segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A melhor festa do mundo

Era dia na Avenida Delfim Moreira e os foliões já enchiam a rua de cores. O brilho das fantasias de lantejoulas se misturava com a purpurina nos olhos, os confetes metalizados e as serpentinas voadoras. Todos cantavam e pulavam ao som do bloco de rua que animava a praia do Leblon aquele dia, o "Empurra que pega". De longe se avistava o trio elétrico com os cantores, instrumentistas e uma mulata que sambava como uma autêntica brasileira. No chão, a bateria tocava sambas enredo e marchinhas de carnaval a todo vapor. O som do bumbo, do chocalho e da cuíca eram acompanhados pelas vozes das milhares de pessoas que andavam junto ao bloco.

(Bloco Banda de Ipanema na terça-feira de carnaval. Só folia! Foto tirada desse link)

Em meio a tanta gente, um casal chamava atenção. Pareciam ter 60 anos e não tinham cara de brasileiros. Nem cara, nem roupa, nem trejeitos. Estavam no meio da muvuca e para ver a festa melhor resolveram subir no meio fio perto do calçadão. Não falaram mais nada. Estavam os dois de boca aberta e sorriso no rosto. Viram a bateria passar, o trio elétrico andar e aquele monte de gente dançar ao som da verdadeira música brasileira. Eles não sabiam se batiam palmas, se pulavam no ritmo dos tambores ou se tiravam fotos. Estavam atônitos. Estavam no paraíso.

Essa foi, para mim, a imagem mais marcante do carnaval no Rio de Janeiro. Em primeiro lugar, porque olhar para o rosto daquele casal é comprovar que fazemos sim uma das melhores festas do mundo. Em segundo lugar porque eu fiquei igual a eles em vários momentos. Desde o primeiro dia de festa eu não acreditava no que estava vendo. A cidade inteira parou para festejar o carnaval.

(A bateria passa na avenida...! Foto tirada desse link)

Claro que isso é um grande problema. Um país que para durante uma semana para cair na folia é, no mínimo, irresponsável. Apesar do ótimo policiamento, vários amigos foram assaltados. Apesar da limpeza super eficiente e 24 horas, o mar do Rio de Janeiro ficou um lixo no pós carnaval. E apesar de ter ficado conscientemente desligada do mundo durante cinco dias eu tenho certeza que muita gente aproveitou o feriado para fazer algo errado, ou aumentar as filas dos hospitais, ou atrasar o pagamento, ou impedir a aprovação de alguma lei do governo.

Ainda assim, eram milhões de pessoas que tentavam esquecer um pouco os problemas do cotidiano para sorrir. Vimos crianças de rua que não tinham o que comer, mas só nos pediam o pandeiro para dar uma batucada. Conversamos com mães que entravam no meio da folia para vender cerveja e comprar material escolar para os filhos. Não tem como não gostar de um país com um povo tão alegre assim...

(Fantasia e tamborim no bloco Bangalafumenga. Foto tirada desse link)

E com certeza foi em busca disso que aquele casal de estrangeiros veio para o Brasil. Alegria. O país tem paisagens magníficas, praias paradisíacas, florestas tropicais, comida farta e uma música de primeira. Mas o povo brasileiro é o grande chamariz. Claro que temos muitos defeitos. Já disse aqui no blog como o tal do "jeitinho brasileiro" já virou piada. O livro Raízes do Brasil, do sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda, explica bem como o povo usa sua simpatia e criatividade para burlar as leis e se dar bem em todas as situações. Mas bem, é por causa dessa alegria e cordialidade que se consegue certas coisas, não? Então sobre ser "alegre" não há discussão.

E a verdade é que talvez o povo brasileiro nem seja o mais feliz do mundo. O povo nepalense é muito feliz, mas sua felicidade é transmitida em forma de bem estar e paz interior. O povo canadense também é muito feliz e se orgulha da sua pátria e boa qualidade de vida, mas são contidos. Já o brasileiro é eufórico. Grita, gesticula, ri alto. A gente manifesta a nossa alegria para qualquer um. E de graça.

