quarta-feira, 27 de julho de 2011

Viver para o prazer

Uma pequena vila de pescadores de beleza ímpar. Cercada por praias de mar azul e verde por todos os lados. A natureza chama tanta atenção quanto o clima pacato do local. Aqui há sempre tempo para uma conversa descompromissada no meio da rua, na beira da praia, tomando um café. Foi esse clima tranquilo que artistas como Brigitte Bardot escolheram para descansar durante o verão.

(Pôr do sol no porto de Saint-Tropez . Foto tirada desse link)

Alguma semelhança com uma certa cidade carioca? Uma antiga vila de pescadores, linda e tranquila, que se tornou o cantinho preferido de ricos e endinheirados depois da visita de artistas famosos. Mais do que isso, o local virou vitrine de moda e símbolo de badalação, com festas e mais festas, jovens e mais jovens. Uma Búzios francesa.

Mas o correto seria dizer que Búzios é a Saint-Tropez brasileira. Afinal, ela veio antes. O local foi fundado por gregos alguns séculos antes de Cristo. Como quase todas as cidades do Sul da França, foi disputado por espanhóis e ingleses. Depois de duras batalhas que tiveram lugar principalmente entre os séculos XV e XVII, a cidade encontrou novamente um descanso. Na segunda Grande Guerra, porém, alguns bombardeios deixaram o porto e a capela das Penitências aos pedaços. Mas mesmo isso não foi capaz de apagar o requinte e o charme da cidade. Os ataques passaram a ser unicamente de turistas.

(Saint-Tropez vira do avesso no verão, principalmente com as ideias dos ricos e endinheirados como Karl Lagerfeld, que lançou a coleção de verão 2010 da Chanel nas ruas da cidade. Foto tirada desse link)

Recanto de luxo e prazer

Os moradores locais sempre se dividiram em dois: os humildes pescadores e a elite francesa. Ricos, essas pessoas idolatravam a forma de vida hedonista, na qual o prazer é o supremo bem da vida humana. Ainda hoje são conhecidos como jet-set e Saint-Tropez virou moda por causa da moda. Começou na década de 1920, quando a estilista Manine Vachon revolucionou o ramo com a criação de um estilo mediterrâneo relaxada, displicente e sensual, baseado nas cores do verão da cidade. A ideia que encantou a Nouvelle Vague ganhou ainda mais evidência na década de 1950, na pele da modelo e atriz Brigitte Bardot.

(Símbolo de uma moda despojada. Foto tirada desse link)

A atriz é a responsável pela fama da cidade. Alguns dos seus filmes de maior sucesso foram filmados em Saint-Tropez, levando fama instantâne a cidade que, depois da década de 1960, não parou de receber turistas e novos moradores.

A cidade ganhava cada dia mais encanto com a transformação das suas ruas em galeria de arte. Quem passa na frente do porto ou mesmo nas ruelas cetrais vai ver quadros e estátuas de artistas famosos. A tradição de fazer da cidade um museu-vivo é do pintor Paul Signac. Após descobrir Saint-Tropez, ele chamou alguns nomes da arte moderna para visitar o local. As obras que mais chamam atenção são as famosas "gordas" de Matisse, espalhadas por diversos pontos da cidade.

(Uma delas, no centro da cidade)

A essência

Depois de uma noite abaixo das expectativas, como vocês viram no post passado, Saint-Tropez desceu alguns degraus no patamar de destino desejável. Mas eu não parava de me perguntar o quê levou as pessoas à cidade. Se voltarmos no tempo, tirarmos a moda, as festas, a badalação, Saint-Tropez era um lugar comum. E ainda assim foi escolhida por estilistas, artistas e atores para ser moradia, inspiração artística, set de filmagem.

(O porto de Saint-Tropez dá a ver uma das paisagens mais bonitas da cidade)

Passamos por outras tantas cidadelas no meio do caminho, menores, mas tão bonitas quanto. Com belas casas encravadas na montanha, lanchas a espera dos seus donos e um mar azul anil banhando o litoral. Então porque Saint-Tropez? Sorte.

Hoje, a cidade carrega uma aura quase intocável. Estar lá traz uma sensação de estar no lugar certo e na hora certa. Parece que as coisas estão sempre prestes a acontecer e você vai estar lá para ver. E é diferente de Paris, por exemplo, ainda mais famoso e badalada, porque Paris já é divulgada demais. A impressão que dá é que as pessoas de Saint-Tropez são especiais e você se sente especial de tabela. Exclusividade é a palavra certa.

(Hoje, cada canto da cidade é disputado a alguns milhares euros. Foto tirada desse link)

Mas eu digo sorte porque esse sentimento foi criado com o tempo, e poderia ter acontecido em qualquer uma das outras lindas cidades ao longo da costa francesa. Saint-Tropez ser chique é sorte. O que não quer dizer que ela também não é bonita.

Quando o dia raiou estávamos na frente da Place des Lices, a praça mais importante da cidade. Lá estão alguns dos mais importantes restaurantes e bares. É ali que acontecem apresentações musicais e teatrais em dias de festas, os tradicionais campeonatos de pétanque (uma espécie de bocha) e as famosas feiras da cidade. Sem contar que o espaço é lindo e super agradável para um bate papo sem compromisso.


(A praça des Lices é ponto de encontro da população tropesiana. O local também recebe feiras com roupas, artesanato e, principalmente, temperos, frutas, legumes e alimentos caseiros. Fotos tirada desse e desse link)



Depois passeamos pela cidade e constatamos que museu, igreja e pontos turísticos aqui são secundários. Se a cidade toda já é uma obra de arte a céu aberto, melhor aproveitá-la!

(Uma das dezenas de ruelas simpáticas)

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