terça-feira, 23 de agosto de 2011

O dia em que eu me encantei pela França

Quando escutamos alguma palavra certas imagens se formam na nossa cabeça. Sempre que ouvia a palavra "França" pensava em uma rua pouco movimentada, com árvores de troncos claros e folhas verdes. Os prédios históricos de 3 andares, todos alinhados, guardavam lojas no primeiro andar. Uma delas seria um café de nome chique, com enormes guarda-sóis vermelhos na calçada. Em baixo dos guarda-sóis, mesas e cadeiras de madeira. Os garçons de calça e blusa social atendiam a todos. Cafés, chás e pequenas cestas de croissant. Jovens fumando com classe e estilo. Essa França existe!

(A imagem que descrevi acima ganhou forma em Aix-en-Provence)

Quando chegamos a Aix-en-Provence a única coisa da qual nos arrependermos foi de não termos visto fotos antes. Se isso tivesse acontecido eu gastaria mais tempo ali. Dois dias, uma semana, a vida toda. Aix é a cidade perfeita para se morar. Ela tem arte, história, modernidade. Pessoas amáveis e jovens despojados. Tem cafés, bares, lojas, praças e uma vida cultural que anda a mil por hora. E o melhor: te faz sentir especial. Não da forma como você se sentiria em Saint-Tropez, mas especial simplesmente por existir e poder estar ali. Em Aix-en-Provence, a sensação é a de que não se pode estar em lugar melhor.

O carro ficou distante do centro, no estacionamento de uma faculdade. Passamos por alguns parques e praças até chegar à cidade de fato. A arquitetura en Aix foge um pouco do estilo das demais cidade do sul da França. Ela preserva as cores quentes da região e seus prédios ao estilo beira-mar, mas acrescenta a isso uma série de construções históricas clássicas.

(Torre próxima à prefeitura da cidade. Foto tirada desse link)


Diferença histórica


A história de Aix-en-Provence talvez seja o motivo pelo qual sua arquitetura se diferencie das demais. A cidade sempre foi disputada por um sem número de culturas diferentes. Começou ainda no século IV a.C. quando uma tribo celta instalou sua capital ao norte da cidade. Em I a.C. os gregos de Marseille destruíram a cidadela celta e construíram uma vila perto das fontes de água quente de Aix, que tornou-se um entreposto seguro que garantia o comércio entre Marseille e os romanos. Uma série de tribos da Europa Central lutaram pela cidade sem obter sucesso.

Foi por causa do interesse dos romanos em Aix-en- Provence que a cidade ganhou uma série de construções interessantes, inclusive um teatro. Algumas partes da cidade passam a ser negligenciadas, o que não mostra o declínio de Aix, mas sim uma reorganização territorial. Quando se tornou a capital de Narbonne no século IV, foi construída uma diocese. Até o século VIII ela foi invadida por visigodos, francos, lombardos e sarracenos.

(Resquícios da antiga mistura cultural)

A coisa muda no século XII, quando os condes de Provence resolvem deixar as cidades de Avignon e Arles - aonde já detiam o poder político e religioso - e construir uma nova morada. Aix ganha um novo status e se transforma na capital de Provence. E com a ida do Rei René para a cidade, ela se vê dotada de um crescimento sem precedentes. Centro cultural, centro universitário, tribunal de direito, prédios públicos...

Os que eu vi

O centro histórico de Aix-en-Provence é realmente encantador. Mil ruelas e mais uma centena de ruas com grandes calçadas. Nelas, vasos de flores, bicicletas recostadas, cadeiras que acomodam os mais diversos tipos de pessoas. Entre uma rua e outra, um belo edifício. A igreja Saint-Jean de Malte é uma delas. finalizada em 1277, é a primeira igreja gótica de Provence. A torre chega a 67 metros de altura e se constitui no ponto mais alto da cidade.

(O cume da cidade. Foto tirada desse link)

Outra igreja que vale a visita é a Catedral Saint-Saveur. Segundo a lenda, ela foi construída em cima de um templo dedicado ao deus Apolo. O prédio reúne uma série de estilos arquitetônicos distintos. A primeira fachada, de influência românica, foi feita ainda no século XII. Mais tarde, foi incluído um muro feito de blocos. A porta é a parte mais recente do local e ganhou inspiração gótica.


(Contraste de luzes na catedral)


A outra igreja que visitamos é a Madeleine. Por causa da sua fachada, ela foi consagrada durante muito tempo como o mais belo prédio da região de Bouches-de-Rhône. Não foi possível entrar no local pois a reforma da igreja, que começou em 2006, deve terminar somente em 2013. Mas isso era o de menos. A praça dos pregradores, onde fica a igreja, é um encanto em si só.

O fonte dos pregadores, que culmina em um grande obelisco no meio da praça, sinaliza o início da região central de Aix. A praça também recebe uma feirinha em dias específicos da semana. Aliás, feiras são coisas comuns por ali. A feira de discos, CDs e DVDs fica na praça de Joana D'arc. A feira de antiquidades na rua Mirabeau. A feira de livros antigos, na praça da prefeitura. Isso para citar algumas.

(Obelisco dos pregadores. Ponto de encontro e convite para um café ali perto)

A cidade também esbanja museus e galerias de arte. Visitamos o museu histórico de Aix e ali pudemos ver dezenas de obras de arte que retratavam a cidade. Eram aquarelas e esculturas que traziam os mais distintos pontos de vista sobre a cidade. Uma exposição paralela do mesmo museu trazia as peças de artesãos representando as festas típicas e da cidade em mil bonequinhos e cenários diferentes.

Aix-en-Provence tem orgulho da sua arte. Principalmente se levarmos em conta que ali nasceram artistas tão importantes para o país quanto o escritor e jornalista Émile Zola e o pintor Paul Cézanne. Este, inclusive, é reverenciado. As camisas, chaveiros e dedais de costura das lojinhas de souvenirs levam seu nome e seus quadros estampados. O governo preserva um museu em seu nome, uma galeria de arte e a casa onde viveu de forma sagrada.

(Especialistas de todo o mundo ainda perguntam a influência da cidade nas pinturas do pós-impressionista francês. Foto tirada desse link)

Não é difícil entender porque Cézanne passou a vida toda por ali. Eu faria o mesmo. Muitos fariam o mesmo. Aix-en-Provence é uma cidade que não precisa de muito para mostrar o melhor de si.

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