você precisa contar aos amigos que já esteve lá. Ou você acha que eles gostariam mais de ouvir sobre a estátua que você descobriu há 10 quilômetros do centro de Paris ou sobre a grandiosidade da Torre Eiffel?

Para a eterna dúvida "planejar ou se deixar levar" não há resposta. E nem ser humano que fuja à tentação.  Em diversos momentos o próprio autor conta sobre igrejas, museus e livrarias que estão no roteiro por serem lindas mas também por serem clichês. Locais que, logicamente, ele já tinha ido. Moacyr Scliar também é um viajante insólito. Mas com um pouco mais de bom humor.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Dia de praia em Salvador

Com um céu sem nuvens e um sol de mais de 30 graus, era quase impossível ver o mar e não se imaginar dentro dele. Foi por isso que no nosso último dia na capital baiana resolvemos não pensar em nada que não incluísse a tríade sol, sombra, mar e água fresca - e, claro, tudo o que vem nas suas entrelinhas, como água de coco, peixe frito, natureza, surf music, etc.

(Em dia de praia eu fico quase como essa criança prestes a pular no mar)

As melhores praias de Salvador são as praias do norte. Em primeiro lugar, são menos poluídas e todas próprias para banho. Em segundo lugar, têm menos movimento e são mais agradáveis. A luta por um espaço de areia para fincar o seu guarda sol se torna menos cansativa. Em terceiro lugar, a praia do Flamengo é uma das únicas (senão a única) na qual os proprietários conseguiram se adaptar ao pedido do Ministério Público Federal e manter barracas de praia de acordo com a lei. Para nós, reles turistas sem os aparatos necessários, era necessário encontrar um local com sombra.

Saímos de Ondina por volta das 9h e chegamos a praia do Flamengo uma hora depois. Mais especificamente à Barraca do Lôro, um espaço grande e muito bonito que, em certos momentos me lembrou as barracas de Jurerê Internacional em Florianópolis por causa das suas cadeiras e mesas de madeira, seus sofás acolchoados e suas cortinas esvoaçantes. Devidas as proporções, a Barraca do Lôro é super confortável e passamos o dia lá olhando para o nada e comendo peixe.


(Charme e tranquilidade na Barraca do Lôro. Segunda foto tirada desse link)

A praia também é linda. O mar é azul claro e tem ótimas ondas. Inclusive, é um ponto procurado por surfistas e por praticantes de outros esportes como kitesurf. Para quem já está dentro do mar, vale a pena se virar de costas para ele e dar uma olhada na praia. Os coqueiros cobrem toda a orla, menos nos pontos em que a paisagem é tomada pelos guarda-sóis coloridos.

Legado musical

Depois de uma dia manso, fomos para a praia de itapuã ver o visual que há anos encantou Toquinho e Vinícius de Moraes, autores da conhecidíssima Tarde em Itapuã. Entoando a música na minha cabeça, esperei ver a praia que os versos cantavam... mas admito que a única coisa que pensei foi em como ela devia ser mais bonita na época deles. A praia em si ainda é muito bonita e o farol, pintado em listras vermelhas e brancas, é o charme do local. Mas a entrada à praia está bem deteriorada e o lixo no local é imenso. Além disso, o som do axé que invade a faixa costeira não combinava em nada com a paisagem local.

(Passar uma tarde em Itapuã ainda é bom?)

A fama da praia se confunde com a do mestre Vinícius de Moraes, um dos maiores compositores da música brasileira. Apesar de morar no Rio de Janeiro, Vinícius tinha uma casa em Itapuã onde se refugiava. é por isso que ali perto o governo construiu uma praça em sua homenagem. Além de ter a estátua em tamanho real mais famosa do compositor, os seus poemas mais famosos estão gravados em placas de metal e presos ao muro da praça para quem quiser apreciar.

(Conversando com o poeta e tentando descobrir como era Itapuã quando ele morava por lá)

Papo noturno

Saímos todas as noites a lugares diferentes. No primeiro dia fomos a um dos famosos bares Habeas Copos. O primeiro foi criado no Pelourinho á época da ditadura militar e era frequentado por diversos artistas. O nome vinha do pensamento questionador do proprietário, que dizia que "já que os corpos não podem ser livre, que ao menos sejam os copos".

(Proposta libertária - e um frango frito delicioso!)

