sábado, 14 de abril de 2012

A boemia invade a cidade

Um dia me perguntaram o que eu mais gostava em Belo Horizonte. A primeira coisa que me veio a cabeça foi "a noite". Lembrei das images dos quarteirões fechados da Praça da Savassi, cheios de mesas, das ruas do Santa Teresa, sempre boêmias, e dos pequenos bares em esquinas escondidas que, contra tudo e todos (inclusive contra as leis da publicidade que pregam a exposição da marca para alcançar sucesso), se enchem de gente. Até hoje eu me pergunto se é isso mesmo o que eu mais gosto, porque eu realmente gosto de muitas coisas na minha cidade. Mas uma certeza que tenho é que o clima botequeiro é parte da alma de beagá.

(Butecos enchem as calçadas do bairro Lourdes. Foto tirada desse link)

Essa pergunta me veio a cabeça novamente no início dessa semana, quando vi alguns bares decorando paredes e tetos com bandeirolas do Comida di Buteco, o maior concurso gastronômico do Brasil. Para quem não sabe, o Comida di Buteco foi criado em Belo Horizonte, em 2000, como uma forma de incentivar a culinária local. Foi um sucesso quase instantâneo. O concurso foi movimentando o setor gastronômico e ganhando cada vez mais adeptos. Hoje ele se expandiu tanto que já está em 16 cidades.

É um evento genial em todos os sentidos, mas há um motivo que torna esse fato incontestável: ele valoriza o que é nosso. Historicamente, o Brasil sempre foi um país influenciado por outras culturas. Começou com a chegada dos portugueses e continuou com a vinda de africanos em navios negreiros, com a disseminação da "alta cultura" europeia e, mais tarde, com o american way of life. Por sermos um país tão novo e tão diverso, demoramos a enxergar o que era "nosso" e o que era "do outro". Essa distinção ficou mais clara na época da independência do país, devido a necessidade de criação de uma identidade nacional, e se aprofundou no século XX, a partir de uma série de movimentos de valorização da cultura tipicamente brasileira. Foi aí que o Brasil se tornou referência (por vezes mundial) em alguns quesitos, como música e dança. Mas no que diz respeito à gastronomia, ficamos para trás.

(Acima, o Barracão Butiquim, um dos melhores bares de Belo Horizonte, é nada mais nada menos que o quintal de uma casa. Um bar tipicamente brasileiro, com comida tipicamente brasileira. Foto tirada desse link)

A verdade é que não somos um país de pratos chiques, mas de pratos criativos e fáceis de comer. Tampouco um país de restaurantes finos, mas de self-service no almoço e petisco no jantar. E isso parecia péssimo frente a um mundo em que só os restaurantes de lux ganhavam prêmios e estrelas. É aí que entra o Comida di Buteco. Ao perceber que apesar de toda riqueza gastronômica, os bares não tinham o prestígio que mereciam, criou-se um concurso para exaltar a criatividade desses estabelecimentos.

(O prato do Adega e Churrasco: Carne ao Pupurri de Minas. Foto tirada desse link)

Como o próprio idealizar do concurso diz: "Há séculos, o boteco faz parte da paisagem de nossas cidades. Mas por ser um espaço de comércio popular, não despertava a atenção necessária e, portanto, vivia à margem da sociedade. Quando o Comida di Buteco começou em Belo Horizonte, foi como se colocássemos um holofote sobre toda a riqueza da culinária de raiz da nossa região e destes estabelecimentos que tem, em sua maioria, uma história familiar por trás. Isso mudou a forma como as pessoas viam o boteco, e, junto a esse carinho para o qual a população se despertou, os estabelecimentos também tiveram a oportunidade de se profissionalizar e de se tornar sustentável, sem deixar de lado sua essência" (Eduardo Maya, no site oficial do concurso)

(Os bares Barção Moreira com o prato R&J e seus convidados e 222 com o prato Foi no jiló, agora é na bruschetta!. Fotos tiradas desse link)

Como disse, é uma ideia genial. O Comida di Buteco convida bares tradicionais, com comida de qualidade, e traz visibilidade e oportunidade de crescimento. Em troca, o bar tem que usar sua criatividade e fazer um prato delicioso para o público, que normalmente continua no cardápio mesmo depois do fim da competição. O concurso movimenta milhões de reais por ano, cria centenas de receitas novas e leva milhões de pessoas aos butecos das cidades participantes. E o mais importante: incentiva o turismo (internacional, inclusive), a gastronomia local e faz o brasileiro se orgulhar da sua cultura. Por mais besta que possa parecer, chego a ter orgulho de ter nascido na cidade que inventou o concurso.

(O Balaio de Gato ainda não está no evento, mas é uma das minhas apostas para as próximas edições. Foto tirada desse link)

O Comida di Buteco 2012 começou ontem. Em Belo Horizonte são 41 bares participantes espalhados por todas as regionais e o ingrediente especial desse ano é o queijo minas. Se beagá já é a capital do boteco em dias normais, ela vira de cabeça para baixo quando o concurso começa. Por volta das 18h os bares já se organizam para receber as pessoas. Milhares delas, todos os dias. Há inconvenientes como filas e bares lotados, mas vale a pena esperar. A boemia invade (mais) cidade.

Para conhecer todos os bares participantes da edição 2012 é só clicar aqui!

2 comentários:

  1. BH é uma das cidades que faz parte da minha lista imaginárias de cidades brasileiras que preciso conhecer!

    Não sei se faz tempo que mudou o layout, pq leio os posts pelo google reader, mas ficou ótimo!!

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  2. Oi Lais! Faz um tempinho sim! Que bom que gostou =)
    Eu adoro de BH então não tem como eu ser imparcial... Hehehe! Mas ela tem aspectos realmente único! Vale a pena conhecer! Tire a prova você mesma: vem pra cá! Quem sabe a gente não se conhece?
    Beijos!

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