segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Comida italiana: um farto prazer

A comida na Itália, como era esperado, é um caso a parte. Come-se muito e muito bem. Lembro da primeira vez que pedi pizza com as minhas coinquilinas (nome dado as pessoas que dividem casa com você). Eu, inocente, esperava uma pizza a ser dividida, quando chegam pizzas individuais de seis pedaços. Sim, seis pedaços! Lá é normal comer uma pizza dessas sozinho, de uma única vez. Bem normal. Eu assustei! Só conhecia a pizza brotinho, que por lá nem existe. Da primeira vez, minha pizza rendeu três refeições. Em pouco tempo, já era craque em comê-la por inteiro de uma só vez. Não foi à toa que os quilos adquiridos prazerosamente por lá custaram muito a sair de mim.

(Itália + comida = pizza. E uma grande por pessoa. Foto tirada desse link)

Pizza lá salva a vida dos estudantes. É super barata e tem em toda esquina. Serve de almoço, jantar e lanche. Além da diferença na massa, a gente vê a diferença nos sabores. A marguerita italiana não tem manjericão, o que, pra mim, a deixa muito mais gostosa. Frango com catupiry eu nunca ouvi falar - o catupiry não se difundiu por aquelas bandas, ou então não tem muitos amigos. Já a nossa portuguesa é quase uma ofensa para os italianos. Acho que nada na Itália tem tantos ingredientes assim. Normalmente, bastam no máximo três, e isso vale para os macarrões também. As pizzas italianas contam com a colaboração de uma maravilhosa fartura de mussarela e/ou molho de tomate. Outra coisa com a qual também tive que me acostumar foi a não colocar, em hipótese alguma, catchup na pizza. Da vez em que me atrevi a fazê-lo quase fui expulsa de casa.

(Mangiaaaaare! Foto tirada desse link)

Assim como acontece com a pizza, também não tem como desvincular a Itália do macarrão. Tudo o que sei cozinhar hoje aprendi por lá, e no meu caso isso quer dizer que a única coisa que me arrisco a fazer na cozinha é exatamente o tal do macarrão (melhor dizendo, os tais macarrões), que em terras italianas é conhecido como pasta. É meio incompreensível como pratos relativamente simples de serem feitos, até por uma completa leiga, podem ser tão gostosos. Eu atribuo muito desse sucesso aos temperos utilizados pelos italianos, a qualidade dos produtos utilizados nas massas e, é claro, ao fogo baixo.

(Macarrão a bolonhesa, na língua "brasileira". Irresistível de qualquer ângulo. Fotos tiradas desse e desse link)

Na minha temporada em Bologna aprendi a fazer quatro macarrões: dois deles só com atum e creme de leite (nunca achei que juntos eles pudessem ser tão bons), outro com queijo, ovos e bacon, o famoso carbonara, e por último o imprescindível macarrão à bolognesa. Sobre esse último, tenho duas coisas importantes a dizer. A primeira é que espaguete à bolognesa não existe em Bologna (e é quase uma afronta insistir nisso). Um porque não se come molho a bolognesa com espaguete, e sim com talharim. Lá, cada tipo de molho tem um macarrão específico com o qual é recomendado fazê-lo - claro que no esquema estudante-universitário isso não funciona muito, mas ainda exista uma regrinha. Dois porque o molho a bolognesa se chama ragù.

A segunda revelação é a seguinte: tem cenoura no preparo do ragù! É, cenoura! Pra quem entende mais de culinária pode não ser surpresa, mas pra mim foi uma grande descoberta. Achei, inclusive, meio divertido. E o melhor é que não dá pra vê-la, nem senti-la no prato, mas eles acreditam que a cenoura faz toda a diferença. E se eles dizem, quem sou eu para discordar?

(As pastas italianas e suas variadas formas de nos deliciar. O tortellini é uma delas... Foto tirada desse link)

O clichê “italianos só comem macarrão” não é de todo verdade, mas a pasta aparece pelo menos uma vez por dia. Se não é no almoço, pode saber que tem pasta no jantar. E quando se vê a quantidade de macarrão que eles comem e a freqüência com que o fazem, logo se imagina um país de pessoas inevitavelmente roliças. Mas não é isso que acontece. Os italianos, sobretudo os jovens, não são gordos. Acho que a alimentação deles apesar de farta, é bem balanceada. Se tem pasta no almoço, no jantar é salada, de folhas, legumes ou verdura. Vale até uma bacia de rúcula com um pedacinho de pão.