No segundo dia fomos ao São Jorge Botequim, no quarteirão mais boêmio da cidade, Rio Vermelho. O local e famoso pelos shows. A programação é extensa e tem gente de todo o canto, mas o carro chefe é o samba. Naquele dia, o preço por pessoa era de 20 reais. Mas como só íamos comer, ficamos do lado de fora. Um esquema engraçado pois todos ali continuavam escutando a (boa) música que saía lá de dentro.

E no último dia, fomos a um restaurante na praia da Barra para comer caranguejo, prato famoso na capital baiana. Mas como caranguejo não é comida, é diversão (da carne mesmo se aproveita pouco) pedimos peixe ao molho de camarão também.

(Na pracinha de Rio Vermelho)

Todos os dias, caminhamos um pouco antes de voltar pro hotel, sentindo a maresia de Salvador. Não sou uma pessoa que se importa com isso. Nem com seu cheiro nem com a sensação que ela deixa na pele. Ao contrário, acho que a maresia é uma forma de não me esquecer que estou na praia quando é noite, quando não tem sol e quando não dá pra ver o mar. Voltava todos os dias para o hotel lembrando que amanhã era dia de ver o mar. No último, lembrei que não seria assim, mas com a certeza de ter aproveitado a viagem. 

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Arquitetura mista

Falar de Salvador é falar de história. É falar de faróis, casas antigas e igrejas barrocas. Mas nem só de antiguidade vive a capital baiana. Há menos de 200 metros da Praça da Sé, onde estão importantes igrejas e monumentos do período colonial brasileiro, como a Catedral Basílica Primacial de Salvador e as peças do Museu da Misericórdia, é possível encontrar construções recentes.

(O Palácio se mistura aos antigos monumentos baianos sem tirar o charme do conjunto. Aliás, muito pelo contrário)

O primeiro edifício a chamar atenção é o Palácio Rio Branco que, na verdade, começou a ser construído em meados do século XVI para ser como centro administrativo da coroa portuguesa e recebeu diversas alterações e ampliações com o tempo. Desde então o local foi serviu como quartel, prisão e espaço para receber importantes personalidades da política, como aconteceu em 1859 quando Dom Pedro II visitou a Bahia.

Já no século XIX, a antiga fachada em estilo colonial parecia ultrapassada, principalmente para um país que estava prestes a se tornar República. O edifício então passou por uma grande reforma até ser novamente inaugurado em 1900. As paredes com símbolos coloniais passaram a exibir um estilo neoclássico imponente. O que ninguém imaginava é que doze anos depois elas seriam praticamente destruídas. A luta de poder entre as oligarquias de Salvador foi responsável por um bombardeio que deixou severas marcas na cidade e, principalmente, no Palácio, que teve de ser totalmente reconstruído. Ele ficou pronto em 1919, quando então recebeu o nome de "Rio Branco".

(Gabinete Português de Leitura com o antigo Palácio Rio Branco - já em estilo neoclássico - ao fundo. Foto tirada desse link)

Felizmente, ao contrário do que acontece com muitos monumentos na cidade, o edifício passou por uma grande restauração em 1984 devido ao péssimo estado de conservação em que se encontrava. Em baixo daquele calor de quase 40 graus, o Palácio Rio Branco estava lindo - e branco - para que moradores e turistas como eu pudessem desfrutar a paisagem.

Na mesma praça, mais duas construções peculiares. Uma delas era a escultura de uma cruz caída feita pelo importante artista modernista Mário da Silva Cravo, encomendada pelo governo no ano de 1999 em comemoração aos 450 anos da fundação da cidade. A escultura, que se chama exatamente "cruz caída" faz referência a demolição da Igreja da Sé para a reforma da praça que passaria a abrigar o terminal de bondes da cidade. Hoje, na falta de bonde, o espaço de transformou em terminal rodoviário.

(A mim, por mais que tenha sido encomendado pelo governo, é um sinal claro de protesto contra a demolição da igreja)

A outra construção, de tão peculiar, se transformou em um dos pontos turísticos mais famosos da capital baiana: o Elevador Lacerda. O equipamento foi construído para facilitar a locomoção dos moradores entre a Cidade Alta e a Cidade Baixa. Inaugurado em 1873, o elevador tem 72 metros de altura e uma vista linda da cidade.

