sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Santo forte

Na nossa viagem, cada uma tinha uma função mais ou menos estabelecida, fruto das nossas carácterísticas pessoais. A Rafa era a responsável pelas questões geográficas. Quando o assunto era mapas ou direções a serem tomadas colocávamos ela na frente. Eu era a responsável cultural. Pesquisei e fiz um mini roteiro antes da viagem e sempre falava aonde valia a pena ir se o quesito era museu, centro cultural, feiras, parte histórica da cidade e por aí vai. Juntas, dividíamos a responsabilidade pela grana. A Rafa sabia fazer contas por causa da engenharia, eu sabia economizar nos mínimos detalhes, porque sou pão dura mesmo.

(Nosso almoço era algo desse tipo: comprado em supermercado porque rendia mais. Foto tirada desse link)


A Fafá era o nosso braço social. Conhecemos pessoas em todas as cidades por causa dela. Em Mônaco umas brasileiras começaram a puxar papo no ponto de ônibus, preocupadas com o horário. Em Nice conhecemos um outro brasileiro que nos contou a vida dele como chefe de cozinha na cidade. Em Cannes, mais brasileiros. Com eles sentamos na beira da praia e ficamos uma hora conversando.

A coisa foi ficando mais palpável em Saint-Tropez, quando conhecemos os garçons do Bar du Port e fomos na boate com eles. Agora, em Toulon, a Fafá superou nossas expectativas. No porto, acessamos uma lan house e ela voltou para resgatar os óculos de sol. Quando a encontramos novamente ela estava conversando com dois caras, que divulgavam uma festa em um bar aparentemente novo. Banda de reggae, música ao vivo e drinks exóticos. A festa seria na quinta e não poderíamos ir, mas ele foi com a nossa cara. Nos deu o folheto e ficou insistindo para passar por lá ainda a noite.

(To fazendo propaganda mesmo. O bar é ótimo, os shows por lá devem ser ótimos. Foto tirada desse link)


Falaram que não ia ter nada, mas como eram os donos do bar, sempre abriam o espaço para os amigos em dias comuns. Passavam a noite jogando video game, conversando, bebendo, e por aí vai. Explicamos que tínhamos que arranjar um local pra dormir e - pasmem - ele se ofereceu. "Tem uns sofás no espaço, vocês podem dormir por lá. São minhas convidadas". Agradecemos e rimos entres nós: "Claro que não vamos... até parece...". Mas no fundo a gente sabia que ia dormir lá.

Quando caiu a noite colocamos a portuguesa do GPS para funcionar. O local se chamava L'impasse e ficava em na cidade de Seyne-sur-mer, do lado de Toulon. Pensamos que seria um boteco. Em primeiro lugar eles eram novos. Não deviam ter muito dinheiro para investir em um local bacana. Em segundo lugar estavam chamando três estrangeiras para dormir lá. Não devia ter nada de valioso.


(Uma ideia de geral de como era o L'impasse)

E é nessas horas que a gente quebra a cara. O L'impasse era lindo. O espaço foi decorado por eles mesmos. Na parte de cima uma oficina aonde dois colegas trabalhavam na marca de roupas que eles desenvolviam. Eram blusas e moletons estampados com a cara de um macaquinho, de todas as formas. Eram lindas. Lá embaixo, o espaço era bastante amplo. O palco contava com instrumentos musicais e aparelhos de discotecagem de última geração. Quando o local não recebia shows eles dixavam alguns sofás e pufs para as pessoas se sentarem enquanto conversavam e bebiam. Por falar em bebida, o bar não tinha muitas opções, mas as que tinham eram caras.


(Aperitivos como chocolate e amendoim em meio as bebidas do bar)


Quando chegamos ele nos disse para deixar as mochilas em qualquer canto. Abriu um Bayles logo de cara e ficou oferecendo vinhos e licores. Não parecia se importar em gastar dinheiro ou em cobrar de visitas. O que queria era uma noite agradável. Chamou alguns amigos e ficamos lá a noite toda. Outras pessoas apareceram do nada, como dois meninos que entraram procurando cigarro. Não encontraram, mas ficaram por lá também.


Por volta das 2h da manhã ignorei a conversa da galera, me deitei no sofá e dormi. Música, conversa, luz... nada ia me atrapalar. Estava morta. Ele não ia dormir por lá e nos disse para fechar a porta quando fossemos embora. No outro dia, levantamos, arrumamos tudo, deixamos um bilhete agradecendo e fomos embora.

(Em direção à mecânica. Fala se não parece que as moças da janela estavam rindo da nossa cara?)

Entramos o carro, começamos a rodar e sentimos que algo ia mal: o pneu tinha furado... estava lá no chão. E o mais legal foi perceber que o Twingo não tinha step. Que legal. Paramos na frente de uma imobiliária e liguei direto para o pessoal que nos alugou o carro lá em Clermont. Ele entrou em contato com o reboque que ia levar a gente pra ver o que tinha acontecido com o carro. Várias coisas passaram pela nossa cabeça. Acabou a viagem. O cara da locadora falou que se fosse o pneu mesmo teríamos que pagar. Ou seja, o carro ia ficar em Seyne-sur-mer porque não tinhamos dinheiro. Literalmente.

O nosso amigo do L'impasse nos ligou e falamos o que estava acontecendo. Ele foi prontamente nos encontrar. Nos levou para tomar chocolate quente enquanto o reboque não chegava, foi com a gente até a mecânica, conversou com o moço. No final, descobrimos que o problma era na câmara de ar e que pagaríamos só 17 euros. Saímos dali e ele pegou o carro para nos mostrar a cidade. Passamos pela parte central e subimos até um mirante que dava uma linda vista do mar.

(Uma visão geral de Seyne-sur-mer. Linda, como as cidades francesas devem ser)

O lema do dia? Turista tem santo forte. Depois disso tudo, nada pior iria nos acontecer. Mais calmas, seguimos para Marseille.

Um comentário:

  1. aaaaaaaaaaaaaah, saudades!!!

    e cê não falou da outra cidadezinha que ele levou a gente, que a princesa do marrocos, acho, tinha casa... como era o nome mesmo? uma super lindinha, sabe qual?

    bora sair um dia, to com saudades de ser a parte sociavel de novo. =)

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