quinta-feira, 24 de março de 2011

Samba e pandeiro na Oktoberfest 2010

Solução dos tímidos, consolo dos depressivos, alegria dos festeiros. A cerveja é uma bebida que já era conhecida há 4 mil anos a.C. Hoje, é encontrada com diferentes ingredientes, cores e sabores, mas continua sendo motivo para festas, seja como acompanhamento ou tema principal.

O St. Patrick's Day, por exemplo, é um evento que surgiu a partir de um tema religioso mas que hoje é feita para celebrar outras coisas. E beber até cair. Um dia inteiro de álcool fermentado. Em compensação, no quesito "festas com muita cerveja", a Alemanha é campeã. É lá que se comemora a maior festa da cerveja do mundo, a Oktoberfest.

(As garçonetes, sempre em trajes típicos, chegam a carregar 6 canecas enormes de cerveja em cada uma das mãos. Foto tirada desse link)

Em 2010, pude acompanhar in loco o que acontece em Munique, sede do evento. A organização não foi lá muito organizada. A Oktoberfest começa em setembro e dura cerca de 20 dias, terminando no primeiro fim de semana de outubro. Pensamos em ir várias vezes, mas consideramos impossível visto que todos os hotéis, pousadas, albergues, campings e bancos de praça já estavam reservados. Além disso, a passagem de avião era cara e não conhecíamos os sites de ônibus, trem ou carona (que possivelmente também não teriam vaga para o evento).

Foi quando numa quinta, véspera do último fim de semana da festa, nosso amigo nos telefonou: estamos fechando um carro para Munique. Com vocês fechamos mais um. Sai mais barato e divertido pra todo mundo. Topam?

A odisseia

Éramos nove brasileiros em dois corsas novos. Pegamos o carro no início da noite de sexta-feira com o intuito de passar toda a noite viajando e chegar em Munique no fim da manhã. A primeira ideia era passar por Genebra, na Suiça. Além de ser o caminho mais rápido poderíamos apreciar a belíssima paisagem do local. Porém, como a Suiça não faz parte da União Europeia no sentido de livre circulação de pessoas, resolvemos contornar o país. Passamos por Lyon, Strasbourg, Stuttgart, Ulm e, finalmente, "München".

(O que nos esperava: pátio central da Oktoberfest 2010)

A viagem durou cerca de 14 horas. Culpa de parte do atraso foi do GPS que alugamos, que nos deixou perdidos na fronteira entre França e Alemanha, pois as rodovias eram novas. Colocamos o aparelho na nossa língua materna e tivemos que aguentar os comentários nem sempre corretos da "portuguesa burra", como apelidamos nossa amiga GPS. Tentamos tirar o atraso na estrada. Na Alemanha, existe uma placa de trânsito que significa "velocidade máxima não estabelecida", ou seja: corra a 200 km/h que isso não será um problema. Duas coisas possibilitam a existência dessa placa. A primeira é a qualidade das estradas, com poucas curvas e nenhum buraco. A outra é a obediência alemã. Os motoristas, mesmo à 180 km/h, andam com cautela e segurança.

Quando chegamos lá, era a hora de encontrar um estacionamento. E o local tinha que ser central e seguro, já que além de meio de transporte o carro ia servir também de alojamento. Demos uma sorte incrível de encontrar um estacionamento do estado gratuito aos fins de semana. Uma parada no Starbuck's mais próximo para uma água no rosto e um café quente e estávamos prontos para a festa!

(A macacada reunida)

Fomos de caravana brasileira: blusas verde e amarela, cangas de praia e pandeiro na mão. Saímos do estacionamento e fomos a pé para o local, a partir das informações que as pessoas nos davam. Munique estava entupida. As vezes nem era preciso perguntar que direção tomar porque era só seguir o fluxo.

No caminho, uma cidade exuberante. Munique é aquele lugar que soubre misturar patrimônio histórico, arquitetura moderna e espaço verde. Vez ou outra parávamos para tirar uma foto, escutar o que um guia de turismo tinha a dizer para um grupo estrangeiro ou ler alguma informação nas plaquinhas que ficavam na frente dos edifícios mais antigos. Com oito mulheres em um grupo de nove, também era muito comum uma paradinha estratégica em lojas de souvenirs.

A caravana brasileira seguia a passos largos, embalados a samba e pagode. O pandeiro dava o ritmo das músicas que a gente cantava no meio da rua. As pessoas passavam e gritavam "Brasil", com uma receptividade incrível. Foi a primeira vez que percebi realmente como as pessoas amam nosso país. Não era preciso fazer nada. A camisa da seleção já incitava gritos com braços para o alto e sorriso no rosto. Ninguém grita "Austrália" ou "Chile". Já percebeu? Mas todos gritavam a nossa nacionalidade e se aproximavam para nos conhecer.