Eu pensei que a vista ia durar toda a viagem, por mais que a viagem vertical entre um ponto e outro da cidade fosse curta... mas foi aí que eu me enganei. Um esclarecimento aos desavi-sados: o elevador NÃO é panorâmico. Por que eu pensei que fosse? As vezes porque a parte de cima é toda aberta, as vezes porque eu pensei que qualquer arqui-teto, frente a uma paisagem como essa, fosse pensar em trocar cimento por vidro. Fato é que a viagem é curta e sem emoção. Eu me senti, literalmente, dentro de um elevador de prédio residencial.

(Vista para a Baía de todos os Santos e para o prédio do 2º Distrito Naval da Marinha do Brasil)

Quando cheguei lá embaixo entendi porque as pessoas dividem a capital entre cidade alta e baixa. É realmente outra cidade. Se em cima reinava a história, o turismo, o artesanato, a culturas popular, a gastronomia típica, embaixo reina o comércio, a cidade de serviços caóticos e de trabalho duro. Tive vontade de sair caminhando simplesmente para me misturar, para fugir dos olhos preconceituosos dos homens e mulheres de sapato olhando para os meus pés e meus óculos escuros de turista. Sem contar os olhos dos comerciantes que, ao verem os mesmo trajes turísticos, se aproximavam oferecendo os mais distintos objetos.

(Comida, artesanato e lembranças da Bahia)

Mas desses eu não conseguiria me esquivar, pois acabei entrando exatamente no espaço comercial por excelência. O Mercado Modelo foi inaugurado em 1912 devido a necessidade de um espaço de abastecimento para a Cidade Baixa. O local não foi atingido pelo bombardeio, mas sofreu um enorme incêndio em 1969 que o deixou em ruínas. Dois anos depois os comerciantes passaram a ocupar o edifício da 3ª Alfândega de Salvador com o aval do governo, um prédio em estilo neoclássico tombado pelo como Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Hoje, o galpão abriga 263 lojas que oferecem artesanato, comida típica e lembrancinhas de todos os tipos.

Quando chegamos lá dentro estava tudo escuro e abafado. Pensamos ser assim e começamos a andar. Burburinho nos corredores. Pensamos em perguntar mas já estávamos sendo atacados pelos comerciantes e a pergunta só ia aumentar o assédio. Mas um deles falou "vocês deram azar porque faz uma hora que estamos sem luz...". O calor estava mesmo insuportável. Saí sem muito pesar pois, na verdade, não vi nada por ali que me parecesse uma obra prima. O Mercado padecia do mesmo mal de tantos outros locais que buscam reunir artistas da região. O turista busca souvenir, o comerciante faz souvenir. E assim a arte se perde.

(Uma das lojinhas mais originais do Mercado Modelo)

Então melhor terminar o dia com algo realmente típico de Salvador: história. Para aproveitar os últimos raios de sol fomos até o Forte Nossa Senhora de Monte Serrat. Apesar de ter sido construído em 1742, ele apresenta bom estado de conservação e, o mais importante, um belo visual do mar azul.

(Casal simpático aprecia a paisagem)

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O início da história do Brasil

Salvador não tem as praias mais bonitas, o centro comercial mais moderno e nem a noite mais badalada. Salvador tem história. Mesmo que você não saiba as datas mais importantes da cidade ou onde exatamente foi fincada a primeira cruz portuguesa, não tem como fugir aos seus mais quinhentos anos de história. Algo pequeno se comparado às milenares cidades europeias e asiáticas, mas com um imenso valor para quem vive do outro lado do oceano Atlântico.

(Igreja do Carmo, no alto erguida em 1636)

A capital baiana é uma das mais antigas e mais importantes cidades da história do Brasil. Os primeiros relatos de sua descoberta datam de 1510, quando um navio francês naufragou perto da sua costa. Quase 40 anos mais tarde chegaram seis embarcações enviadas pelo rei de Portugal com o objetivo de instalar ali uma cidade-fortaleza com o nome de São Salvador. E assim o fizeram: antes mesmo de se tornar província, Salvador se tornava capital. A cidade seguiu como sede do governo brasileiro até o ano de 1763, quando Rio de Janeiro assumiu o posto.

Mas nem por isso Salvador perdeu a relevância no cenário nacional, sendo palco de diversas revoltas e acontecimentos marcantes ao longo dos anos. Hoje, a cidade é conhecida por ser o centro econômico e administrativo do estado, por guardar um dos maiores carnavais do país - no qual mais de 3 mil foliões empolgados seguem os trios elétricos pelas ruas todos os anos - e, como não podia deixar de ser, pela sua história.

