terça-feira, 3 de julho de 2012

Outros passeios em Foz do Iguaçu

Foz do Iguaçu é o segundo destino que mais recebe turistas no país. O motivo principal é um só: ver as CataratasMilhares de pessoas atravessam estados, países ou mesmo oceanos para ver as 275 cachoeiras que compõem a paisagem. O cenário é mesmo espetacular! Mas se com no máximo dois dias dá para ver as Cataratas de quase todos os ângulos possíveis... o que mais dá pra fazer na cidade? Abaixo, alguns dos passeios que fiz e recomendo.

Parque das Aves

Quando falaram em Parque das Aves pensei que ia fazer uma visita ao zoológico da cidade. No caso, um zoológico só de pássaros. Felizmente, eu estava errada.

(Blogueiros ouvindo as instruções da Kárin, na entrada do Parque das Aves)

São quilômetros de área verde preservada ou reflorestada. Tudo feito pelas mãos do casal Dennis e Anna Croukamp. Eles não tiveram ajuda do governo e não fizeram o parque como uma compensação ambiental a algum empreendimento. Ao que tudo indica, era somente um casal rico, apaixonado por pássaros, que encontrou  em Foz do Iguaçu o local perfeito para o sonho de "criar um parque temático dedicado à conservação dos animais".

(Flamingos são animais que vivem em bandos com outros milhares de animais da mesma espécia. O espelho é uma forma de fazer com que eles se sintam seguros por estarem rodeados de "coleguinhas)

O início do passeio acontece entre grandes gaiolas de aves. Algumas delas guardam espécies em extinção que estão ali exatamente com o intuito de se reproduzir. O pessoal do parque também realiza diversos estudos com os animais para entender um pouco mais dos seus hábitos e poder ajudar no desenvolvimento da espécie.
Até então, tudo certo. O Parque era enorme e parecia cumprir a sua função de refúgio daquelas espécias. Isso sem contar nos pássaros coloridos que faziam aquele espaço ser realmente especial. Mas poucos minutos depois a gente deixou de ver tudo do lado de fora e passou a entrar nas gaiolas. Os pássaros voavam por cima de nós e pousavam do nosso lado. É possível ficar a poucos centímetros de distância de um canário, arara, papagaio ou mesmo um tucano. Por vezes, é possível tocar em um deles.

(As lindas cores desses tucanos não foram captadas com zoom!)
(Esse tucaninho colorido fazia dengo igual animal de estimação...) 

O viveiro mais legal era o das Araras, o último do passeio. É um espaço realmente enorme com dezenas delas voando para todos os lados. Elas estão paradas e em questão de segundo abrem as asas e passam por cima das cabeças de todos. Algumas chegam tão perto que, no susto, todo mundo se abaixa! É incrível. Vi muitas crianças e adultos maravilhados com as aves ali dentro e acho que o Parque faz a sua parte no desejo (um dia, coletivo) de restaurar ou pelo menos preservar a flora brasileira.

(Algumas das araras no viveiro mais esperado do passeio)

Itaipu Binacional

Aquele tanto de água que eu vi descer o curso do rio não serve só para encher os olhos dos turistas, mas para gerar energia a milhões de pessoas.

Tudo graças a Usina Hidrelétrica de Itaipu, inaugurada em 1982. A história começou ainda em 1973 quando Brasil e Paraguai assinaram um acordo que tinha como objetivo o uso do rio Paraná para fins energéticos de forma igualitária entre os dois países. A partir de então, os governos de ambos os países trabalharam juntos não só para encontrar o melhor local para a edificação da usina mas também em todos os processos, desde a construção da barragem até o aproveitamento financeiro.

(Vista das comportas)

Itaipu gera 14 mil megawats por hora, o suficiente para iluminar 50 milhões de casas. É difícil imaginar como essa estrutura gera tanta energia. Um dos únicos momentos em que visitantes como nós conseguem realmente sentir a força das águas é quando os vertedouros estão abertos. Não é uma cena muito comum pois a usina atende as necessidades de geração de energia e não as necessidades fotográficas dos turistas. Em 90% do ano o vertedouro fica fechado pois o nível de água dentro da barragem normalmente é estável. Quando esse nível ultrapassa o limite crítico (por excesso de chuva ou outro motivo extraordinário) os vertedouros se abrem. Isso acontece cerca de 40 dias por ano. E aquele era um deles.

