segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Um novo conceito turístico

Que música pra gringo ver é MPB, bossa nova e samba eu já falei. Mas o mais curioso é como, ultimamente, outros ritmos musicais vem se destacando nessa lista. Daí, três deles saltam aos olhos: o axé, originalmente baiano, o pagode e o funk, originalmente cariocas.

Obviamente, o sucesso desses ritmos aqui no Brasil é a explicação para que eles sejam também os ritmos mais mostrados aos visitantes. Mesmo porque é impossível fugir. Se um turista for ao Rio, uma hora ou outra ele vai ouvir um funk. Seja nas rádios, nos bares, na praia ou até no carro de alguma pessoa que passa pela rua. E se ele for um pouquinho curioso, vai querer escutar mais.

Mostrar a música que vem da favela é só o início. Dessa vez não vou falar sobre origem, sobre as características mais importantes de cada um deles ou nada disso. Muito menos entrar no debate sobre a qualidade ou não dessas músicas. O interessante é notar esse movimento cada vez mais freqüente de apresentar ao turista a realidade do país/cidade que ele está visitando. Isso porque alguns viajantes cansaram de admirar as belezas naturais de uma praia, de apreciar as esculturas romanas de uma cidade histórica, de olhar a vista da cidade por cima de um mirante. Esses turistas querem entender a lógica daquele lugar. Para isso é necessário compreender os movimentos sociais, políticos e culturais de uma região. E isso inclui escutar o que as camadas populares escutam, ler o que elas lêem, ver o local onde elas vivem.

Há muito o turismo romântico – se me permitem chamá-lo assim – tem um concorrente. Não que a visita aos pontos turísticos venha perdendo espaço. Até mesmo o turista que sobe a favela quer, depois, passear na praia de Copacabana ou pegar o bondinho e ir ao Pão de Açúcar. Mas foi o próprio turismo romântico que abriu espaço para as perguntas: “essa cidade é isso? As pessoas que moram aqui são só essas, que eu vejo nos shoppings, na orla das praias, nas áreas nobres? E todos esses problemas que eu vejo na TV? Onde eles estão acontecendo?”.

Claro que há muito filhinho de papai indo em baile funk. É a diversão que conta, nesse caso. Mas a forma de se divertir das classes mais pobres não é, também, uma forma de entender como ela vive, mesmo que ele não tenha a intenção de compreender a realidade dessas pessoas? Um novo turismo vem surgindo. E ele se manifesta nos menores sinais. Seja na conversa com as crianças que jogam bola descalça nas ruas, nos almoços em companhias de famílias nativas e, como vou mostrar no próximo post, nas visitas às favelas.

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