(Fonte da Praça da Sé com a Igreja da Ordem Terceira de São Domingos de Gusmão ao fundo)

Traços do passado

Quando em 1549 aquela faixa de terra se transformou em capital, o primeiro-governador geral do Brasil, Tomé de Souza, quis que a cidade fosse construída no alto de uma escarpa, protegida dos ataques de possíveis invasores. A vida local girava em torno do atual é o Centro Histórico. Hoje é fácil (e duro) perceber que a estratégia de Tomé de Souza não favoreceu os turistas menos em forma, que tem de subir e descer boas ladeiras para conhecer as construções centenárias da região. Em compensação, os morros foram dotados de diversas casinhas que, de camada em camada, premiam a todos com um belo visual.

A minha viagem no tempo começou na Praça da Sé, onde está a Catedral Basílica Primacial de São Salvador. Construída ainda no século XVI para ser o templo do colégio jesuíta, é a igreja mãe das igrejas eclesiásticas da cidade por ser a cátedra do Arcebispo metropolitano. É uma das obras mais relevantes do centro histórico por sua importância e majestade. Toda sua fachada e interior foram feitos em mármore de Lioz, trazido diretamente de Portugal. Os altares laterais e também o do centro são revestidos em palha de ouro e as telas sacras pintadas por diversos artistas.

(Fachada de mármore da Catedral de Salvador)

E a sacristia só não parece fazer parte da igreja pela formato. Se fosse mais alta e tivesse ao menos um altar eu podia jurar que ela era parte da Catedral tamanha riqueza. Esculturas, azulejos portugueses, móveis de jacarandá e obras de arte preenchendo cada buraco, do chão ao teto.

Pouco mais a frente estava um dos pontos mais bonitos da cidade. A praça que dá vista à Igreja de São Francisco é muito bem preservada. O conjunto de casas históricas em estilo colonial dali parece novo em folha. E as lojas ao redor aproveitam o espaço exclusivo de pedestres para colocar cadeiras de madeira e guarda-sóis.

(Posso estar errada, mas me pareceu o ponto mais bem cuidado da cidade)

Mas o ponto alto é mesmo a igreja de São Francisco. O edifício foi indicado às 7 Maravilhas do Brasil e foi classificada em 2009 como uma das 7 Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo (ok, hoje em dia tem sete maravilhas pra qualquer coisa). De fato, quando falava que ia viajar para Salvador esse era um dos pontos turísticos que todos repetiam. Imaginava encontrar algo semelhante ao que se vê em Ouro Preto, afinal, ali estão algumas das igrejas mais ricas do Brasil. Mas esqueci que aquela É a igreja mais rica do Brasil.

A quantidade de ouro que tem ali dentro é impressionante. Todas as superfícies da igreja são revestidas a ouro, com figuras de anjos, pássaros e flores que com certeza fazem parte de um dos conjuntos barrocos mais bonitos do país. Ao lado da igreja está um convento, do qual os turistas só podem visitar o pátio. Uma série de colunas sustentam os arcos do espaço, rodeado por painéis de azulejos que procuram passar lições aos fiéis sobre boas condutos através de imagens e frases em francês.

(Nenhuma foto é capaz de mostrar a riqueza do local. É o tipo de ponto turístico que só conhecendo para entender)

(Imagem do pátio do Convento franciscano com vistas às torres da igreja)

Dali partimos para uma caminhada sem rumo pelo Pelourinho. Para quem não sabe, pelourinho é o nome do mastro aonde os escravos eram açoitados quando seus patrões acreditavam que estes não cumpriam com seus deveres. E para que a vergonha fosse ainda maior, eles eram chicoteados em praça pública. Um verdade cruel que Salvador vivia dia a dia...

Foi nesse passeio despretensioso que vi algumas das belas paisagens que encontrava nos cartões-postais das lojinhas de souvenirs. Também foi aí que me deparei com algumas das memórias mais feias que tenho da cidade, como igreja de Santa Bárbara, cenário do filme Pagador de Promessas, obra célebre de Dias Gomes. O desprezo do governo com seus monumentos históricos é tanto que a igreja se encontra em um estado de quase-morte: o branco deu lugar ao preto, as ervas daninhas crescem em todos os lugares (inclusive no alto das torres) e pedaços da parede parecem ter caído.

