terça-feira, 5 de janeiro de 2010

"O oceano é meu playground" - Personagens (6)

Estou de volta! E tenho tanto para contar que fiquei numa dúvida imensa sobre o que falar primeiro. Resolvi, então, escrever sobre o que mais gostei de fazer lá: aula de surf. Não é uma exclusividade da praia da Barra da Lagoa, nem de Florianópolis, pois em todo lugar que tenha ondas razoáveis e turistas é possível encontrar uma barraquinha que oferecça o serviço. É por isso que não vou falar sobre a aula especificamente, mas sobre meu professor. Um cara muito bacana que já competiu internacionalmente na área.

(Não sou eu, mas poderia ser. Foto tirada desse link)

A coisa toda começou depois que eu e minha irmã chegamos em uma barraca perguntando, depretensiosamente, quanto era a aula.
- 45 reais por pessoa e uma hora de aula. 15 minutos a gente faz aqui na areia e eu mostro toda a técnica, como ficar em cima da prancha e tudo mais. Daí a gente vai pro mar e fica 45 minutos pegando onda.
- E é fácil ficar em pé?
- Eu garanto que vocês ficam em pé na primeira aula.

Rimos como quem diz "até parece". Ele continuou - E comigo é mais tranquilo. As pessoas que dão aula aqui vão com grupos grandes. Vira e mexe sai um falando que a prancha foi na erna, na bariga, na cabeça, sai com o dedo quebrado... eu dou aula pra no máximo duas pessoas e também sou salva vidas. É uma garantia a mais porque aqui ninguém vai sair machucado.

Sabíamos que era puro marketing. Afinal, ele tinha que garantir o dele. Compreensível. Mesmo assim, o marketing funcionou e propomos um preço:

- E você faz duas por 80 reais?
- É... faço - disse rindo.
- Então a gente vai olhar e já volta. Seu nome é...?
- André.

André Barcelos. Ele era forte, mas barrigudo. Cabelos loiros e olhos claros, azuis. Com certeza tinha menos, mas parecia ter uns 50 anos por causa da sua pele. omo ficava o dia inteiro no sol ela tinha aquele pele esturricada. Era simpático e encarnava o estilo surfista, aquele caratranauilo, nascido na praia, apaixonado pelo mar e que - talvez - já teve seus dias de glória.

Quando voltamos com o dinheiro ele estava no mar, dando uma aula enão demoraria mais de 15 minutos. Ficamos embaixo da barraca com duas amigas dele. Uma delas também trabalhava na Salva Surf, empresa que abriga, entre outros serviços, as aulas de surf e treinamentos para salva vidas. A outra era uma turista paulistana, amiga da dona da empresa.

Quando André voltou ele nos viu e sorriu como quem debocha "voltaram heim?!". Sim, voltamos! Daí ele já colocou a prancha no chão e começou a nos ensinar como se surfa.

- Essa parte é muito importante. Essa é uma prancha longa e grande, ela dá mais estabilidade. Com as menores é mais difícil, todo iniciante começa com uma desse tamanho. Vocês têm que fazer assim: deita na prancha bem na parte de trás. Aí vocês remam e depois colocam as mãos perto do peito. Daí vocês esticam o braço, deixam um pé atrás e colocam o outro na frente. Os pés têm que ficar de lado, no meio dessa tira de madeira que fica bem no meio da prancha. Joelhos flexionados e as mãos formando um "L", uma na frente ea outra de lado.

Não teríamos que "adivinhar" qual onda pegar, em que momento começar a remar, quando se levantar... nada disso. Ele avisaria tudo. Assim, parecia fácil. Colocamos nossas roupas, parecidas com macacões de mergulho, e repetimos a demonstração. Depois de um breve aquecimento, atarrachamos a cordinha da prancha os nossos pés e fomos para o mar.

Entrar no mar com uma prancha daquele tamanho era a parte mais difícil. Ela era imensa e "aquadinâmica": a onda empurrava a prancha pra beira da praia. E a gente ia junto. André nos ajudou. Era incrível sua intimidade com aquele ambiente. Aquela mesma onda que me arrastava metros para trás simplesmente não o abalava. Ele tinha um contrato com elas. Ele conhecia a energia daquelee mar e não ia contra ale, nem mesmo tinha medo. Sabia passar por todas, mergulhando ou flutuando. E elas não o atrapalhavam, como se isso fizesse parte do acordo.

(Essa é uma das barraquinhas da equipe do Salva Surf em Florianópolis. Durante todo o dia, tiramos uma única foto: André, eu e minha irmã depois da aula. Estou esperando ele me mandar para postar aqui)

Ele nos pedia para subir na prancha e ficar deitada. Daí virava a prancha em direção a areia e a segurava. Quando sentia que era a onda perfeita - para iniciantes - grtava "rema, rema". Quando vinha a onda, empurrava a prancha e gritava de novo: "levanta!"

Foi incrível! Minha vontade de morar na praia só aumentou, porque aí sim poderia praticar mais, porque é muito legal. E como vai rápido. Ela deslizava no mar e em 8 segundos eu já estava lá na areia. Mesmo assim é uma sensação maravilhosa.

O momento mais tranquilo era depois que a gente subia na prancha, que aí ele que se virasse. Enquanto esperávamos uma onda boa, vinham outras imensas. Quando eu tinha certeza de que ia virar, ele segurava a gente na prancha e a prancha na água e o máximo que acontecia era a água estourar na nossa cara.

Com o tempo ele foi se soltando e começou a conversar comigo. Não lembro exatamente como aconteceu, mas foi bem espontâneo:

- Tem umas ondas fortes...
- Nada... com o tempo você acostuma e aprende o ritmo da água.
- Aí fica mais fácil.
- É. Isso é uma coisa de tempo. Eu tenho 45 anos e 27 de surf. Só depois de uns dois anos pegando onda toda semana é que a gente sente.
- E você ja competiu?
- Já! Já viajei muito por aí. Morei três anos no Havaí. 98, 99 e 2000. Já voltei 8 vezes, tenho amigos por lá.
- Que delícia... porque foi embora?
- Ah, chega uma idade que você percebe que já deu. Não tem mais como ir pra frente. E vem a nova geração também ne, fazendo coisas novas.
- Aí você resolveu voltar...
- É. Eu nasci aqui na ilha ne. Desde pequeno na água. Comecei a surfar e competir, e daí a viajar. Mas agora eu dou aulas de surf e faço a segurança aquática de eventos porque também sou salva vidas. E quando voltei do Havaí resolvi fazer faculdade também. Me formei em Educação Física. Mas meu negócio é água mesmo. O oceano é meu playgrund.

Conversa vai, conversa em, entre um comentário e outro ele me empurrva para uma onda e outra. Não se iimportava de parar o papo, desde que fosse para eu pegar uma onda daquelas.

Ao fim de uma hora no mar e muito sal e areia no olho, saímos com as pranchas na mão batendo algumas palmas e faando "muito bom" ou "foi ótimo". Era a pura verdade.

2 comentários:

  1. ai q emoção xú!!!! amei! mineirada na praia da mais ou menos nisso mesmo, neh?! ^^
    quem sabe um dia, um dia, eu nao aprendo tb!?
    bjos!

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  2. Adorei Ju!
    E eu tô aqui em Salvador, tentando fazer uma matéria também... a minha é um pouco mais complicada. Tô tentando descobrir "o que é que a baiana tem". A questão é, como perguntar isso pras pessoas! hehe

    Um beijo gatchenhaaaa!

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