(O dia estava chuvoso e estava ficando quase tão molhada quanto no dia do passeio pelas Cataratas. Mas ver o vertedouros abertos valeu a pena)

É um cena incrível. A gente sabia que tinha dado sorte. Afinal, é raro o volume de água ultrapassar os limites de uma barragem com 196 metros de altura (o tamanho de um prédio de 65 andares) e 2,5 km de extensão. Ela tem capacidade de armazenamento de 63 milhões de litros d'água...
(A faixa que marca a fronteira entre Brasil e Paraguai e, embaixo, um pouco do que é possível enxergar para quem está na barragem)

Depois de toucas "de cozinha" e capacetes a postos, itens obrigatórios para trabalhadores e visitantes, entramos em Itaipu. É possível visitar quase todos os espaços internos. Há duas coisas que mais me chamaram atenção. Uma delas é o painel de fotos em uma sala que mostra imagens aéreas em diversos momentos da construção da Usina. Não é preciso fotos para quem tem a curiosidade de olhar para cima e para baixo em diversos momentos e ver como o local é assustadoramente gigante.

Outra parte legal é a sala de controle. Ok, ela parece uma nave espacial e isso já é intrigante por si só. Mas o melhor é a forma como trabalham. A sala está na fronteira entre Paraguai e Brasil. Metade perfeita está em um país e metade em outro. 11 técnicos trabalham ali sendo 5 brasileiros e 5 paraguaios. O décimo primeiro é o técnico geral e na verdade são dois: eles cumprem turnos de 6 horas cada. Porque dois? Um é paraguaio e outro brasileiro, claro. A sala não só comanda as operações de toda a usina como também dá o exemplo para todos os funcionários mostrando que aquele território é realmente binacional. É ali que vemos que o tratado assinado em 1973 é sempre atual.

(A cada dois tubos desse passa uma Catarata inteira... Dá para encostar no tubo e sentir a força da água passando. Abaixo, a sala de controle)

Um agradecimento especial à equipe da Loumar Turismo, que organizou os passeios e nos acompanhou em todas as aventuras!

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Embaixo das cachoeiras

As Cataratas do Iguaçu estão entre as paisagens mais impressionantes que já vi na vida. É um daqueles passeios que não se explica e que mais vale a pena insistir para o seu amigo ir do que tentar fazê-lo entender. Após um passeio incrível pelo Parque Nacional, de um sem número de fotos de arco-íris e de um banho de água fria não intencional, a gente resolveu ver as Cataratas por outro ângulo. Mais especificamente, pelo ângulo de quem está dentro dela.
(O nosso carrinho e os blogueiros, ainda secos)

O passeio na embarcação do Macuco Safari começa com um trajeto por entre as matas que preservam o local. Trinta minutos depois os monitores já avisam: hora de trocar de roupa ou de se preparar para o banho. Eu me encaixava mais na segunda opção. Deixei meus pertences no banco e coloquei o colete salva-vidas.

Eu me diverti a beça, mas sei que esse não é um passeio recomendado pra todo mundo. O motorista do bote inflável veleja rápido e o barco dá grande pulos devido as a força das águas. Tem hora que ele faz curvas que nos faz pensar que vamos todos virar e ser levados pela correnteza. A hora mais tensa, claro, é quando ele acelera em direção às cascatas. Nessa hora a gente fica com medo que alguém caia, medo que o barco perca a direção, medo que ele perca o freio. Tem muita gente que não gosta... Eu tremi... mas depois que vi que não tinha volta, resolvi não pensar em nada disso e aproveitar o passeio (se não fosse mais voltar, pelo menos não teria sofrido por antecipação).

Dizem que as pessoas que ficam mais perto da morte, se sentem ainda mais vivas. Se o medo não te consumir e você souber aproveitar o passeio, vai se sentir vivo cada minuto. O vídeo abaixo foi feito pelo Alex do The Minute Tour e fala por si só.



