segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Na terra do flamenco

Certa vez, um amigo me disse que as primeiras impressões são as que ficam. Não sei se estou totalmente de acordo, mas a verdade é que as imagens que me vêm à cabeça quando penso em Clermont, a linda cidade francesa na qual fiz meu primeiro intercâmbio, são dos meus primeiros dias, quando o verão ainda deixava a gente andar de short e chinelo pelas ruas. Por isso resolvi colocar aqui as minhas primeiras impressões sobre Sevilha. Daqui um ano eu mesma confirmo se ainda concordo com tudo:

(Uma cidade com muito sol, muitas cores e povo alegre. Na foto, a torre da Giralda, um dos símbolos da influência árabe na cidade)

1. Sevilha é exatamente o que se espera da Espanha. A comida, a música, a arquitetura, os costumes, a cultura. Tudo é muito típico, ao mesmo tempo, muito natural, e por isso tão encantador. Não digo que aqui está a Espanha de verdade porque isso não existe, mas se alguém me disser que vem pra cá e não vai passar pela Andaluzia, eu vou fazer de tudo para convencê-la do contrário.

2. Tudo PARA na hora da siesta. Eu, desconfiada que sou, sempre achei que fosse uma meia-verdade e que as pessoas reverberavam essa história para deixar a cidade com um tom de "vilarejo". Nos primeiros dias, não acostumada, eu saia nas ruas às duas da tarde e só encontrava turistas.


(Triana às 15h da tarde: os carros estacionados e uma alma viva no meio da rua)

3.
... turistas que, como eu, não entenderam que a siesta tem uma razão de ser. Essa razão se chama SOL. Às duas da tarde, em pleno verão europeu, os raios solares parecem incidir diretamente na cabeça de cada uma das pessoas que ousa sair de casa. É um calor sufocante. Você respira e não sente o ar entrar pelas suas narinas. Por isso tudo fecha e só volta a abrir às cinco.

4. Estou com duas marcas de sol: uma de short e outra de blusa, cada uma mais ridícula que a outra. Por que a gente só pode usar biquíni em cidade a beira mar?

5. Mãe, eu estou comendo muito bem por aqui, acredite. Muita salada, carne e nenhum excesso. Mas admito que tomo sorvete quase todos os dias. É irresistível... Descobri um de profiterolis que entrou para o hall das coisas que eu pediria para comer antes de me levarem à cadeira elétrica, ao lado de camarão frito com côco e rostî de carne de sol.

(Plaza España, entre 8 e 9 da noite. O sol ainda brilhava no céu)

6. Em poucas palavras: os dias duram até as 22 horas. Pra mim, não tem nada que pague isso. 

7. Como o dia demora para escurecer, as pessoas saem de casa muito tarde. No início foi difícil segurar a ansiedade e entender que eu só ia ter planos às 21 ou 22 horas da noite. O normal é ir a um ou dois bares e depois sair para dançar, lá para as duas da madrugada...

8. Qualidade de vida é: acordar sem despertador, colocar um chinelo, passar protetor solar e ir para o parque ao lado da sua casa, sentar na grama e ouvir música. Melhor que isso é ver que você não é o único #europelifestyle
(Outra boa ideia para aproveitar o dia é acordar as 11h e ir a um bistrô - que a esta hora ainda servem café da manhã)

9. Falar "andalú" é a arte de imaginar coisas, já que eles não pronunciam S, Z, D, ou T no final das palavras (as vezes, nem no meio).

10. Repito o que disse quando cheguei a Clermont-Ferrand: para uma pessoa que vive em uma cidade de pouco mais de 110 anos, estar em um lugar com mais de 2 mil anos de vida é algo realmente fantástico. Passo pelas ruas olhando para cima e reparando nos detalhes dos edifícios e das belas construções, que por aqui misturam o barroco ocidental à arquitetura árabe. Já levo 15 dias assim e acho que vou ficar de boca aberta com esse tipo de coisa até ir embora.

(Numa mesma avenida a maior igreja gótica da Europa e o edifício Renta Antigua López-Brea, com seus contornos árabes)

11. Tinha me esquecido que meu cabelo tem sangue azul e gosta do clima europeu #cachossedosos #wellaporqueeumereço

12. Além dos meus companheiros italianos, tinha um gato (no sentido literal) morando na minha casa até a semana passada. Ele cabia na minha mão e era lindo. Mas no dia que as meninas não estavam aqui e ele começou a chorar eu me desesperei. Percebi que além de ser uma pessoa muito urbanóide, vou perder a minha sanidade quando tiver um filho.