(Carnaval com direito a bondinho na Lapa, o bairro mais boêmio do Rio. Foto tirada desse link)

O Carnaval é uma exacerbação dessa alegria. O clima nas ruas é realmente extraordinário. Tudo é festa. De manhã tem bloco, de tarde tem bloco, de noite tem show. E quando não tem nada é só pegar uma garrafa e começar a batucar. Que sabe cantar e quem não sabe, são todos bem vindos. É só chegar no meio da rodinha, puxar um samba e esperar os outros seguirem. Em dez minutos já estão pulando de braços dados.

Essa é a maior certeza de que o verdadeiro carnaval está nas ruas. O desfile das Escolas de Samba deve ser lindo. Aqueles carros enormes, homens e mulheres fantasiados e uma bateria que se faz ouvir a muitos e muitos metros de distância. Um show a parte. Mas esse não é todo espetáculo. No Sambódromo  está quem tem dinheiro, quem pode ir. No Sambódromo a festa dura dois dias. No Rio o carnaval ainda não acabou. Durante o feriado foram mais de 500 blocos e quatro milhões de pessoas nas ruas.

(E tudo quanto é tipo de fantasia também. Nordeste, smurfs, gato de botas, cartão postal...Foto tirada desse link)

E para quem não quer folia o tempo todo, o Rio ainda é o Rio. A cidade maravilhosa, apesar de cheia, continua linda no carnaval. A água azul, a areia clara, o calçadão e o sol da estação mais quente do ano é capaz de revitalizar os ânimos dos foliões mais agitados. Até dá para curtir os blocos da areia. Ou em qualquer lugar da cidade. Alegria, sorrisos e música boa. Uma festa de deixar estrangeiros de boca aberta e brasileiros orgulhosos.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Ares de metrópole

Há um bairro em Santiago que ainda não sabe a que veio. Sua paisagem mistura arranha-céus metálicos e casas residenciais de estilo colonial, parques cheios de árvores e largas avenidas. Assim é Providencia, um bairro com pessoas e usos tão diversos que fica até difícil classificá-lo. Centro comercial? Espaço para repouso? Talvez um pouco de cada um.

(Espaço para descansar ou trabalhar. Providencia tem ares de metrópole pois é um bairro para todos os tipos de uso)

Como o hotel em que estava hospedada era nesse bairro, posso afirmar com segurança: o Providencia pulsa a qualquer hora do dia. Se você ficar um pouco mais atento vai conseguir observar o cotidiano local. Quando o sol aparece, as ruas se enchem de carros e as calçadas de pessoas. Homens e mulheres, a passeio e a trabalho. Alguns têm como destino os prédios comerciais e os arranha-ceús metálicos. Outros estão ali a espera das lojas e supermercados, prestes a abrir.

O Providencia é mesmo um ótimo bairro para se fazer compras. Pode não ter os bazares descolados do Bellavista ou os preços acessíveis do Centro, mas tem uma ótima relação custo benefício. O negócio é fuçar. A rua Nueva de Lyon tem dezenas de lojas. O melhor é o brechó Nostalgico. Tem tudo o que os bons brechós oferecem, com a vantagem de que esse é realmente organizado. Ali também está o Edificio Dos Caracoles, que tem esse nome exatamente por seu formato em espiral. Boa parte das lojas vendem peças artesanais e únicas.

(Galerias ao longo do caminho e entrada para a loja Paris)

Ali perto você também encontra uma das filiais da rede de departamentos Paris. Ele me lembrou a Galeria Lafayete da França não pelo luxo, mas pela organização. As lojas Paris também são grandes galpões abertos onde as marcas disputam a preferência dos clientes sem precisarem erguer paredes ou muros. A cada andar há um tipo de produto a ser vendido, de roupas e acessórios a aparelhos eletrônicos.

O Providencia também é um ótimo local para comer. Ali estão as maiores redes de fast-food, as lanchonetes tradicionais, as docerias típicas e alguns dos melhores restaurantes da cidade. No almoço eles enchem de pessoas, normalmente trabalhadores. No fim de tarde, esses mesmos trabalhadores escolhem um bar para o happy hour, mas dividem o espaço com grupos de jovens, mulheres em momentos confidenciais e crianças se lambuzando de sorvete.

