sábado, 20 de fevereiro de 2010

Carnaval atribulado

Um caos. Essa palavra resume a cidade de Diamantina no feriado do Carnaval: um verdadeiro caos. E não é um caos organizado, como naquelas cidades que ficam cheias por algum motivo qualquer, mas você ainda consegue um canto tranquilo pra sentar ou um espaço pra dar uma respirada. É um caos de pessoas, de música, de lixo no chão. Inclusive, pensei que a frase "para andar 50 metros na multidão as pessoas demoram 30 mintuos" que coloquei no post passado fosse exagero. Mas não: esse é o tempo médio que se leva mesmo.

A primeira razão para Diamantina virar um caos é o número de pessoas que vai para lá. A cidade, que tem cerca de 44 mil habitantes, recebe o triplo da sua população durante o feriado. Um dos resultados disso é a falta de água, que acomete grande parte das casas próximas ao centro. Perto do carnaval moradores da cidade já começam a fazer estoque de água, enchendo galões e baldes.

Outro problema é o cheiro de xixi. Como os banheiros públicos, ou "pipimódromos", são poucos e com grandes filas, as pessoas acabam se aliviando pelos becos da cidade. Nem a tática da polícia de bater e multar em quem fizesse xixi na rua funcionou. Um taxista nos disse que da quarta-feira de cinzas em diante a cidade é lavada diariamente e, mesmo assim, o cheiro dura por mais ou menos 15 dias. A quantidade de lixo nas ruas também é aterrorizante e as equipes de limpeza trabalhavam sem parar. Fiquei imaginando como ficaríamos se chovesse. Como todas as bocas de lobo estariam entupidas, a cidade se transformaria em uma corredeira só.

Enfim, a bagunça é tanta que nos últimos dias escutei um comentário engraçado: "A parte histórica de Diamantina nem é tão grande ne?" Heim? Como não? Diamantina é uma cidade histórica bastante grande em comparação com Tiradentes, Mariana e outras. Mas depois eu percebi que o comentário fazia sentido porque é praticamente impossível reparar na cidade, olhar pra cima, ver suas construções. A própria cidade vira outra, sem aquele charme de cidade histórica e vira uma micareta a céu aberto.

(Foliões desfilam na praça central. Juscelino Kubitscheck resolveu dar o ar da graça. Foto tirada desse link)

A compensação

E a parte boa, onde fica? Do jeito que escrevi lá em cima parece que tudo é ruim ne... Nada disso. Se tudo fosse tão ruim assim o carnaval de Diamantina não seria um dos mais famosos de Minas. Pra quem quer festa literalmente 24 horas é o lugar perfeito. Qualquer hora que você sair na rua vai ver gente pulando, dançando e bebendo. Como minha casa ficou bem longe da muvuca eu tinha que andar muito pra chegar no centro e a cada esquina tinha um som ligado com gente na rua ou uma casa oferecendo festa.

Alguns estabelecimentos que não fazem parte da programação oficial já viraram tradição. Um deles é o Bar do Titi. A festa lá começa de manhã e vai até o final da tarde. O local fica tão entupido que cheguei a ver pessoas daçando nos telhados das casas.

Dentro da programação oficial, há música em vários pontos da cidade. Perto da rodoviária um palco foi montado para a apresentação de grupos de pagode e de dança que ensinavam coreografias de axé. No largo Dom João, a festa era mais familiar, com blocos de rua tradicionais, marchinhas de carnaval e muito samba. Na rua da Quitanda, na frente do bar A Baiúca, grupos de samba tradicional e de raiz começavam a tocar às 15h. A partir das 20h, DJs animavam o local com samba rock e outras misturas.

Outros pontos da cidade também se prepararam para receber os turistas oferecendo de tudo, inclusive MPB. Mas o ponto alto do carnaval era mesmo na Praça do Mercado Velho, aonde as bandas Bat-Caverna (com direito a Batman atravessando a praça de tirolesa) e Bartucada animavam o batalhão de pessoas. Começavam às 20h e só paravam às 7h da manhã.

(Show da banda de percurssão Bartucada. Axé, samba e sertanejo em ritmo acelerado tomavam conta da noite. Foto tirada desse link)

Paquera, álcool e axé

Não foi só a festa que deixou a cidade animada. Me diverto muito com alguns foliões fantasiados de Amy Winehouse, Freddy Mercury Prateado, lutadores romanos e mais centenas de pessoas só de sunga ou fralda. Em questão de drogas, o carnaval de Diamantina 2010 foi o ano do loló. Vi muitos vendendo e usando a mistura. Também fiquei impressionada com a quantidade de álcool ingerida. Só na minha casa (com 35 pessoas) foi mais de 20 garrafas de vodka, fora rum, tequila, cerveja, catuaba... Apesar de pessoas bêbadas e incovenientes serem chatas, conheci algumas que estavam pra lá de Bagdá e só me fizeram rir.

Outra parte divertida também foram as cantadas ridículas que escutei. Algumas tão ridículas que chegavam a ser engraçadas. Para se ter uma ideia:

- Oi, meu nome é Arlindo. Mas quando te vi perdi o Ar.
- Se você fosse um peido eu não te soltava nunca.
- Você já fez aula de canto? Então vamo ali no canto pra eu te dar um aula.
- Seu short é espacial? Porque você é de outro mundo.

Fiquei até pensando com quantas meninas essa tática não funcionou... Mas em questão de paquera, é melhor ficar esperto. As típicas e eternamente repetidas recomendações dos pais são válidas: não aceite bebida de ninguém, não se deixe levar para a casa de qualquer um, use camisinha. E faça um bom alongamento antes de sair de casa para se esquivar dos marmanjos que tentam agarrar a força. No mais, a curtição é garantida!

Um comentário:

  1. no final das contas vale a pena ter passado por todos perrengues do carnaval de diamantina !!

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