terça-feira, 21 de agosto de 2012

Crescer sem se perder

Na minha viagem para Brasília, tive a oportunidade de passar três dias em São Jorge, uma linda vila na Chapada dos Veadeiros. O lugarejo, conhecido carinhosamente com "joia da chapada" faz jus ao seu apelido não só pelas belezas naturais, mas também pelas pessoas, pelo clima, pela cidadela em si.

São Jorge é o tipo do local que a gente quer mostrar para todos os nossos amigos e, ao mesmo tempo, esconder dos estranhos. Eis o ponto. Como garantir um crescimento sustentável? O que é necessário fazer para que o turismo se desenvolva sem que a vila perca suas características locais?

(O turismo vai ter a cara que os turistas quiserem dar. Foto tirada desse link)

Crescer sem se perder. Esse é, na minha opinião, o grande desafio do turismo. Se a beleza de uma cidade é o que ela tem de diferente, desde os seus aspectos arquitetônicos até os mais particulares como tradições regionais, essa característica deve ser conservada. E essa conservação tem de estar em equilíbrio com a divulgação, já que é importante que o turismo se desenvolva pois ele traz renda para a cidade. Mas quanto mais gente divulga e mais gente conhece, mais serviços são necessários para suprir a demanda das pessoas que também querem visitar. Em um dado momento, a cidade passa a servir ao turista e não mais à sua população... e, assim, o estrago está feito.

Fui à São Jorge no primeiro fim de semana do XII Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros e a vila estava cheia. Sei que aquele era um momento atípico, mas eu não parava de pensar em como era importante que a cidade continuasse sendo ela mesma, que as pessoas continuassem levando a vida que levam e que as manifestações culturais continuassem sendo verdadeiras, e não meras representações para agradar visitantes (como eu).

Essa viagem me fez lembrar de uma conversa que tive sobre o Patio de los Naranjos, uma praça pública que fica dentro da Catedral de Sevilla. Ela era ponto de encontro na cidade e fazia parte do cotidiano dos cidadãos, até ser fechada e convertida em ponto turístico. Para entrar, tem que pagar.

Longe de trazer uma resposta, prefiro deixar aqui uma reflexão. Que tipo de turismo deve ser praticado? E qual é o meu papel como turista nessa história toda?

Semana passada encontrei um texto legal no blog do Turismo Backpacker sobre A influência do turismo backpacker no processo de revitalização em áreas urbanas marginalizadas. O estudo (que você pode ler na íntegra, aqui) mostra como certas práticas e perspectivas, normalmente adotadas pelos turistas com perfil de mochileiros, ajudam essa atividade a se tornar mais sustentável.

"O turismo backpacker caracteriza-se pelo seu estilo de viagem independente, flexível, consciente e econômico; assim, o presente trabalho teve como principal intuito promover uma discussão acerca do turismo mochileiro como um elemento relevante no processo de revitalização de áreas urbanas marginalizadas, considerando que o fenômeno turístico envolve questões que vão além da visita em si, relacionando-se  também com os aspectos socioculturais do local. Tomando como estudo de caso a Praça da República/SP e seu entorno (...). Assim, a pesquisa estuda e sugere reconhecimento de potencial e, inserção maior do público mochileiro no local, com intuito de revitalizações sócio-culturais. Buscou-se por fim, elucidar ações necessárias para promover uma interação maior entre os atributos estudados, podendo contribuir para estudos futuros ligados à revitalização de áreas visitadas por este público" - Resumo, página 8

O turismo backpacker ainda é cheio de preconceitos. Muitos associam a prática ao turismo de aventura ou mesmo a um perfil "natureba". Não é preciso nada disso para mochilar. Muito menos para agir como um.

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