Claro que não experimentei todos, mas se me pedirem para lembrar de alguma comida que experimentei durante a viagem eu vou lembrar de dois restaurantes no bairro Providencia. Um deles é o Cafetto,  no térreo do Hotel Orly. O ambiente é pequeno mas super agradável. As vitrines do local deixavam a vista a paisagem do lado de fora, mas o que vem de dentro da cozinha é o que realmente interessa. Pedimos o prato do dia que vinha com entrada, prato principal, suco ou vinho e sobremesa. Um desse sai por menos de 20 reais e, se comparado aos preços e quantidades brasileiras (que sequer incluem uma taça de vinho), ficou bem barato. E delicioso! Sem dúvida a melhor refeição da viagem.

(O delicioso filé mignon no Cafetto)

O melhor jantar ficou para o Le Bistrot, restaurante francês no pátio do edifício Dos Caracoles. O cardápio tem pratos caros e refinados e opções baratas... igualmente refinadas. Pedi um crepe fermière, feito com frango, champignon, pimentão, cebola e queijo, além de um molho especial delicioso. Morei cinco meses na França, mas foi no Chile que comi o melhor crepe de todos os tempos.

(14 reais muito bem gastos, obrigada)

Como o Le Bistrot, existem ótimos restaurantes no bairro, o que garante um fluxo constante de pessoas também durante a noite. Com o expediente encerrado e parte do comércio fechado, as ruas do bairro Providencia encontram pessoas sem pressa. O horário para chegar no trabalho já não impede os pedestres de aproveitar o clima. Muitos ainda estão bem vestidos e normalmente são esses que estão em busca de uma noite mais agitada. Balada por aqui acontece, mas não costumam ser das mais agitadas. Bares com shows ou DJs são mais procurados.

E ainda que Providencia ofereça diversas opções de passeio, algumas pessoas estão ali só de passagem. Como o bairro está em uma região central, suas avenidas são destinos certos para quem quer ir de um lado para outro. O que não impede as pessoas que passeiam a esmo de aproveitar alguns dos pontos mais charmosos do bairro. Um deles é o parque das esculturas, um verdadeiro recanto de tranquilidade no meio da zona comercial da cidade. O parque tem como atração principal atração as 30 esculturas - muitas delas bastante instigantes - de artistas famosos. Isso sem contar os 21 mil m² de área verde.

(As obras são permanentes, mas dentro do próprio parque há um espaço para pequenas exposições temporárias)

Mesmo quem não para no parque encontra muito espaço verde pelas ruas da capital. Santigo é uma cidade muito arborizada, principalmente nas áreas mais residenciais. As ruas próximas ao parque são assim, lindas e tranquilas (menos na hora do rush). Uma hora ou outra você vai cruzar com o Rio Mapocho, importante curso fluvial que corta a cidade. Sua coloração marrom - um tanto quanto nojenta - não tem nada de natural. Suas águas costumavam ser cristalinas até os dejetos minerais, agrários, domiciliares e todos os outros serem despejados no rio. O governo já promoveu uma série de ações para despoluir suas águas e promete que até 2013 o local vai virar um grande parque.

E entre um passeio e outro, algumas surpresas. Para o meu espanto o Providencia também tem construções antigas, como a Igreja de Nossa Senhora da Divina Providência. De influência neo-renascentista, foi construída entre os anos de 1881 e 1890 para ser um orfanato, que funcionou até 1942 acolhendo cerca de 1200 crianças. Em 1955 o espaço aonde as crianças eram acolhidas foi demolido e no local só restou a capela e o claustro lateral.

(Porque o bairro chama Providencia? Agora parece claro)

Providencia tem de tudo. Negócio e ócio. Não há como dizer se as pessoas por ali são diversas porque o bairro tem de tudo um pouco ou se o bairro tem de tudo um pouco porque os frequentadores são tão distintos. E apesar de mesclar elementos tão diversos, o bairro não parece um monstro, mas uma verdadeiro metrópole. Afinal, metrópoles não param.