(A festa dentro do espaço Paulaner, onde entramos. Já passava das 21h e o espaço continuava cheio)

Por falar em nacionalidade, Munique era a Torre de Babel. Em algumas situações (filas de banheiro, por exemplo), presenciei conversas inteiras entre italianas, canadenses, alemãs e japonesas conversando todas em inglês. Ao mesmo tempo, as pessoas se fantasiavam com roupas típicas alemães para participar da festa.

Um dia pra bebemorar

É quando eu vi a placa OKTOBERFEST que me dei conta de que estava na maior festa da cerveja do mundo. Ok, eu não bebo. Mas isso não ia me impedir de aproveitar. O evento conta com uma estrutura enorme. Dentro do espaço destinado à festa, há dezenas de barraquinhas de comida típica, lembranças, banheiro, área hospitalar e um parque de diversões ao fundo, com montanha russa, elevador e essas loucuras todas que as pessoas adoram, principalmente quando estão bêbadas.

(Barraquinha de comida fora das tendas serve castanhas caramelizadas. Entre as comida típicas também estavam os pretzels, os sanduíches de salsicha e grandes corações de chocolate, sempre com dizeres amorosos escritos)


Não é permitida a venda de bebidas alcóolicas no espaço do evento, só dentro das tendas. O visitante pode escolher entre 14 tendas para entrar. Cada uma traz algo especial, seja na decoração, nas marcas de cerveja, nas comidas servidas ou mesmo nas atividades oferecidas (de shows a competições). Algumas são um verdadeiro tumulto e outras nem tanto. De toda forma, é comum as pessoas escolherem entre uma e três tendas para se sentar e ficar por lá mesmo, bebendo os clássicos chops de um litro.

Entramos na Armbrustschützen (?) que servia a cerveja Paulaner. O difícil foi arranjar lugar pra sentar. E pessoas em pé não podem comandar cervejas. Por sorte, encontramos um casal de brasileiros e dividimos uma mesa com eles. Na nossa tenda, o copo custava 8,75 euros. A primeira rodada foi só alegria. Depois chegou a segunda e, na terceira, a galera lembrou que aquilo significava 3 litros de cerveja. Alguns decidiram parar. Outros, encher a cara.

(A escolhida)

As tendas param de atender as pessoas às 22h e fecham suas portas às 22h30. Agora imagine um bando de pessoas bêbadas sem senso de orientação tentando encontrar a saída da festa. Fica difícil generalizar e criar um "perfil alemão", já que fiquei no país por dois dias e, em um deles, estavam todos aéreos. Mas posso dizer que o que encontrei no país foram pessoas muito gentis e dispostas a ajudar os outros mas, ao mesmo tempo, muito rudes. Tanto no trato com as pessoas (se você não compreender a informação que te passaram o problema é seu) quanto nas atitudes. Na saída, um tromba-tromba sem igual. E não era só uma encostada no outro, eram empurrões, sem pedidos de desculpas. Vimos várias pessoas passando a mão na bunda do próximo.

O exemplo máximo da grosseria e frieza alemã observamos dentro da nossa própria tenda. O caal brasileiro que estava com a gente pediu um prato de joelho de porco, mas receberam uma outra coisa. Quando a mulher reclamou a moça xingou ela toda, disse que ela tinha pedido era aquilo mesmo e pronto. A mulher só pagou para não dar trela, porque estava com a razão. E a mesma coisa aconteceu de novo, com o mesmo casal, com o mesmo prato. E após muita reclamação e novo pagamento, eles foram expulsos.



(Pessoas fantasiadas para a festa. O estilo era "camponês" e as cores que mais sobressaím eram verde, vermelhor e rosa)



Independemente do estado de sobriedade do grupo, durante a tarde toda nós sacamos nosso pandeiro, tocamos um monte de músicas, dançamos em cima da mesa e falamos muita bobagem. Muitas pessoas se aproximaram querendo conversar, tocar aquela "coisa redonda peculiar" e dançar o samba. Foi fácil conhecer e conversar com as pessoas. Meu inglês estava impraticável, já que estava há um mês na França e pensava em francês a todo tempo. Ainda assim conversei com alemães, italianos e americanos (na maioria das vezes escutava em inglês e respondia em francês, mas funcionava). Uma verdadeira festa internacional.

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