quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A nova paisagem da costa de Salvador

Cheguei a Salvador sem nenhuma expectativa. Como contei no post passado, sempre escutei que a cidade era feia, suja e abusiva. Em certos pontos, concordo com o abusiva, principalmente ao notar que os taxistas só andam com a bandeira 2 e encontram as desculpas mais absurdas para isso, como "já passou das 18h", "hoje é fim de semana" ou simplesmente "estamos em alta temporada". De resto, Salvador é uma cidade bonita.

(Vista de Salvador da praia de Piatã. Uma das belas! Foto tirada desse link)

O primeiro dia na capital baiana foi de belas paisagens, exatamente o que eu precisava para acabar com os meus preconceitos. Do aeroporto ao hotel, vi bairros muito bonitos, ruas arborizadas e prédios enormes varandas, daqueles que só têm nas cidades beira-mar. Em compensação, passando pela orla das praias  concordei com as constatações dos internautas que diziam que as praias urbanas de Salvador não são lá muito bonitas. Realmente, são simples, até demais para quem está acostumado a ver belas fotos do litoral brasileiro. E muitas delas são também impróprias para o banho.

O bairro de Ondina, onde fiquei, seguia a regra da simplicidade. Praia normal, areia normal, vegetação normal. Não quer dizer que o local era feio, tampouco bonito. Agradável talvez seja a palavra certa. É uma daquelas praias em que se leva a família em um dia de domingo para aproveitar o sol forte, as boas ondas e também as piscinas naturais que se formam perto dos recifes. E era exatamente o que se via por ali.

(Onda pra quem gosta de surf e piscinas naturais pra quem nem sabe nadar)

Coloquei uma roupa fresca e desci para aproveitar o resto do dia. Procuramos uma barraca próxima à praia. Um quiosque, uma tenda, qualquer coisa. Não tinha. Na areia só cadeiras de plástico e guarda-sóis. As barracas ou lanchonetes estavam todas no calçadão. Uma imagem rara de se ver, principalmente na Bahia, famosa por suas barracas de praia.

Derrubando tudo

Em agosto de 2010, as 349 barracas da orla de Salvador foram derrubadas pelo governo. O pedido veio do Ministério Público Federal ainda no ano de 2007, a partir da premissa de que a área ocupada por essas construções pertenciam à União. De fato, segundo a Linha de Preamar, estabelecida em 1831, toda faixa de areia de 33 metros a partir da água é patrimônio nacional. A prefeitura conseguiu suspender a decisão até julho de 2009, quando desistiu do recurso. Um ano depois, os soteropolitanos viram tratores e mais tratores passar por cima das construções - e dos protestos dos comerciantes ao longo de toda a cidade. Megafones, passeatas e até pessoas acorrentadas aos seus estabelecimentos imploravam para que eles não fossem removidos. Não funcionou.

(Trator fazendo o seu trabalho. Foto tirada desse link)

Quando pegamos ônibus, escutei um grupo de cinco homens conversar sobre isso. Diziam que, no fundo, ninguém acreditava que aquilo ia acontecer. As barraca de praia, das menores as maiores, são um símbolo das praias brasileiras. Empregavam milhões de pessoas e movimentavam outros milhões de reais. A lei estabelecida há dois séculos atrás nunca tinha sido verdadeiramente fiscalizada. Por que agora?

Mas aconteceu. Nos primeiros meses, os turistas que iam a Salvador em busca de música alta, cerveja gelada e garçons servindo camarão a beira-mar saíam decepcionados. O máximo que conseguiam encontrar era ambulantes ou pontos de venda improvisados. Em compensação, quem esperava as férias para ter sossego e belas paisagens voltou a colocar Salvador no mapa. De uma forma ou de outra, o cenário praiano mudou.

(Escombros na praia de Patamares. Foto tirada desse link)

O grupo de amigos seguia falando de alguns parentes que ficaram desempregados com a derrubada das barracas. Mas então, concordaram de forma unânime: Apesar de tudo, acho que o governo fez o mais correto. As praias estavam mais limpas e tranquilas, os banhistas tinham mais espaço para curtir o sol e era possível ver o litoral mesmo do outro lado da avenida - algo inimaginável quando as barracas tapavam toda a paisagem. Também concordei. Passado o alvoroço, turistas e cidadãos ganharam praias mais bonitas. E a cidade ganhou novos projetos urbanísticos para revitalizar o litoral e receber os visitantes respeitando os 33 metros de areia pertencentes à União.

(Para vocês terem ideia, o titulo do post aonde tirei essa foto era "a descoberta da orla marítima". Foto tirada desse link)

Agora, o governo quer estender a medida a outras cidades e estados. Os boatos sugerem que a próxima cidade a passar pela "reforma urbana" é Porto Seguro, paraíso das barracas de praia. Na minha opinião, vai ser ainda mais difícil pois turismo de Porto Seguro é sustentado pelo entretenimento que seus estabelecimentos oferecem. Mas pelo que vi em Salvador, não duvido de mais nada.

Reflexo no mar

No fim da tarde fomos visitar o Forte de Santo Antônio da Barra, o ponto mais turístico da capital baiana. Ele foi construído para proteger o litoral brasileiro de possíveis invasões e receber os navios da coroa portuguesa. A primeira estrutura do forte foi feita ainda em 1596, mas não se sabe ao certo quanto ele foi concluído. Documentos de 1608 já apontavam sua existência "completa".

(O Forte foi construído em formato de um polígono de octogonal)

Mas quando você pensa no Forte o que lhe vem a cabeça? Provavelmente um cone alto, listrado de preto e branco com uma luz muito forte. Pois o engraçado é que o Farol de Santo Antônio, ou Farol da Barra, não foi construído na mesma época. A ideia de construir um farol já tinha passado pela cabeça dos portugueses. Afinal, o Porto de Salvador era um dos mais movimentados do país. Navios europeus iam à cidade em busca de produtos como pau-brasil açúcar, madeira, algodão e tabaco. Só depois do naufrágio de um grande navio perto do litoral, em 1668, o governo começou a construção do Farol.



(O Farol listrado)


Dentro do Forte há lanchonete, salas de exposições e um museu que conta a saga da sua construção e um pequeno resumo da história da navegação no Brasil, com direito a miniaturas de diversos navios e embarcações. Mas o Forte atrai não só pela sua história como também por ter uma das mais belas vistas de Salvador. Quem sobe no Farol consegue ver toda a praia do Forte, uma exceção entre as praias urbanas por ter águas limpíssimas e, agora, uma extensa faixa de areia não mais invadida por barracas ou quiosques.

E o local também é escolhido diariamente por dezenas de pessoas que querem ver um lindo pôr-do-sol. Uma cena que vale toda a viagem!


(Olhos voltados...)

(... para o pôr-do-sol)

Nenhum comentário:

Postar um comentário