terça-feira, 13 de março de 2012

Marco zero de Santiago

Como em quase toda cidade, centro é centro. É cheio de gente, de carro, de comércio. É cheio de cheiros e barulhos. E o centro de Santiago é um exemplo disso. Ali, o dia começa com os comerciantes puxando os seus portões de ferro, funcionários colocando suas placas nas ruas e ônibus trazendo sempre mais e mais pessoas. Nesse ambiente o turista se torna visível e invisível. Afinal, no meio daquele monte de gente, ninguém repara nele. Mas é no meio daquele monte de gente, apressada, que ele se torna peculiar.

(Amor a bandeira)

A própria cidade compartilha desse paradoxo. Por um momento a gente esquece que está em Santiago... ou em Buenos Aires, ou em São Paulo, ou em Madrid. Os estímulos visuais são tantos e o fluxo comercial é tão alto que a cidade se torna simplesmente um espaço para as atividades. Mas eis que, no meio de tudo, em uma rua qualquer, um edifício antigo ou um monumento histórico nos faz lembrar onde estamos. E a cidade reaparece.

O centro de Santiago é uma mostra disso. Várias vezes estive no olho do furacão e precisei de algo para me lembrar que eu estava na capital chilena e não em outro lugar qualquer. Só escapei desse vai-e-vem depois que entrei no Mercado Central, um dos espaços mais conhecidos da cidade. Apesar de ele parecer um edifício  bastante clássico do lado de fora, devido às paredes de cores brancas e amarelas e os toldos em cada uma das suas entradas, ele era bastante diferente do lado dentro pois foi feito em estrutura metálica. O Mercado Central foi inaugurado em 1872 para ser usado como uma biblioteca. Tempos depois, porém, o local já se tornou o que é hoje: um verdadeiro espaço gastronômico.

(Não importa a data: o Mercado Central parece estar sempre decorado para alguma festividade. Ao fndo, os detalhes da sua estrutura de ferro)

O mercado funciona como um grande armazém aonde ficam expostos todo tipo de comida. Frutas e temperos são parte importante do local e ali você encontra de pimentas pretas a cerejas amarelas (deliciosas, por sinal). Mas o grande chamariz são os frutos do mar. Bancas e mais bancas vendendo peixes, camarões, caranguejos gigantes, ostras frescas e os piures, uma espécie de pedra que tem - misteriosamente - algo comestível por dentro. (Sou da teoria que vale a pena experimentar coisas novas em lugares novos, mas há exceções. E se até o Andrew Zimmern (do programa Bizarre Foods) diz que os piures estão na lista dos piores pratos, eu acredito).

Bom mesmo é sentar em um dos restaurantes no pátio do Mercado Central para almoçar. Sem pressa. Quem procura rapidez no atendimento está perdido pois há muita gente para ser atendida e os pratos demoram. Por vezes, até os garçons demoram. A comida desses restaurantes também não é a melhor do mundo. O local é conhecido pelo frescor dos seus alimentos e não necessariamente pelo sabor das suas receitas. O peixe do meu pai tinham um molho estranho, a base de queijo e limão, e os meus modestos camarões, por exemplo, estavam frios e pouco apetitosos. Mas culpo a minha falta de conhecimento... Se eu pudesse voltar, apostaria em opções simples pois a grande sacada do lugar é a qualidade e não o tempero.

O centro histórico

Saímos do Mercado Central em direção a Plaza de Armas. Apesar de a diferença entre um ponto e outro ser de quatro quarteirões e ambos serem considerados centro, a sensação é a de estar em outro bairro. Enquanto a região do Mercado Central é marcada pelo comércio e pelo burburinho dos seus consumidores, a região da Plaza de Armas é marcada, principalmente, pela história.

(Sem dúvida, o monumento mais imponente de toda a praça)

Desde a fundação da cidade por Pedro de Valdivia, em 1541, é ali que a história acontece. O espaço é ponto de encontro de marchas, movimentos, passeatas e anúncios oficias do governo. Não por menos, a Plaza de Armas é considerada o marco-zero da cidade. Além disso, ao redor estão alguns dos monumentos mais importantes de Santiago.

Um deles é a Catedral Metropolitana, o principal templo da igreja católica em todo o país. Inaugurada em 1800, a catedral foi a quinta construção realizada naquele espaço. A ideia de erguer um templo no ponto mais central da cidade surgiu tempos depois da fundação da cidade, mas até que o edifício atual fosse construído, as outras edificações foram destruídas, ou para a construção de templos com novas dimensões, ou por causa de terremotos.

A Catedral é linda por fora e por ter uma fachada pouco rebuscada, muitos esperam que o seu interior seja igualmente simples. Mas por dentro ela é ainda mais bonita. Não é cheia de ouro ou vitrais coloridos, mas impressiona pela grandeza, pelos detalhes das estátuas em madeira, das pinturas barrocas e dos pilares de mármore. Para completar o "conjunto religioso" da praça, há ainda o Palacio Arzobispal e a Paróquia El Sagrario.

(O prédio do Correio com sua arquitetura de influência francesa)

A Plaza de Armas segue tem ainda uma série de edifícios importantes. Um dos mais bonitos é o prédio Central dos Correios, que ainda pertence a estatal chilena e é utilizada como sede administrativa da empresa. O Palácio da Independência, construído em 1808, abriga hoje o Museu Histórico Nacional, espaço que tem como objetivo facilitar o acesso a história do país e que, para isso, apresenta uma exposição permanente sobre o tema.

(Monumento aos povos indígenas)

Mas a praça também é espaço de interação para residentes e visitantes. Ali há jardins e bancos para se sentar, fontes usadas por crianças para se refrescar, coretos onde homens de todas as idades - principalmente os mais velhos, sejamos sinceros - passam a tarde jogando xadrez, e espaço livre para os mais diversos usos. Isso sem contar nos cafés que colocam caeiras e guarda-sóis nas calçadas para um café na hora do intervalo.

O caminho natural para quem está na Plaza de Armas é seguir até o Museu de Arte Pré-Colombiano, que dizem ser o museu mais incrível de toda a capital. mas para o nosso azar ele estava passando por reformas e só vai abrir as portas novamente em 2013... O jeito era seguir para o próximo destino, o Palacio de La Moneda, sede da presidência da República do Chile. O edifício inaugurado em 1812 é uma das únicas construções coloniais que ainda está de pé, fruto de um planejamento inteligente que considerou os terremotos que abalam o território chileno e se preocupou em erguer o local em pedras bem largas e resistentes. Feito para ser a Casa da Moeda, o edifício se converteu na sede da presidência em 1845.

(Os lagos na frente do Palácio de La Moneda que parecem ter sido construídos para afastar as pessoas da porta... será?)

O local já foi pisoteado, bombardeado e então restaurado... e continua lindo. Principalmente durante o verão chileno. As árvores dos jardins do palácio estavam sem flores, em compensação o gramado era um tapete que misturava o verde das plantas e o rosa das flores que pareciam ter acabado de cair. Não vi o palácio por dentro, não vi a tal da troca de guardas (que a propósito acontece em dias específicos, sempre às 10 horas da manhã), mas nem importei. Sentei ali, como os grupos de amigos e os casais de namorado, sem culpa, só para ver o tempo passar.

(As cores do verão)

Nenhum comentário:

Postar um comentário