Outra coisa que não posso deixar de falar aqui é da maravilha do gelato! Pra mim, gelato não é sorvete, é gelato! É uma cremosidade que não dá pra comparar. A vontade que se tem é de viver só de gelato, não importa se é verão ou inverno. E a dica é: em Bologna, vá na La Sorbetteria Castiglione, tida como uma das melhores do mundo. Eu garanto que ela não decepcionará. A Cremeria Sette Chiese também é excelente e bem famosa entre os bologneses. E a sua localização privilegiada, em frente à Basilica di San Stefano, nos permite tomar o gelato em uma linda pracinha cheia de charme.


(A sobremesa que deveria ser prato principal! Fotos tiradas desse e desse link)

Em meio a vários restaurantes deliciosos e super atraentes que existem em Bologna; osterias, trattorias, pizzarias e muito mais; existe um lugar especial que vale a visita: a Osteria Del Sole, um restaurante muito peculiar, inaugurado em 1465. Originalmente, osterias eram locais em que só se vendia vinho, enquanto trattorias eram estabelecimentos “completos”, que serviam bebida e comida. Hoje essa diferenciação praticamente não existe. Em Bologna pelo menos, o único estabelecimento que conheci que preserva essa tradição é exatamente a Osteria Del Sole, daí sua singularidade.

O lugar é bem simples, mas aconchegante, ocupado por grandes mesas coletivas. Por isso, se você não for com uma boa turma, a chance de dividir a mesa com outra galera é grande, o que eu acho ótimo. Só mais uma oportunidade de fazer amigos! O clima é bem italiano e sempre de festa. Muita gente, muito barulho, todo mundo falando junto, alto e gesticulando. E como cada um tem que levar sua própria comida, a coisa se torna um grande e divertido pic nic, só não é ao ar livre. Eu recomendo muito a experiência.

(Osteria del Solle. Mais aconchegante impossível. Foto tirada desse link)

Para acompanhar o vinho que consumir lá, uma ótima pedida é comprar alguns petiscos nas barracas e lojas espalhadas pelas ruelas da região do mercado velho, que é exatamente onde fica a osteria. As barracas de frutas, legumes e verduras colorem as ruas enquanto dividem espaço com lojas que oferecem os mais diversos e tentadores tipos de presuntos, salames, mortadelas, queijos e pães. É incrível a variedade de produtos dessas lojas. E o pior: eles ficam todos expostos em vitrines, nos seduzindo descaradamente.

Existem ainda as lojas que vendem massas frescas, para serem feitas em casa. Os tortellinis vendidos ali são famosos. Essa massa recheada de carnes é uma especialidade bolognesa, que segundo a lenda foi modelada no umbigo da deusa Vênus. O passeio pela região do mercado velho é uma delícia e dá água na boca. Além disso, o clima é de uma pequena e antiga vila, quase como voltar no tempo.

(Fartura na mesa... e antes dela. Foto tirada desse link)

Devo admitir que não frequentei muitos restaurantes em Bologna. Vida de estudante universitário não é fácil em lugar nenhum do mundo. Mas tem um bem famosinho na cidade, com uma comida maravilhosa e um preço camarada. Chama Osteria dell'Orsa. Eu recomendo o tagliatelle al ragù (não dá pra sair de Bologna sem experimentar o verdadeiro, né?), que é uma maravilha. Para acompanhar, uma dica boa para quando se vai a restaurantes na Itália é pedir sempre o vinho da casa. Eles costumam ser muito bons e ter o preço bem mais em conta.

Um esquema legal que rola em Bologna, e em quase toda a Itália, é o do aperitivo. Funciona assim: em certos restaurantes, durante o happy hour, se você comprar uma bebida tem direito de se servir em um buffet de petiscos: pasta fria, pedaços de pizzas, sanduichinhos... Não sei se o programa vale tanto pela comida, mas costuma ser um bom jeito de começar uma noite. Além disso, é uma ótima oportunidade para experimentar o spritz, um drink muito famoso e consumido na Itália, receita típica da região do Veneto.


(É uma bebida gostosa feita com campari - por vezes substituído por aperol, que é mais doce - e vinho branco.Foto tirada desse link)


Ainda guardo os sabores da Itália na memória. E hoje qualquer macarrão ou pizza me trazem certa nostalgia, porque são mais que culinária, são cultura. E uma cultura pela qual tenho enorme apreço. Para mim, em Bologna, a culinária italiana tem seus dias de glória. E se nem o charme e a história, nem os mistérios dessa bela cidade te convenceram, certamente é pelo estômago que Bologna irá te conquistar.

Acha que ainda não sabe o suficiente sobre Bologna? Conheça mais dessa deliciosa cidade nos posts da publicitária Júnea Casagrande, nesse e nesse link

Um comentário:

  1. Adoro massas, se for para a Itália vou voltar com peso excedente até na consciência...rs

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