(Visão da área residencial de Providencia do terraço do hotel)

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O descontraído bairro Bellavista

A ânsia de chegar a uma cidade e conhecer os seus pontos turísticos mais famosos é tanta que os roteiros de viagem normalmente são estruturados de forma decrescente. No primeiro dia com certeza está o "essencial", no segundo dia, o essencial número dois, e assim a viagem segue até o último dia, que não apresenta nada muito significativo. Tanto que no final a correria dá espaço a uma relativa calma e os viajantes gastam seu tempo andando a esmo, descobrindo novas ruelas e bistrôs ou voltando aonde mais gostaram - muitas vezes, o mesmo lugar do primeiro dia.

(Ruas do bairro Bellavista. Clima de bairro boêmio ainda pela manhã)

Isso não quer dizer que o início é sempre a melhor parte. Quem viaja sempre espera novidades, e é esse sentimento que deixa as pessoas abertas às surpresas. E as surpresas, como todos sabemos, não têm hora para acontecer. Mas em Santiago a regra prevaleceu. Quando chegamos ao bairro Bellavista sabia que tínhamos começado pelo melhor. Pelas suas casas bonitas, ruas mais charmosas, bares badalados, clima de capital... o conjunto da obra. Se alguém fosse passar só um dia na capital do Chile eu diria: vá ao bairro Bellavista.

A tranquilidade matutina...

Realmente, não há paisagem mais bonita para os olhos do que as ruas de Bellavista. O bairro costumava ser um reduto católico e aristocrático, mas começou a mudar a partir dos anos 1920, quando ganhou construções de diferentes estilos arquitetônicos. As casas que se instalaram ali eram, ao mesmo tempo, modernas e clássicas, chiques e rústicas, imponentes e simples, e por serem assim começaram a chamar a atenção principalmente de artistas e pensadores, que deram ao local um toque de boemia.

(O famoso Como Água para Chocolate, inspirado no livro da mexicana Laura Esquivel e também na sua trama: no cardápio, pratos que aguçam os desejos)

Um dos artistas que resolveu criar raízes por ali foi nada mais nada menos que Pablo Neruda, um dos mais importantes poetas do mundo e prêmio Nobel de Literatura em 1971. Foi no Bellavista que Neruda construiu a sua terceira casa, um dos pontos mais importantes do bairro e quiça, de toda capital.


O ingresso que custa 2.500 pesos chilenos (algo em torno de 10 reais) dá direito ao visitante a fazer uma visita de 40 minutos acompanhado de um guia turístico. Não hesite. O passeio vale muito a pena. E você vai querer fazê-lo assim que chegar à porta de entrada e ver, lá de baixo, as curiosas formas geométricas da casa. O guia explica que Neruda era um apaixonado por mar e queria dar um aspecto de barco à sua residência. Por isso os tetos são baixíssimos, as paredes brancas e muitos dos quadros e objetos fazem referências ao oceano. A maior marca do seu apreço pelo ambiente marítimo é a sala privada, com uma janela panorâmica semelhante à de uma cabine de comandante com uma paisagem estonteante da Cordilheira dos Andes. Hoje, infelizmente, os lotes vagos, prédios e a poluição local não se parecem em nada com o que ele enxergava poucas décadas atrás.

(A "cabine do comandante" com sua visão panorâmico)

Outro espaço igualmente curioso é a sala que fica no pátio, cheia de objetos gigantes. Se não ouvi mal, a inspiração veio de Temuco, cidade onde Neruda passou sua infância e adolescência. Há muito tempo, quando parte da população não sabia ler ou escrever, as lojas não colocavam letreiros nas suas portas, mas objetos gigantes que simbolizavam os seus produtos, como sapatos ou relógios. O último cômodo a ser visitado, e alvo de olhares curiosos por parte de todos os presentes, foi a biblioteca. Ali está a sua medalha do Nobel e fotos com diversas celebridades, inclusive Vinícius de Moraes e Jorge Amado, amigos íntimos.