Um agradecimento especial à equipe da Loumar Turismo, que organizou os passeios e nos acompanhou em todas as aventuras!

terça-feira, 26 de junho de 2012

A força das Cataratas do Iguaçu

Quando a gente é criança, tudo nos faz ficar de boca aberta. Um escorregador gigante, uma bola de neve, a sensação de colocar os pés no mar. Com o tempo vai ficando cada vez mais difícil ver algo que nos deixe verdadeiramente atônitos. Não posso dizer o mesmo de mim porque sou meio besta (mesmo) e acho graça em muita coisa banal. Céus cheios de nuvens, estradas verdes e sinuosas, pessoas felizes cantando em voz alta... são coisas que me fazem ganhar o dia. Mas poucas vezes me senti tão extasiada quanto o dia em que visitei as Cataratas do Iguaçu.

(As cores dos arco-iris se misturavam aos litros e litros d'água e ao barulho das cascatas)

Para entender o que são as Cataratas, imagine uma cachoeira comum. Agora multiplique o número de quedas por cem e a força das águas por cinquenta e você vai estar perto do que acontece ali. Para ser mais exata, as Cataratas são compostas por 275 quedas que, juntas, geram um fluxo de 1,5 milhões de litros de água por segundo. Os números me ajudaram um pouco a entender o tamanho, mas eles seriam só números se eu não tivesse ido lá. É preciso sentir.


Caminho das águas

As Cataratas estão dentro do Parque Nacional do Iguaçu, uma unidade de conservação que preserva a Mata Atlântica que ainda resta no local, um dos mais importantes (e limpos) afluentes do Rio Iguaçu e as lindas cachoeiras que enchem os olhos dos turistas.

(A água é mesmo o símbolo do local e está presente em tudo, da entrada do parque aos souvenirs das lojinhas de conveniência)

Me disseram que para chegar até a Garganta do Diabo, a maior queda das Cataratas, era preciso andar um bocado por dentro do parque. Imaginei que demoraria um pouco para ver a primeira cascata, apesar de o barulho das águas parecer cair tão perto da gente. Mas logo na primeira descida encontrei um conjunto de cachoeiras maior do que qualquer outra que já tinha visto. E olha que aquilo era apenas o início do passeio.


O caminho sinuoso, recortado entre as árvores, era cheio de espaços abertos e pequenos mirantes. Afinal tem queda d'água para todos os lados. Algumas são pequenas. Outras são tão grandes que ao bater no rio acabam subindo de novo e formando pequenas nuvens em forma de vapor.


Ao longo do caminho, placas indicam aos turistas para não ficarem preocupados se sentirem gotas caindo do céu. Não é chuva, mas uma leve garoa que chega até a mata devido a força das águas. Outro fenômeno comum - que nenhuma placa avisa - é a formação de arco-íris. Enorme, eles pareciam começar nas matas e terminar no meio do rio.

(Parada em um dos mirantes para apreciar o que a água e o sol sabem fazer de melhor)

Do lado brasileiro

A rivalidade entre Brasil e Argentina não acontece só no campo de futebol. Parte das Cataratas está na nossa terrinha, e parte na terra dos hermanos. A maior parte das pessoas diz que do lado de lá é mais bonito. Isso eu não sei. Mas posso garantir que a caminhada pelo lado brasileiro vale muito a pena.

O caminho termina em uma passarela que conduz o visitante até o meio do rio, em frente à Garganta do Diabo. Atenção: se você quiser aproveitar o visual de verdade, vai se molhar por inteiro, isso eu te garanto. A capa de chuva ajuda bastante e usar roupas impermeáveis também é uma excelente opção. Mas se você quer sair seco... só levando outra roupa para trocar depois.


Se quando eu cheguei na passarela já tinha os cabelos molhados, no meio dela eu estava completamente encharcada. Mas eu não tava nem aí...! Não ia fazer o passeio com pressa por medo de me molhar. Fui, voltei, fui de novo, tirei um monte de fotos, parei tudo para olhar a paisagem, perdi o rumo... É um caminho estonteante! O barulho é intenso e dá pra sentir a força das águas. Em alguns momentos eu vi arco-iris ao meu redor. Não há nada que pague uma experiência como essa...

 (Não é a melhor foto do mundo, mas ilustra um pouco a situação: dá para ver que a minha calça estava toda molhada. Não aparece muito, mas a blusa, o cabelo e a pele também. Mas quem se importa?)