(As coloridas casas do Pelourinho parecem criar camadas nos morros da região. No alto, a igreja de Santa Bárbara preta de sujeira)

Foi ali também que conheci o cotidiano do povo soteropolitano. Ou, pelo menos, dos esforçados trabalhadores das ladeiras da Bahia. Gente que sobe e desce morro carregando pacotes pesados, carrinhos de fruta, quadros pintados a mão. Homens que metem a mão na massa para fazer acarajé aos esfomeados e mulheres que se vestem de baiana para atrair a atenção dos turistas embaixo de um calor de mais de 30 graus. Isso me fez lembrar que no fim desse dia eu fiquei espantada com o número de igrejas da cidade. E quando descobri o número exato fiquei ainda mais chocada. Dizem que há 365 igrejas em Salvador, uma para cada dia do ano. Alguns falam em mais, outros dizem que são menos. Mas a verdade que para um povo assim é preciso mesmo ter muita fé.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A nova paisagem da costa de Salvador

Cheguei a Salvador sem nenhuma expectativa. Como contei no post passado, sempre escutei que a cidade era feia, suja e abusiva. Em certos pontos, concordo com o abusiva, principalmente ao notar que os taxistas só andam com a bandeira 2 e encontram as desculpas mais absurdas para isso, como "já passou das 18h", "hoje é fim de semana" ou simplesmente "estamos em alta temporada". De resto, Salvador é uma cidade bonita.

(Vista de Salvador da praia de Piatã. Uma das belas! Foto tirada desse link)

O primeiro dia na capital baiana foi de belas paisagens, exatamente o que eu precisava para acabar com os meus preconceitos. Do aeroporto ao hotel, vi bairros muito bonitos, ruas arborizadas e prédios enormes varandas, daqueles que só têm nas cidades beira-mar. Em compensação, passando pela orla das praias  concordei com as constatações dos internautas que diziam que as praias urbanas de Salvador não são lá muito bonitas. Realmente, são simples, até demais para quem está acostumado a ver belas fotos do litoral brasileiro. E muitas delas são também impróprias para o banho.

O bairro de Ondina, onde fiquei, seguia a regra da simplicidade. Praia normal, areia normal, vegetação normal. Não quer dizer que o local era feio, tampouco bonito. Agradável talvez seja a palavra certa. É uma daquelas praias em que se leva a família em um dia de domingo para aproveitar o sol forte, as boas ondas e também as piscinas naturais que se formam perto dos recifes. E era exatamente o que se via por ali.

(Onda pra quem gosta de surf e piscinas naturais pra quem nem sabe nadar)

Coloquei uma roupa fresca e desci para aproveitar o resto do dia. Procuramos uma barraca próxima à praia. Um quiosque, uma tenda, qualquer coisa. Não tinha. Na areia só cadeiras de plástico e guarda-sóis. As barracas ou lanchonetes estavam todas no calçadão. Uma imagem rara de se ver, principalmente na Bahia, famosa por suas barracas de praia.

Derrubando tudo

Em agosto de 2010, as 349 barracas da orla de Salvador foram derrubadas pelo governo. O pedido veio do Ministério Público Federal ainda no ano de 2007, a partir da premissa de que a área ocupada por essas construções pertenciam à União. De fato, segundo a Linha de Preamar, estabelecida em 1831, toda faixa de areia de 33 metros a partir da água é patrimônio nacional. A prefeitura conseguiu suspender a decisão até julho de 2009, quando desistiu do recurso. Um ano depois, os soteropolitanos viram tratores e mais tratores passar por cima das construções - e dos protestos dos comerciantes ao longo de toda a cidade. Megafones, passeatas e até pessoas acorrentadas aos seus estabelecimentos imploravam para que eles não fossem removidos. Não funcionou.

(Trator fazendo o seu trabalho. Foto tirada desse link)

Quando pegamos ônibus, escutei um grupo de cinco homens conversar sobre isso. Diziam que, no fundo, ninguém acreditava que aquilo ia acontecer. As barraca de praia, das menores as maiores, são um símbolo das praias brasileiras. Empregavam milhões de pessoas e movimentavam outros milhões de reais. A lei estabelecida há dois séculos atrás nunca tinha sido verdadeiramente fiscalizada. Por que agora?

Mas aconteceu. Nos primeiros meses, os turistas que iam a Salvador em busca de música alta, cerveja gelada e garçons servindo camarão a beira-mar saíam decepcionados. O máximo que conseguiam encontrar era ambulantes ou pontos de venda improvisados. Em compensação, quem esperava as férias para ter sossego e belas paisagens voltou a colocar Salvador no mapa. De uma forma ou de outra, o cenário praiano mudou.