(Infelizmente não é possível tirar fotos de dentro da casa. Mas os pátios com parreiras que tampam o sol já dão uma ideia do local)

Mesmo com tantos objetos e palavras, o visitante sai dali com apenas um nome na cabeça: Matilde Urrutia. Neruda a conheceu durante seu exílio na Itália, quando ainda era casado. Mas Matilde foi uma daquelas paixões arrebatadores. Foi para manter relações secretas com sua amada que ele ordenou a construção da casa ainda em 1953. Quando sua mulher morreu, o poeta se mudou para a nova casa em Santiago nomeada de La Chascona, palavra que só existe no espanhol chileno e quer dizer algo como "descabelada" ou "cabelos eriçados", em homenagem a Matilde. Durante a visita o guia conta histórias sobre o casal e mostra objetos e poemas dedicados a ela. O romance entre eles termina em 1973, dias depois do golpe de estado que colocou Augusto Pinochet no poder, Neruda morre. Matilde se encarrega então de cuidar de todo o patrimônio do amado até sua morte, em 1985, na casa aonde viveram.

Depois de visitar a La Chascona fomos ver a paisagem que tinha sido um dos motivos pelo qual Pablo Neruda instalara sua casa no Bellavista. Para isso fomos  entrada do funicular que dá acesso ao Cerro San Cristóbal, um dos morros que integra o conjuntos de montanhas da cidade.

(Passageiros a bordo...)

A vista que se tem de Santiago do alto do cerro San Cristóbal é diferente é a mais bonita. Isso porque além de o morro ter 880 metros de altura ele proporciona um olhar panorâmico. É possível ver a capital chilena lá embaixo de praticamente todos os seus ângulos. Confesso que fiquei um pouco decepcionada pois em fotos de amigos me lembro de ver uma cidade rodeada pelos colossais picos da Cordilheira dos Andes e, por causa do nevoeiro de fumaça causado pela poluição do local, o chamado smog, não vi nem metade.

(A melhor foto dos Andes que consegui naquele dia não traz nem a metade da montanha)

Ainda assim é uma paisagem linda. O próprio cerro é um lugar legal para ir e fazer um piquenique ou mesmo para relaxar. A estrutura local conta com várias lanchonetes e - claro - as típicas lojinhas de souvenirs para os turistas gastarem seu dinheiro. A montanha se transforma em caminho de peregrinação por abrigar o Santuário de Imaculada Conceição desde 1908. Além da igreja, no alto da montanha há uma estátua enorme da santa, de braços abertos em adoração e olhar fixo no céu.

... E o agito noturno 

Bellavista são duas. Se de manhã os olhos se fixam nas cores e traçados de suas casas, a noite o que encanta é o clima boêmio e descontraído. Pela manhã o passeio é contemplativo. A noite a visita é para aproveitar. Aproveitar e se integrar.

(Fim de tarde nos barzinhos do bairro Bellavista)

Se você estiver a fim de se entrosar esse é o bairro perfeito. Há gente passeando nas ruas, entrando nos bazares e, principalmente, sentada nas mesas das lanchonetes, bistrôs e restaurantes a todo momento. O movimento começa na hora do almoço, mas aumenta mesmo no fim da tarde e não para até o amanhecer.


É importante lembrar que no verão de Santiago o sol se põe por volta das 21h30 então não é preciso esperar o céu ficar escuro para sair de casa. Principalmente se a saída for para jantar: alguns restaurantes são muito concorridos e só se consegue uma mesa chegando muito cedo ou fazendo reserva. Se a ideia é cair na balada, não há nenhuma regra de etiqueta que um bom brasileiro não saiba.


(Restobar Ky é considerado o bar mais cool da cidade. Fique atento ao endereço pois a casa é escondida e não há placas na porta. O local tem salões de todos os jeitos: dos minimalistas aos mais exóticos. As pessoas se senta em cadeiras, almofadas ou mesmo no chão. O importante é aproveitar a noite. Foto tirada desse link)

Saudosismo

Alguns dizem que o bairro Bellavista não é mais o de antigamente. Por causa das suas características singulares e do seu apelo turístico e comercial, ele tem se voltado mais para os visitantes do que para os habitantes da cidade. Um lugar que poderia representar essa afirmativa é o Pátio Bellavista. Aberto em 2006 em um antigo galpão industrial, o espaço que oferece uma série de lojas e restaurantes bastante chiques.