Depois de um passeio desses é fácil entender porque as Cataratas do Iguaçu foram eleitas como uma das Sete Maravilhas Naturais do Mundo. Nada é capaz de transmitir a sensação de estar no meio desse lugar. Nenhum texto, nenhuma foto. Aliás, esse é um dos lugares que nos fazem lembrar porque a gente viaja ao invés de ficar no sofá trocando os canais do controle remoto. O vídeo abaixo é uma tentativa modesta de faze uma panorâmica das cachoeiras, ainda no primeiro mirante do trajeto.


Ao final do passeio, fomos almoçar no restaurante Porto Canoas. Apesar da comida estar deliciosa, me servi rápido, comi pouco e fui para o terraço me secar no sol. Estava morrendo de frio, mas realizada!


Um agradecimento especial à equipe da Loumar Turismo, que organizou os passeios e nos acompanhou em todas as aventuras!

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Influência dos blogs de viagem

95,9% dos brasileiro que usam internet acessam blogs, o que faz o Brasil ser o país com maior acesso a blogs em todo o mundo. Desse enorme universo de internautas, 10% deles buscam conteúdos relacionados a viagem. Esses são dados de uma pesquisa lançada pela Boo-Box, a primeira empresa brasileira de tecnologia para publicidade e mídias sociais, em junho desse ano. Esses e outros dados mostram claramente como os blogs de viagem vem crescendo na internet.

(Parte da pesquisa da Boo-Box. Para ler todo o conteúdo é só clicar aqui)

Fui conhecer esses e outros dados durante o 1º Encontro Internacional de Blogueiros de Turismo (Eibtur) que aconteceu em Foz do Iguaçu entre os dias 13 e 15 de junho. O evento tinha como objetivo principal reunir blogueiros nacionais e internacionais para discutir os rumos dos blogs de viagem.
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É fácil perceber que a internet está influenciando o mundo do turismo. Todos nós já pesquisamos o preço de uma passagem de avião, fizemos reserva de hotel a partir de um site de busca ou procuramos informações de passeios sobre uma cidade. Se alguém ainda não o fez, com certeza conhece alguém que já experimentou. Mas o impressionante foi ver como os internautas recorrem a blogs para buscar opiniões e dicas de viagem.
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(Pint screen da página do TripAdvisor, uma das maiores redes de viajantes do mundo. As resenhas e opiniões geradas no site são responsáveis pela decisão das pessoas em todo o mundo)

Mas porque a consulta a blogs e redes de viajantes é cada vez maior? Simples. As pessoas que estão por trás dessas mídias são... pessoas. Elas são reais, feitas de carne, osso, foto e perfil. Não são como sites que defendem uma marca. Também não são agências de turismo que querem vender um destino para obter uma parcela de lucro. 
A maior parte dos blogueiros começou por paixão, pelo simples desejo de compartilhar suas experiências. Mesmo quem vive disso (sim, há pessoas que vivem disso) tem autonomia para dar sua opinião e contar o que viu e o que não viu, o que comeu e o que não comeu, o que gostou e o que não gostou. E em um mundo tão impessoal, os internautas estão buscando pessoas reais. E essas pessoas reais, meu caro Watson, somos nós.
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Todos temos o poder de influenciar os outros. Fazemos isso o tempo todo, com amigos e familiares. Mas a minha verdadeira preocupação é que, na internet, esse poder é multiplicado. Como? Outra pesquisa mostra que mais de 50% dos internautas afirmam que uma resenha gerada por um viajante já influenciou a sua decisão de compra. Pensar que algo que eu escrevo pode ser responsável pela decisão de uma pessoa é importante para entender minha responsabilidade. Responsabilidade com o conteúdo, com os comentários, com as imagens e, principalmente, com as opiniões.
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(Blogueiros (reais) reunidos no 1º Eibtur com as Cataratas ao fundo. Foto: Pedro Serra - Blog Sem Destino)

Blog de viagem é um veículo de comunicação que não precisa de relevância jornalística. Os textos não precisam de gancho, entrevistados, aspas ou dados. Podem fazer isso tudo, claro, mas não se resumem a isso. Blogs de viagem precisam mesmo é de contar uma experiência. Blogueiros de viagem podem dar a sua opinião, podem usar adjetivos para falar bem, para falar mal... mas têm de reler o texto mil vezes antes de postar. Blogueiro de viagem tem de deixar claro se o post é pago ou não e se viajaram para o lugar ou se estão falando pela voz de outra pessoa. Os blogs são um campo em construção e os blogueiros podem inventar, testar, apostar em novas tendências... só não podem deixar de ser sinceros e éticos.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Blogueiros de viagem reunidos em Foz do Iguaçu