(Escombros na praia de Patamares. Foto tirada desse link)

O grupo de amigos seguia falando de alguns parentes que ficaram desempregados com a derrubada das barracas. Mas então, concordaram de forma unânime: Apesar de tudo, acho que o governo fez o mais correto. As praias estavam mais limpas e tranquilas, os banhistas tinham mais espaço para curtir o sol e era possível ver o litoral mesmo do outro lado da avenida - algo inimaginável quando as barracas tapavam toda a paisagem. Também concordei. Passado o alvoroço, turistas e cidadãos ganharam praias mais bonitas. E a cidade ganhou novos projetos urbanísticos para revitalizar o litoral e receber os visitantes respeitando os 33 metros de areia pertencentes à União.

(Para vocês terem ideia, o titulo do post aonde tirei essa foto era "a descoberta da orla marítima". Foto tirada desse link)

Agora, o governo quer estender a medida a outras cidades e estados. Os boatos sugerem que a próxima cidade a passar pela "reforma urbana" é Porto Seguro, paraíso das barracas de praia. Na minha opinião, vai ser ainda mais difícil pois turismo de Porto Seguro é sustentado pelo entretenimento que seus estabelecimentos oferecem. Mas pelo que vi em Salvador, não duvido de mais nada.

Reflexo no mar

No fim da tarde fomos visitar o Forte de Santo Antônio da Barra, o ponto mais turístico da capital baiana. Ele foi construído para proteger o litoral brasileiro de possíveis invasões e receber os navios da coroa portuguesa. A primeira estrutura do forte foi feita ainda em 1596, mas não se sabe ao certo quanto ele foi concluído. Documentos de 1608 já apontavam sua existência "completa".

(O Forte foi construído em formato de um polígono de octogonal)

Mas quando você pensa no Forte o que lhe vem a cabeça? Provavelmente um cone alto, listrado de preto e branco com uma luz muito forte. Pois o engraçado é que o Farol de Santo Antônio, ou Farol da Barra, não foi construído na mesma época. A ideia de construir um farol já tinha passado pela cabeça dos portugueses. Afinal, o Porto de Salvador era um dos mais movimentados do país. Navios europeus iam à cidade em busca de produtos como pau-brasil açúcar, madeira, algodão e tabaco. Só depois do naufrágio de um grande navio perto do litoral, em 1668, o governo começou a construção do Farol.



(O Farol listrado)


Dentro do Forte há lanchonete, salas de exposições e um museu que conta a saga da sua construção e um pequeno resumo da história da navegação no Brasil, com direito a miniaturas de diversos navios e embarcações. Mas o Forte atrai não só pela sua história como também por ter uma das mais belas vistas de Salvador. Quem sobe no Farol consegue ver toda a praia do Forte, uma exceção entre as praias urbanas por ter águas limpíssimas e, agora, uma extensa faixa de areia não mais invadida por barracas ou quiosques.

E o local também é escolhido diariamente por dezenas de pessoas que querem ver um lindo pôr-do-sol. Uma cena que vale toda a viagem!


(Olhos voltados...)

(... para o pôr-do-sol)

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Capital injustiçada

– Estou indo para Salvador!
– ...
– Você já foi?
– Sim.
– O que achou de lá?
– Bom... mas um pouco feia, suja...

(Largo Cruzeiro de São Francisco, no centro histórico de Salvador. Lugar onde, diz a lenda, os ambulantes atacam os turistas. Foto tirada desse link)

Esse foi um dos diálogos (por vezes, monólogos) que tive antes de ir pra Salvador, no mês passado. Tentei conversar com várias pessoas. Os que nunca tinham ido não souberam emitir opiniões. Os que já visitaram a cidade, falaram que não gostaram. Só uma pessoa disse que era legal e me indicou alguns passeios... e então descobri que ele tinha nascido lá. Por que raios as pessoas não gostavam de Salvador? Seria feia, suja e chata como me disseram? Viajei decidida a entender. E o que eu entendi é que a capital baiana é uma cidade injustiçada.

Cheguei em Salvador no dia 8 de dezembro com um sol que só a Bahia tem. Como o nosso hotel era no bairro de Ondina, percorremos 30 quilômetros desde o aeroporto. Foi quando tudo o que me disseram sobre a cidade começou a cair por terra. Passamos por ruas feias e bonitas, por bairros pobres e ricos. Alguns muros pichados, algumas calçadas esburacadas, mas muitos prédios interessantes e árvores por todos os lados. Naquele trajeto eu já percebi que nos próximos quatro dias o que eu ia encontrar era uma capital comum, com seus contrastes urbanos e que aquele alarde todo sobre Salvador ser feia era... só alarde.

