sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Viver bem em Santiago

Uma cidade do primeiro mundo. Essa é a impressão que se tem de Santiago, capital do Chile, um local cheio de encantos. Com suas ruas aconchegantes, mesas nas calçadas e candeeiros a moda antiga, a cidade transborda sofisticação.

(Candeeiros, plátanos verdes e prédios com varandas coloridas. Detalhes de uma bela capital)

Há dados concretos para considerar Santiago uma cidade do primeiro mundo. A capital chilena tem a terceira melhor qualidade de vida da América Latina, perdendo apenas para Buenos Aires e Montevidéu. É também a 53º cidade mais rica do mundo e apresenta um ensino escolar e universitário exemplares. Mas mesmo sem esses dados é fácil sentir que Santiago é uma cidade de primeiro mundo. E não é por causa da sua beleza. A beleza pode estar em qualquer lugar. A diferença é a mentalidade da sua população.

Não estou aqui criando critérios para dizer o que torna uma cidade desenvolvida ou não e muito menos querendo dizer quem é melhor ou pior. Mas é fato que as melhores cidades para se viver apresentam características similares. Abaixo, itens que me fazem classificar uma cidade como primeiro mundo - e que Santiago tem.

(Sofisticação urbana)

Serviços públicos eficientes: Cidades que prezam pelo bem estar do seus habitantes são aquelas que proporcionam serviços públicos de qualidade. O transporte é um excelente "medidor" pois além de ser usado por todos, todos os dias, é um dos mais difíceis de serem resolvidos. Para um transporte público de qualidade é preciso que ele tenha capacidade para todos os habitantes, que não seja absurdamente caro, que não atrase e que proporcione uma grande diversidade de equipamentos, como táxis, ônibus e metrôs, além de ciclovias e boas calçadas para os transeuntes. Santiago tem isso tudo. Não é a toa que você não vê pessoas estressadas, correndo para pegar metros, porque em 5 minutos passa outro. Também há pouco engarrafamento pois o transporte público funciona e o número de carros na rua diminui.

Espaços públicos: Em alguns países "o que é público não é de ninguém". É por isso que os monumentos ficam abandonados, os patrimônios são pichados, os jardins são mal cuidados, as praças são ocupadas por mendigos e os equipamentos públicos são roubados - já que não têm dono mesmo. As pessoas não criam um sentimento de pertencimento. Lembro que quando cheguei em Paris fiquei encantada ao ver praças, jardins e parques cheios de pessoas o tempo inteiro. Isso porque nos países de primeiro mundo "o que é público é de todos".

Limpeza: Lugares aonde as pessoas não jogam lixo na rua, não depredam patrimônios públicos e fazem de tudo para manter o local bem arrumado são diferentes. Não é só uma questão de beleza, mas sim de cultura. Quanto mais limpa uma cidade, maior é a vontade de fazer com que ela continue assim, e mais limpa ela fica. É um ciclo vicioso.  Afinal, se o que é público é de todos, não posso sujar uma rua já que ela também é minha. E nada melhor do que visitar, passear ou mesmo viver em uma cidade limpa, bonita e bem cuidada.

Povo educado: Educação não é ter uma população formada por jovens talentos universitários e empreendedores de sucesso (não que o Chile não possa se orgulhar do seu sistema de ensino). Quando falo em educação falo em cotidiano. Pedir licença, falra obrigado, dar informações sem se irritar, entender as necessidades do cliente, respeitar o pedestre. Basicamente se importar com o outro. Em Santiago as pessoas são educadas e isso se enxerga nos pequenos detalhes.

4 comentários:

  1. Muito bom o post e penso do mesmo jeito que você!
    Deu mais vontade ainda de conhecer Santiago.

    ResponderExcluir
  2. Tô gostando muito dos posts e concordo com a sua visão qualidade de vida de Santiago, sobretudo pelas praças e transporte público, que são muito bons, ainda mais com a referência que temos no Brasil (nem vou falar no metrô de BH). Mas acho que alguns pontos podem ser vistos de uma forma mais desigual.

    A questão do ensino, principalmente o universitário, é uma polêmica. Todas as universidades são pagas, os estudantes de Santiago realizam protestos todos os anos, há muita discussão sobre o alcance das bolsas de desconto cedidas pelo governo.

    Alguns bairros têm uma qualidade de vida bem diferente de Bellavista e Providencia. Esses são a Savassi e o Belvedere de BH, forçando uma comparação. Na Estação Central, por exemplo, se vê sujeira nas ruas e muitos mendigos pedindo esmola.

    Como em BH, há bairros e condomínios de luxo relativamente afastados do centro de Santiago, como Alto Las Condes, que se parece com as mansões do Castelo ou Pampulha. Mas também há favelas, espalhadas nas beiras das autopistas, assim como a gente vê na beira do Anel Rodoviário.

    Também tem a questão dos imigrantes. Vi muitos peruanos e bolivianos com os mesmos problemas de sub-empregos que a gente via dos nordestinos em SP (não sei como a situação está hoje). Mas é claro, imigração envolve muitas questões maiores que só o governo chileno.

    Nada disso invalida sua visão e acho mais que normal que um brasileiro dê valor às conquistas que o Chile alcançou. Mas acaba que essa polaridade entre primeiro e terceiro mundo vai se desmanchando um pouco, principalmente em cidades grandes, como Santiago, que parecem sofrer dessa globalização da desigualdade.

    E essa discussão também está presente no Chile, que vai alternando seus representantes de "direita" e "esquerda" e caminha um pouco incerto sobre o que fazer com os avanços que conquistaram.

    ResponderExcluir
  3. Oi Bruno!
    Interessantíssimo tudo o que você escreveu! Algumas coisas não sabia, como por exemplo, o fato de que todas as Universidades são públicas. Acho que a população de Santiago está certíssima em lutar por um ensino superior de qualidade!

    Sobre a possível pobreza da cidade... é de se esperar. A matéria que escrevei não pretende esconder que a capital do Chile tem suas mazelas. Afinal, como você mesmo disse, a maior parte das cidades grandes (senão todas) "parecem sofrer dessa globalização da desigualdade". Admito que vi poucos bairros feios, afinal, meu trajeto foi bem "turístico" diremos assim. Mas com um olhar atento até o turista consegue ver algumas coisas, como a pobreza próxima bairro Brasil, além de muitos pedintes e mendigos nas ruas em diversos locais.

    De toda forma, quis citar esses quatro pontos porque eles são muito evidentes e comuns em outras cidades ditas "desenvolvidas"! Acho que temos muito o que aprender com a gestão chilena!

    Beijos!!

    ResponderExcluir
  4. Pois é, essa situação das universidades é meio estranha e eu não entendo direito, mas pelo que entendi, tem universidades públicas, como a de Chile e a Usach, e particulares, como a Católica. Acontece que mesmo nas públicas é preciso pagar, mas essa quantia varia de acordo com o auxílio do governo, que pode diminuir o custo e até dar bolsa de alimentação e etc., e isso depende de várias coisas como uma prova a la Enem que eles têm. Mas não entendo direito como funciona.

    Mas você tem razão. Tem muita coisa do Chile que seria bom ter por aqui. Beijos!!

    ResponderExcluir