(Gatinho serelepe)

13. Fiquei sem sapatos logo que cheguei pois o meu mochilão foi extraviado. Ele chegou em casa um dia depois, mas sem minhas maquiagens. TAP: compre as suas próprias quinquilharias em um freeshop. Obrigada.

14. Traje em espanhol é terno. Mas é uma palavra que também serve às mulheres, desde que faça referência aqueles vestidos típicos, rodados e muito bonitos. Ninguém usa essas roupas no dia a dia, claro, mas até onde eu sei, só em Sevilha se usa esse tipo de vestimenta em eventos especiais, como a Feria de Abril. As mais simples, para crianças, saem a 10 euros. Mas as mais bonitas são anunciadas a 250 euros nas vitrines em promoção.

(Tem de todas as cores e estampas. uma festa de cores, como quase tudo por aqui)

15. Não sei se isso tem a ver com a exportação do nosso entendimento de beleza, mas os homens e mulheres são realmente bonitos por aqui.

16. E por falar em gente, a cultura de Sevilha é incrível. Todos dizem que a Espanha não é Europa e a Andaluzia muito menos. Eu começo a estar de acordo. As pessoas são sempre alegres. São festivas, sorridentes e falantes. E o melhor de tudo, são movidas pela música. Por mais de uma vez, sai de casa e a noite terminou com uma roda de pessoas tocando guitarra, cantando e bailando flamenco. Todo mundo aqui aprende desde pequeno, mais ou menos como o samba para nós brasileiros. É um espetáculo nas ruas!

(Em Los Corralones, a noite só começava. No final, eram dez pessoas tocando (palmas, guitarras, mesas e bancos), dois casais bailando, algumas pessoas cantando e nós, estrangeiros, babando)

13 comentários:

  1. Adorei saber as novidades da "Zoropa", Ju! Que vontade de tomar sorvete, caminhar sem rumo por essas ruas e bailar flamenco!!rs Continua contando tudo, viu??

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  2. Texto divino Ju!!!!! Vá pra Granada e ficará tão encantada quanto!!!

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    1. Quero muito ir Bela! Talvez eu vá essa semana... se não, mais pra frente! Mas não vou perder a oportunidade!!

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  3. AI Ju, so voce por me fazer encantar por uma cidade mesmo de tão longe!
    Parece ser a sua cara e fico MUITOO feliz que vc esteja aproveitando! (espero que com menos calor daqui pra frente..)
    As fotos estão lindas!
    Por favor, continue escrevendo desse jeitinho encantador que ai que vou te visitar MESMO :P (como se precisasse de mais essa desculpa :P)
    SAUDADES!

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    1. Se você disser que precisa de mais desculpas pra vir pra cá é claro que eu invento alguma...! Hehehehe! To curtindo muito sim flor, e quando vc vier vai ser ainda mais legals!! Saudades DEMAIS!!

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  4. Ju!
    Gosto muito de ler o teu "blog"
    Acho que assim também pomos aprender...
    Continua escrevendo, vamos ler TUDO!
    :D

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    1. Ehhhh!! É bom vocês lerem e aprenderem português porque quando eu voltar pro Brasil vou levar todo mundo comigo, que tal?! ;)

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  5. Nossa que legal essa perspectiva das primeiras impressões, super concordo com isso...parabéns pela conversa!!!


    Buon provecho tia!!!

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  6. Adorei, qdo fechares o ciclo quero as impressões finais. Abraços. Parabens,
    Paula
    www.mochilinhagaucha.blogspot.com.br
    ...

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    1. Com certeza Paula! Até eu quero ler de novo o texto daqui a uns seis meses para ver o que era verdade e o que era só impressão! Beijos!!

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  7. Sevilha é uma cidade sem palavras! Visitei esta cidade há meses atrás durante o meu progarama de intercâmbio em Málaga em que eu estava aprendendo espanhol, que também é uma cidade fantástica, e adorei o estilo de vida da cidade que é bem diferente de outras cidades da Espanha. Eu estudei na Sprachcaffe, que por sinal, é uma excelente escola e a metodologia de ensino é bem interessante. Vale a pena viajar à Málaga e à Servilha pois a experiência nessas duas cidades é muito legal e além de recomendar as 2 cidades eu tb recomendo a escola de espanhol e segue o link http://www.sprachcaffe.com/portuguese/study_abroad/language_schools/malaga/main.htm

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