(O praia do bairro de Ondina. Em uma palavra: simples)

O bairro em que fiquei era simples. Não tinha um mar exuberante, uma orla bem cuidada ou pontos turísticos indicados pelo guia. Era modesta e familiar. Ótima para um banho no meio da tarde ou um passeio sem maiores pretensões. Então pensei: vai ver todas as praias de Salvador são assim, sem grandes atrativos, e por isso as pessoas que esperam praias como as de Trancoso se decepcionam. Mas a teoria foi por água abaixo quando, no mesmo dia, visitamos o Farol da Barra. O mar ali era incrível. A água misturava diferentes tons de azul e estendia-se por quilômetros.

(O sol e o fundo do mar, os culpados pelos vários tons de azul da praia da Barra)

A teoria foi por água abaixo mais uma vez quando, dois dias depois, passeamos pelas praias do Norte, mais especificamente Flamengo, Stella Maris e a famosa Itapuã. Elas têm menos infraestrutura, mas também menos movimento. As águas por aquelas bandas são mais limpas e a natureza mais conservada. Algumas apresentam um colorido particular ao misturar coqueiros verdes e guarda-sóis coloridos. Sem dúvida uma bela imagem.

A prova de fogo seria no dia em que visitássemos o centro da cidade. Sobre o Pelourinho já tinha ouvido coisas horríveis. A primeira recomendação é que eu andasse com a cabeça baixa e não conversasse com ninguém. Qualquer sinal de simpatia seria motivo para um guia ambulante ou mesmo um vendedor de fitinhas de Bonfim me oferecer os seus serviços insistentemente. Uma amiga falou que certa vez o homem insistiu tanto que bradou "essa é de graça" e sem a menor cerimônia pegou o seu braço e foi amarrando uma fita. Depois estendeu a mão e disse: "dois reais". A cara que ele fez foi tão feia que ela nem conseguiu argumentar.

(Eu, ao contrário, tirei até foto da baiana de graça)

A segunda recomendação era que eu não ficasse triste se não encontrasse o centro histórico que esperava, bonito, colorido e bem cuidado. Disseram que antes a cidade era um brinco, mas que de uns tempos pra cá (alguns associam o fato com a saída de Antônio Carlos Magalhães do poder) tudo estava sujo e mal cuidado. Lembro de há muitos anos ter lido uma matéria sobre as ruas da capital baiana terem virado banheiros ao ar livre e que a prefeitura tinha que tomar alguma medida, seja campanha ou multa, para impedir que os homens urinassem em qualquer lugar.

Mas, a despeito de tudo e de todos, encontrei um centro histórico bonito e conservado. Ruas estreitas de paralelepípedo, casinhas coloridas e lamparinas à moda antiga. As grandiosas igrejas ainda chamavam a atenção. Admito que alguns pontos turísticos estavam em péssimo estado de conservação, como por exemplo a Igreja de Santa Bárbara aonde foi filmado "O Pagador de Promessas". Também admito que as ruas cheias de placas e artesanatos pro lado de fora, em uma tentativa constante de chamar a atenção dos turistas e vender mais, me irritou bastante.

(Nada contra o lindo artesanato baiano, claro. Foto tirada desse link)

Com relação aos vendedores ambulantes, nada contra. Ofereceram seu trabalho como em outro lugar qualquer, com a insistência típica de uma cidade que recebe muitos turistas. Os guias também eram numerosos, mas necessários. Vi franceses, italianos, tchecos, espanhóis, americanos... A cada esquina um país diferente e, com eles, um guia turístico que explicava em outra língua as nuances da história do Brasil, que fez de Salvador a capital nacional por mais de 200 anos.

Nesse mesmo dia fui ao Elevador Lacerda e de lá eu pude ver a cidade baixa. Essa parte, sim, bem feia. Não sei se eu diria feia, mas descuidada. Prédios antigos com janelas esburacadas e uma pintura preta de tão velha. Quando desci andei um pouco pelo centro e quando pegamos o táxi para voltar ao hotel, aí sim, vi uma cidade suja e despedaçada. Mas não me chocou. Quem disse que o centro de Belo Horizonte é bonito? Quem disse adora passear pelo hipercentro de São Paulo?