Duas das Sete Novas Maravilhas da Natureza são nossas. E é para uma delas que embarco amanhã. Sempre foi um sonho conhecer as Cataratas de Foz do Iguaçu. Imagine 275 quedas d'água caindo em um mesmo lugar. Deve ser uma imagem impressionante... É uma daquelas paisagens que todo mundo deveria ver, ao lado das praias de Fernando de Noronha, do Grand Canyon e das geleiras da Antártica. Eu ainda não vi nenhuma delas. Por enquanto.

 (Essa foto ainda não é minha. Ainda. Foto tirada desse link)

O objetivo da viagem, mais do que turístico, é profissional: entre os dias 13 e 15 de junho acontece o 1º Encontro Internacional de Blogueiros de Viagem, o Eibtur. O evento vai contar com palestras interessantes sobre o mundo do turismo e as novas formas de comunicação. A ideia é refletir o papel dos blogs em um mercado que movimenta aproximadamente 10% do PIB nacional. O Eibtur vai servir também como espaço de encontro para profissionais do mundo todo trocarem experiências. Uma ótima oportunidade para conhecer os blogueiros que eu sempre converso, mas nunca vi (mundo estranho esse, não?).

Meu avião parte às 7h da manhã. Isso significa que, muito provavelmente, vou chegar ao evento destruída pois o único horário que terei para arrumar as malas é de madrugada, antes das 4h da manhã, horário em que minha irmã me propôs a levar ao aeroporto. Mas tudo bem. A viagem sempre vale a pena!

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Interseções entre o jornalismo de viagem e a literatura

"Conta-nos como é a falta de ar no Karakoram, acima de quatro mil metros de altitude, e em Los Angeles, durante o smog. Testemunha a morte de escaladores no Annapurna. Quase morre durante uma nevasca perto do monte Whitney. Mergulha na beleza do mar de Bali. Acompanha mateiros no miolo da Floresta Amazônica. Resgata tradições de astecas, indianos, norte-americanos, chilenos e argentinos. Mostra o fatal encontro com uma tribo desconhecida de índios. Atravessa os contrafortes das Torres del Paine, do monte Fitzroy e do Cerro Torre. Compara comportamentos. Relembra livros e autores. Experimenta cardápios exóticos" (retirado do site da Editora Pulsar)


Algumas dessas experiências parecem loucura. Outras, parecem sonhos. A única certeza que se pode ter é que todas são únicas. E é exatamente isso que o escritor Luís Giffoni busca nas suas andanças pelo mundo: descobrir aquilo que é único em um país, uma cultura, um povo. Viajante inveterado, Giffoni já carimbou sue passaporte em mais de 50 países e já escreveu dezenas de crônicas sobre as experiências que viveu por aí. Algumas delas estão nos livros China - O Despertar do DragãoO Reino dos Puxões de Orelha e Outras Viagens e Retalhos do Mundo.

Mas o que diferencia o jornalismo de viagem da literatura viajeira? O que um escritor busca em uma viagem? É diferente do que busca um jornalista? Tive a oportunidade de conversar com o Luís durante a Bienal do Livro de Minas, que acontece dos dias 18 a 27 no Expominas, em Belo Horizonte. O evento busca falar sobre literatura e aproximar os leitores dos seus autores favoritos. Abaixo, a nossa conversa:



O jornalismo de viagem está caminhando para a literatura?
Se você quer fato de viagem você vai procurar um guia de viagem que possa dar todas as dicas. Se você quer uma experiência, um relato, você vai procurar um livro que fala sobre. É muito diferente, mas acho que há uma interseção entre eles sim. O que falta no jornalismo de viagem é tentar absorver a cultura estrangeira e colocá-la em um papel de percepção.

O que o senhor busca em uma viagem?
Eu não estou preocupado em citar locais, hotéis, roteiros. Estou preocupado com a cultura e como essa cultura interage com a minha. Não viajo meramente em busca de informações, mas é claro que uma viagem pode se transformar em ensaio, pois elas despertam uma curiosidade. Procuro ver a unicidade das culturas, o que há de comum e o que há de diferente. Também acho super interessante ver como as pessoas resolvem certas situações que, para nós, são coisas problemáticas. O convívio com a nudez e com o sexo em Bali é uma coisa muita tranquila. Eles têm estátuas espalhadas pelas cidades que seriam inadmissíveis no Brasil. Em compensação, nos países muçulmanos eles não permitem o consumo de álcool, algo quase banal por aqui.

