terça-feira, 22 de novembro de 2011

Se vê

Meu olhar sobre Sevilha é viciado. Quando cheguei ali, ela já era minha. Não me causou grande impacto descer do tranvia e me deparar com a maior catedral gótica do mundo. Andava pelas ruas como se conhecesse bem aqueles caminhos que são percorridos desde o século XV e olhe lá. Contava às minhas visitas curiosidades que tinha ouvido outrora , sem sequer checar a credibilidade. Ficar pretensiosamente perdida nas ruas da judería era quase natural.


Descer no centro da cidade naquele fim de julho bateu diferente. Não foi indigesto, mas, sim, prazeroso. Depois de conhecer todos os mitos que me atraíam – Paris, Roma, Barcelona – eu pude abrir meus olhos com simplicidade para aquelas cores. Para aquela gente que fala gritando. Para aquela expectativa de encontrar, em cada esquina, alguém que cante em rodas trechos de flamenco como o Almodóvar me fez acreditar. Dessa vez, eu voltei por saudade e meu coração viu, enfim, o que eu procurei o tempo todo. Querer parar no tempo é passar por ali.

Andar pela Sevilha turística pede passos lentos na Avenida de la Constitución. Ouvidos atentos na Catedral e atenção especial para todos os becos, que revelam saídas incríveis. O Archivo de Índias, que guarda toda nossa história em documentos sobre a “descoberta” da América. Foi daquele rio que corre ali, paralelo, que Colombo se despediu pra peitar a nova aventura. É cruzar com as carruagens que levam turistas enfeitiçados – que já se esqueceram dos 50 euros que tiveram que investir no passeio de meia hora em meio a la crisis. O Real Alcázar e a maestria da arquitetura árabe que hoje se encaixa harmoniosamente no mesmo quarteirão da igreja gótica. [Eles pareciam saber conviver melhor quando o mundo era menos "evoluído"]. As ruas tortas e estrategicamente estreitas, que escondem o sol e protegem dos invasores.

É sair de tapas pelo Santa Cruz, comer um churros típico na beira do Guadalquivir e atravessar a ponte para conhecer a Triana – que, por favor, não é Sevilha! – e se deixar levar pela San Justino. De lá, ou de qualquer outro lugar dessa antiga Betis, o mais importante é perceber: a Giralda nunca escapa do seu olhar.

Todos esses sentimentos refloresceram quando meu amigo Victor me apresentou a última entrevista do poeta João Cabral de Melo Neto – que também viveu e se apaixonou por Sevilha, pelas ruas estreitinhas, pela praça de touros, pelo povo. "O sevilhano quer sempre a coisa feita no máximo". A verdadeira cidade está nos mínimos detalhes.

Gabriela Garcia é jornalista por profissão e conectada por opção. Adora ficar na internet fuçando sites alheios e planejando viagens que ainda vai fazer. Já passou 3 meses na gelada Vancouver e outros 6 na ensolarada Sevilha, mas a saudade do Brasil lhe fez voltar para BH. Hoje, ela conta suas impressões sobre o mundo, seus planos futuros e otras cositas más no blog Medialunas

Nenhum comentário:

Postar um comentário