terça-feira, 3 de maio de 2011

Estudantil por excelência

As pessoas viajam a intercâmbio por "n" motivos. Um deles é a possibilidade de estudar no exterior, fazer um bom curso de línguas ou conhecer os professores e as disciplinas de uma nova faculdade. Outro é aprender um novo idioma, para colocar no currículo e poder conversar com qualquer pessoa em uma língua que não é a sua. Alguns escolhem viajar para se misturar, conhecer novas culturas e diferentes formas de ver a vida. Seja qual for o motivo de uma viagem de intercâmbio, ele não inclui passar o tempo todo com pessoas que vêm do mesmo país que você. E é isso o que acontece em Grenoble.

(Grenoble no inverno. Um pouco cinzenta, igualmente bonita)

Em meados de novembro do ano passado, viajei a essa linda cidade, capital dos alpes franceses. Um amigo tinha uma amiga que estava em Grenoble fazendo um intercâmbio. Essa amiga ia receber o namorado, que também era amigo do meu amigo. E essa cidade ia receber o show de uma banda de reggae alemã, Gentleman. Tirando a banda, eram todos espanhóis. E eu, brasileira.

No primeiro dia, fomos recebidos e nos instalamos as coisas no quarto da residência estudantil da amiga. Todas as cidades francesas com boas faculdades apresentam uma ou mais unidades do Crous, o sistema de residências estudantis francesas. Eles são de vários tipos. Em Clermont-Ferrand tinha mais de uma unidade. A que eu ficava era um complexo de 6 prédios com apartamentos de 9m², banheiro, ducha e cozinha externas. Alguns amigos em Clermont ficavam em um Crous com apartamentos maiores, banheiro, ducha e mini-cozinha internos.

(Residence Ouest. Foto tirada desse link)

Lá, esse esquema era ainda mais complexo. Grenoble é a terceira cidade francesa com maior número de estudantes. Entre os cerca de 150 mil habitantes, 65 mil são alunos do ensino superior. São 15 unidades com dezenas de prédios e milhares de apartamentos. Íamos dormir os quatro no mesmo quarto em uma dessas residências, bem mais organizada do que a minha. Os quartos eram bacanas e só a cozinha era coletiva, mas muito maior e mais bem equipada do que as de Clermont. Estava tudo ótimo!

No primeiro dia encontramos com o casal e algumas amigas. Ficamos conversando. Pouquíssimo em francês. Normal, todos falavam espanhol. O que não me incomodava. Ao contrário, gostava de escutá-los conversando e ficava tentando captar o assunto a todo custo. Fomos ao show, nos divertimos a beça e voltamos para a residência altas horas da madrugada.

(12ª noite do reggae. Ficamos tanto tempo do lado de fora, conversando e bebendo, que chegamos na metade do show. Foto tirada desse link)

No outro dia saímos para conhecer a cidade. Passeamos por todos os lados, almoçamos um enorme sanduíche, subimos o teléferico de Grenoble e passeamos pelo mercadinho de natal, tradição nas maiores cidades francesas. Com o dia terminando, fomos para um bar de narguilé perto do centro. Mais espanhóis. Comigo, separadamente, todos conversavam em francês. Mas um minuto de distração e me via as voltas com jotas em som de "r" e pronomes depois dos verbos. Como disse, não me importava com a língua. Es bellísima! Mesmo assim, quando escutava alguém falando francês era como música para os meus ouvidos.

Em conjunto, decidiram fazer um grande jantar. Passamos em uma loja para comprar comida e quando voltamos à residência me vi em uma cozinha com mais de 20 hispanohablantes. Estava na Espanha! Foi quando um deles me disse que na cidade havia mais de 200 estudantes Erasmus espanhóis. Fora os que vivem na cidade para fazer mestrado ou doutorado. Increíble tío!

Ele disse que todas as "nacionalidades" viviam assim. Ingleses, italianos, chineses, brasileiros. Grenoble tem uma pequena-grande comunidade de cada país. E isso pode ser ruim e pode ser bom. Viver com pessoas que partilham a mesma cultura é ótimo. Certeza de satisfação e festas semanais. Mas se o convívio for exagerado perde-se em aprendizado. Vive-se pouco da cultura francesa e fala-se menos ainda uma língua que não é nossa.

(Praça Central do campus da universidade de Grenoble. Excelência em ensino. Foto tirada desse link)

Até então tentava compreender o que era aquela cidade para um estudante estrangeiro. Tão grande... mas tão pequena. A capital dos alpes franceses foi feita para o aluno que não perde o foco. Para alguns, é fundamental equilibrar a experiência francesa e o convívio entre os pares para não voltar frustado do intercâmbio. Mas para outros pouco importa: tudo é festa!

Principalmente se for dia de clássico! Barcelona e Real Madrid disputavam o campeonato espanhol na noite do último dia da nossa viagem. Nem era para estarmos lá mas, por sorte, perdemos o trem e trocamos o bilhete para a manhã do dia seguinte. Quando entrei, o bar estava LOTADO. 3 telões e 2 pequenas tvs. Cerveja. Camisas e bandeiras dos dois times. Vi todas as pessoas que já tinha encontrado durante aqueles dias e mais uma penca de espanhóis. E argentinos, peruanos, brasileiros, franceses. 5 a 0 para o Barsa. Aquilo que era festa!

(É ou não é? Foto tirada desse link)

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