O senhor passou por alguma situação que não conseguiu escrever?
Na Índia eu conheci uma pessoa que estava escravizada. Ela me suplicava para libertá-la, mas eu não podia fazer nada... Até hoje me lembro do seu olhar de súplica.

O senhor já sentiu um estrangeiro dentro do seu próprio país?
Eu nunca me senti um estrangeiro em lugar nenhum. Desde que você esteja aberto à cultura do outro você não vai passar por isso. O outro é diferente, isso não quer dizer que ele não é legal ou interessante. Mas uma coisa é certa: já estive em mais de 50 países, alguns eu atravessei de ponta a ponta, e sempre enxergo coisas novas.

(No dia 23 de maio, o Café Literário uniu Frei Betto, Luiz Ruffato e Luís Giffoni para discutir "A Construção do Romance")

A conversa com Luís Giffoni foi motivada por um debate interessante do qual ele era mediador. Durante o Café Literário, um evento que integra a Bienal e tem como objetivo realizar um bate papo informal entre autores e público, ele, Frei Betto e Luiz Ruffato discutiam "A construção do Romance". Durante aquele debate algumas coisas ficaram clara. A primeira foi que a maior dificuldade da literatura atual é construir uma narrativa inovadora e diferente do que já foi feito. A segunda é que para essa inovação acontecer não importa a história, é preciso saber contá-la de uma forma interessante.

"Literatura é a arte da linguagem. As vezes a narrativa é banal, mas a linguagem é de um sabor tão incrível que aquilo te prende", disse Frei Betto sobre o fazer literário. E ele está completo de razão. Existem histórias surpreendentes, mas grande parte da literatura passa por temáticas mais ou menos iguais. O mesmo acontece no jornalismo de viagem. As vezes escutamos alguém falar sobre os costumes de uma tribo indígena ou sobre as maravilhas daquela ilha o pacífico pouco explorada. Mas o grande volume de conteúdo gira em torno dos locais mais conhecidos como Paris, New York e Rio de Janeiro. O que faz desses relatos algo pouco ou muito interessante? A forma com que o autor fala sobre ele.

(Stands da Bienal do Livro de Minas)

O Brasil ainda é um país que está engatinhando no quesito crônicas de viagem e para quem quer se arriscar no caminho da literatura, os autores deram duas dicas valiosas:

1. Para ser um bom escritor é preciso ser um bom leitor. Assim, ande sempre com um livro mesmo que você tenha certeza que naquela dia não vai abrir nem uma página. No final da semana você vai se surpreender.
2. Nunca escreva pensando que a sua primeira redação vai ser a última. O importante é colocar no papel um início, um meio e um fim. Depois você vai burilando o texto até chegar naquilo que considera ideal. Afinal, o mais importante é a forma.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Impressões do sertão mineiro

Dizem por aí que a vida é feita de momentos. Eu diria que a vida é feita de encontros. Encontros com lugares, com culturas, com pessoas. Já faz 12 dias que estou viajando pelo norte de Minas com o projeto Cinema no Rio e encontrando lugares diferentes, culturas populares e pessoas incríveis. Seguindo essa lógica, posso dizer que que estou vivendo uma vida inteira em pouco tempo. Enquanto a viagem não termina, deixo aqui algumas impressões da vida no sertão.

(Em Barra do Pacuí, mulheres preparam os arcos para a Folia de Reis, uma tradição que eu aprendi aqui. Foto: André Fossati)

 - Durmo na beliche e já bati minha cabeça no teto da cabine várias vezes. Mas continuo achando que escolhi a cama certa porque acordar com o sol refletido no Velho Chico realmente não tem preço.

 - Aliás, a combinação entre sol e rio é uma das coisas mais impressionantes que tem por aqui. No décimo dia, resolvemos acordar cedo para ver o sol nascer. Um foi chamando o outro que foi chamando o outro e, no final, éramos 8 pessoas no teto do barco. A profusão de cores no céu parecia não acabar. Mais bonito ainda foi ver o pôr do sol. A correnteza do rio refletindo azuis, rosas, amarelos e laranjas. Vez ou outra passava um barquinho na contra-luz, formando a imagem ideal para um foto. Agora, todo dia é dia de ver o sol descer no São Francisco.