(A Cidade Baixa era pequena, mas com o tempo e a falta de planejamento urbano ela se tornou enorme e em alguns pontos com uma grande concentração demográfica)

Posso ter dado sorte, mas a impressão que tenho é que Salvador merece mais do que andam falando por aí. O estado da Bahia tem uma das culturas mais ricas do país e a capital não fica por menos. A gastronomia é deliciosa, a religiosidade é alvo de músicas e livros e a "cultura culta" é celebrada por artistas de renome. Hoje, Salvador é uma das cidades com os mais fortes núcleos de teatro, dança e música do país (e não estou falando de comédia romântica e axé). Além disso, a cidade mudou muito mas ainda preserva suas belas praias e suas belezas históricas. Um passeio que quem já fez deveria fazer de novo... e relaxar!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Novo ano novo

Eu adoro datas! Aniversário, páscoa, carnaval, dia dos namorados, independência do Brasil, libertação dos índios e negros fugidos... não importa. Adoro ter motivo para fazer um dia simples se tornar especial. E se eu achar que o dia merece ser especial, mesmo ele não sendo, não tem problema. Implemento a tarde de filme com as amigas, a noite da pipoca, a festa do pijama ou mesmo o dia da faxina. Dar nome as coisas as faz se tornarem especiais. E é ótimo se lembrar de dias especiais.

(Receber e aceitar o novo. Foto tirada desse link)

Mas de todas as datas, a que eu mais gosto é o 1º de janeiro. O primeiro dia do ano é genial porque não é só o dia que parece perfeito. Nele, o ano TODO parece perfeito. O 1º de janeiro também tem o encanto de durar mais de 24 horas. Não é como o o Dia do Trabalho que não faz diferença quando cai no sábado, ou como o Natal, que parece acabar depois do almoço do dia seguinte. O 1º de janeiro pode durar quase um mês.

Esse dia carrega aquela palavra que a gente adora repetir sem realmente pensar sobre ela: esperança. Já olhou no dicionário o que ela significa? Esperança é a expectativa de um bem que se deseja. Pode ser sair do emprego velho, procurar um trabalho novo, fazer amigos, encontrar um grande amor, mudar a casa, se mudar, mudar você. De uma forma geral, a esperança de todo mundo é de que esse ano seja o melhor. E para isso meu caro amigo, é preciso fazer o melhor.

Não é preciso esperar o primeiro dia do ano para fazer o melhor, mas fica mais fácil ne? Então aproveite. Afinal, o 1º de janeiro e todas as sensações que ele carrega duram mais de um dia. O meu começa antes e termina depois e, normalmente, dura uma semana. Até o réveillon eu procuro avaliar o ano que passou. O que conquistei, os amigos que fiz, os dias que mais me diverti, em que momentos fui feliz de verdade. Também busco os erros, tento aprender com eles e, se possível, jogo fora. Não vale a pena guardar mágoas.

Meia hora para a virada, faço uma lista com o que quero que se realize no próximo ano. A desse ficou longa, mas foi, de todas, a mais simples. São pequenas mudanças que vão fazer uma enorme diferença na minha rotina - Ah, e esqueci de dizer que além de adorar datas, sou um pouco supersticiosa. Dizem que quando a lista é revelada, as coisas não acontecem. Por via das dúvidas, deixo pra contar no fim do ano e avaliar se o que escrevi se concretizou ou não.

Assim, a partir do dia 1º de janeiro encarno o "ano novo, vida nova". Para mim as coisas têm de ser colocadas em prática assim que o ano novo entrar. Até que elas se tornem um hábito eu com certeza vou errar muito, mas o que importa é não desistir. E se algo não acontece e já é outubro, tento fazer o 1º de janeiro reviver e lembrar que nunca é tarde pra tentar de novo (se já for dezembro, ai sim, deixa pro ano que vem).

Uma das coisas mais legais do ano novo é imaginar o que está por vir. Mas ainda assim, o que há de genial no primeiro dia do ano é ver que a gente é capaz de recomeçar de novo, e de novo, e de novo...!

Queria agradecer a TODOS que passaram por esse blog em 2011 e também nos anos anteriores. Sempre digo que escrevo pro prazer e que se eu tiver um bom leitor já me dou por satisfeita. Esse ano tive a satisfação de ver o blog crescer de uma forma que eu jamais imaginei e de ver cerca de 5 mil bons leitores passarem por aqui a cada mês. Um obrigado eterno e a promessa de que coisas novas estão por vir ;)