(Em épocas especiais há apresentações musicais)

Alguns acreditam que o galpão poderia ser transformado em outra coisa, as vezes um centro cultural. Outros acreditam que o local só serve aos ricos e endinheirados, como muitos dos bares e restaurantes da região que antigamente recebia todo tipo de gente. A questão permanece no ar, mas a bem verdade é que chilenos e estrangeiros frequentam as casas de paredes coloridas e janelas amplas que hoje se transformaram em bares e boates descolados, lojas vintages, teatros alternativos e centros culturais.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Viver bem em Santiago

Uma cidade do primeiro mundo. Essa é a impressão que se tem de Santiago, capital do Chile, um local cheio de encantos. Com suas ruas aconchegantes, mesas nas calçadas e candeeiros a moda antiga, a cidade transborda sofisticação.

(Candeeiros, plátanos verdes e prédios com varandas coloridas. Detalhes de uma bela capital)

Há dados concretos para considerar Santiago uma cidade do primeiro mundo. A capital chilena tem a terceira melhor qualidade de vida da América Latina, perdendo apenas para Buenos Aires e Montevidéu. É também a 53º cidade mais rica do mundo e apresenta um ensino escolar e universitário exemplares. Mas mesmo sem esses dados é fácil sentir que Santiago é uma cidade de primeiro mundo. E não é por causa da sua beleza. A beleza pode estar em qualquer lugar. A diferença é a mentalidade da sua população.

Não estou aqui criando critérios para dizer o que torna uma cidade desenvolvida ou não e muito menos querendo dizer quem é melhor ou pior. Mas é fato que as melhores cidades para se viver apresentam características similares. Abaixo, itens que me fazem classificar uma cidade como primeiro mundo - e que Santiago tem.

(Sofisticação urbana)

Serviços públicos eficientes: Cidades que prezam pelo bem estar do seus habitantes são aquelas que proporcionam serviços públicos de qualidade. O transporte é um excelente "medidor" pois além de ser usado por todos, todos os dias, é um dos mais difíceis de serem resolvidos. Para um transporte público de qualidade é preciso que ele tenha capacidade para todos os habitantes, que não seja absurdamente caro, que não atrase e que proporcione uma grande diversidade de equipamentos, como táxis, ônibus e metrôs, além de ciclovias e boas calçadas para os transeuntes. Santiago tem isso tudo. Não é a toa que você não vê pessoas estressadas, correndo para pegar metros, porque em 5 minutos passa outro. Também há pouco engarrafamento pois o transporte público funciona e o número de carros na rua diminui.

Espaços públicos: Em alguns países "o que é público não é de ninguém". É por isso que os monumentos ficam abandonados, os patrimônios são pichados, os jardins são mal cuidados, as praças são ocupadas por mendigos e os equipamentos públicos são roubados - já que não têm dono mesmo. As pessoas não criam um sentimento de pertencimento. Lembro que quando cheguei em Paris fiquei encantada ao ver praças, jardins e parques cheios de pessoas o tempo inteiro. Isso porque nos países de primeiro mundo "o que é público é de todos".

Limpeza: Lugares aonde as pessoas não jogam lixo na rua, não depredam patrimônios públicos e fazem de tudo para manter o local bem arrumado são diferentes. Não é só uma questão de beleza, mas sim de cultura. Quanto mais limpa uma cidade, maior é a vontade de fazer com que ela continue assim, e mais limpa ela fica. É um ciclo vicioso.  Afinal, se o que é público é de todos, não posso sujar uma rua já que ela também é minha. E nada melhor do que visitar, passear ou mesmo viver em uma cidade limpa, bonita e bem cuidada.

Povo educado: Educação não é ter uma população formada por jovens talentos universitários e empreendedores de sucesso (não que o Chile não possa se orgulhar do seu sistema de ensino). Quando falo em educação falo em cotidiano. Pedir licença, falra obrigado, dar informações sem se irritar, entender as necessidades do cliente, respeitar o pedestre. Basicamente se importar com o outro. Em Santiago as pessoas são educadas e isso se enxerga nos pequenos detalhes.