(Pôr-do-sol de ontem, em Pedras de Maria da Cruz)

 - Ontem comemos uma peixada feita especialmente pelo Zinho, o cordon bleu do nosso barco. Aos que, como eu, nunca gostaram de peixe de água doce, tente comer um deles pescado e feito na hora, com os temperos do norte de Minas. Não tem erro.

 - O nível do São Francisco está baixo. Isso pode ser uma questão climática e de falta de chuvas, não necessariamente um sinal de que ele está morrendo. Mas uma coisa é certa: ele está vivendo um processo de assoreamento. Ouvi muitas pessoas dizerem que antes os bancos de areia não eram tão frequentes e o rio tinha menos sedimentos. Isso a gente pode sentir na pele depois de nadar e voltar cheia de areia. O que não muda é a sensação de frescor ao pegar a canoa, ir até aquele canto afastado e cair nas águas frias do Velho Chico embaixo de um calor de quase 40 graus.

(Vida boa...! Foto: André Fossati)

 - Sobre as cidades, elas realmente têm o que precisam ter. Lembro que fiquei espantada com o número de tabacarias na França. Já no norte de Minas, o número de sorveterias em algumas cidades atingem uma cifra espantosa. Não por menos, o número de bares também.

 - Calor, muito calor. Me disseram no início da viagem que quanto mais a gente descesse o rio mais calor eu ia sentir. Sábias palavras. Sábias e inúteis porque saber isso não me fez suar menos... mas pelo menos a gente foi se aclimatando com o tempo. O pior momento é logo depois do almoço. Até o vento parece tirar uma siesta e agora eu não sei mais se tudo para porque as pessoas ficam com muito calor, ou se as pessoas ficam com muito calor porque tudo para.

(Só as crianças - sempre elétricas - se atrevem a se mexer depois do almoço)

 - Quer ir para o sertão mineiro sem ficar longe da sua família? Compre um chip da Vivo. Não estou ganhando nada para fazer propaganda (infelizmente), mas saibam que na maior parte das cidades pelas quais passei essa era a única operadora com sinal.

 - ... em compensação, não se preocupe com a sua vida virtual. A cidade pode não ter sinal de celular... mas tem uma lan house. Chega a ser engraçado constatar isso, mas é verdade. Incrível como a  internet se tornou uma necessidade em todos os rincões do Brasil - quiça, do mundo. Eu estou em uma lan house nesse exato momento (enquanto isso, o meu celular Tim continua morto).

(Apesar da internet estar relativamente disseminada, as belezas do norte de Minas ainda têm muito a ver com a miséria local)

 - A vergonha é inversamente proporcional à presença. A regra vale para todo e qualquer tipo de pessoa, inclusive para as que nunca se viram na vida. Por mais que o trabalho ocupe grande parte do nosso dia, somos um grande grupo vivendo em um barco. Roncos, problemas intestinais e confissões amorosas viraram conversas coletivas com uma grande rapidez.

 - Todo lugar é cheio de vida. Seja ela vegetal, animal ou humana. Basta abrir a cabeça para o novo e aceitar que todas as coisas são dotadas de um conhecimento tão ou mais válido que o seu. Aqui no Velho Chico conversei com gente de todo tipo. Crianças, jovens, adultos e, principalmente, idosos. Nunca deixei de respeitar e nem de enxergar o outro, mas aqui eu aprendi também a dar voz ao outro, a escutar e tornar aquele discurso legítimo.

(Quilombola e seu tambor. Fora do roteiro, mas bonito de ser ver)

 - Voltando ao início desse texto, a vida é feita de encontros. Não esteja aberto somente ao encontro com o lugar e com a natureza, esteja aberto ao encontro com as pessoas. A maior riqueza do norte de Minas é a sua gente. Doidos de pedra e velinhas benzedeiras. Líderes comunitários e pescadores tradicionais. Gente que participa de danças folclóricas, de moda de viola, de batuque. Gente que borda, que colhe, que planta. Gente que vive a partir das oportunidades que a terra dá e que talvez entenda muito melhor do que a gente a conexão entre pessoas e natureza.