terça-feira, 25 de outubro de 2011

Do moderno ao milenar

Uma das maiores virtudes de um grupo de viagem é saber que estar em grupo é sempre mais interessante, mas que as vezes é preciso dar voz aos desejos particulares e seguir sozinho. Era o nosso último dia em Paris e as vontades se dividiam. Fafá queria continuar os lerês e ir ao Louvre. Eu e a Tissi, que já conhecíamos a cidade, queríamos fazer algo completamente diferente. Então fomos juntas até a estação de Metro do Les Pyramides. A Fafá ficou por lá e nós decidimos em ir até o bairro La Défense.

(Em constante crescimento. Foto tirada desse link)

O porquê da escolha é uma pergunta difícil de responder, mas acho que nossa principal motivação foi conhecer um local distante e que não tem exatamente NADA a ver com o resto da capital francesa. Paris é exemplo de preservação patrimonial e para a construção de novos prédios as empresas seguem padrões bastante restritos. O La Défense é o oposto. O local é marcado por dezenas de arranha-céus espelhados, fazendo deste o maior centro financeiro da cidade. Outro fato que o distingue do resto da capital é a sua idade: o bairro é um bebê em comparação à milenar cidade-luz. A primeira torre foi erguida somente em 1966.

O bairro é muito distante, mais especificamente no ponto final da linha 1 dos metrôs de Paris. Quando chegamos ao local me lembro que a primeira coisa que fiz foi esticar o pescoço e levantar bem a cabeça. Fiquei uns cinco minutos só olhando para cima, para a grandiosidade daqueles prédios realmente enormes...

(O Grande Arco. A subida até o teto do arco é mas estava fechada a visitação)

O símbolo do local é o Grande Arco, um arco com 112 metros de altura coberto de mármore branco. Ele foi erguido no ano de 1989 em comemoração ao bicentenário da Revolução Francesa. O projeto é do arquiteto dinamarquês Otto von Spreckelsen, que o considera como uma versão moderna do famoso Arco do Triunfo e, da mesma forma, uma obra em homenagem aos ideais humanitários (não por menos, os dois arcos estão geograficamente alinhados).

Passeando pelo La Défense vimos coisas curiosas, como pequenas construções em formas circulares e uma estátua de um polegar de 12 metros, o Dedo de César, uma das esculturas mais reproduzidas no mundo. No mais, o bairro parecia morto. Não sabíamos se o culpado era o frio, o natal, o dia de domingo... ficamos nos perguntando se valia a pena conhecer o local e chegamos a conclusão de que se você já estivesse cansado da arquitetura parisiense, aí sim, poderia passar por lá.

(Dá um joia!)

Mas se tinha um local movimentado, esse era a Mercado de Natal. Enorme e cheio de lojas bonitas, eu e a Tissi passamos mais ou menos uma hora passeando pelas lojinhas e olhando de tudo um pouco: comidas, roupas, chapéus e objetos com cheiros especiais.

Voltamos ao centro da cidade e depois de uma voltinha pelos sempre belos jardins do Louvre, seguimos ao Museu d'Orsay. Já falei aqui que considero esse o melhor museu de Paris (entre os que eu visitei, claro). Em primeiro lugar, o espaço destinado ao museu é em si uma obra de arte. Foi construído pela Companhia dos Caminhos de Ferro de Órleans para servir como estação ferroviária de Paris, mas também para ser apresentada durante a Exposição Mundial de 1900, por isso todo o requinte. E o local é mesmo exuberante. Suas paredes e teto são totalmente cobertos por flores de mármore e vidros, que oferecem luminosidade natural. O grande relógio na parede de entrada é o ponto alto da sua decoração.

(Atenção para os fotógrafos frenéticos: aqui é proibido e a fiscalização é pesada. Foto tirada desse link)

Mas a estação funcionou até o ano de 1939, quando sua infra-estrutura e seu tamanho se tornaram pequenos para receber a expansão do sistema ferroviário da cidade. O governo voltou os olhos novamente para aquele espaço só em 1973, com o objetivo de fazer um museu reservado à obras da segunda metade do século XIX, período de grande inovação artística. As reformas começaram e o local foi reaberto ao público em 1986, com coleções de pinturas, esculturas, design e fotografias. O lado direito do museu é o que eu mais gosto pois traz artistas da estética impressionista como Van Gogh, Edouard Manet e Claude Monet.



(Sabe aquelas imagens que a gente nas aulas de arte e se pergunta onde estão? Estão lá. A esquerda, auto-retrato de Van Gogh. A direita, Almoço sob o bosque de Manet. Fotos tiradas desse e desse link)

Admito que para entrar sem pagar burlamos a fiscalização...! A França tem uma lógica bizarra. Crianças e estudantes entre 12 e 25 anos sempre pagam meia. O estranho é que em certos lugares, como no Museu d'Orsay, não importa se você é estudante ou não, mas sim que você tenha até 25 anos. E a Fafá tinha 26. Então eu e Tissi passamos, voltamos pro início da fila e entregamos o cartão pra Fafá. Era isso ou 7,50 euros para a entrada.

Voltamos para o hotel... mas eu tinha uma missão: resgatar o Teichmann, um amigo brasileiro que estava morando na Alemanha mas ia fazer a viagem de fim de ano com a gente. Enquanto as meninas dormiam, eu subia e descia a Gare de Lyon com medo de nos desencontrarmos... Até que desisti e voltei pro hotel. Então ele me ligou. Voltei pra estação. Ele me ligou. Voltei pro hotel! Que alegria encontrar com ele!

O Teichmann é uma pessoa peculiar. Já morou na Alemanha por doze meses quando tinha 17 anos, já viajou a dezenas de países da Europa, mas nunca tinha colocado os pés na França. Era pra ele ter chegado bem antes e passeado conosco, conhecido o Louvre, visitado o bairro de Montmartre. Mas uma coisa era a que ele mais queria fazer: subir a Dama de Ferro.

(Chegamos em Paris às 9h da manhã, mas só a noite, quando por uma coincidência nos deparamos com Torre Eiffeil ao fundo a Fafá gritou "Ahhh, eu to em Paris!". Clichê ou não, ela estava certa. Estar na capital francesa é ver a torre)

O símbolo-mor da capital parisiense foi construído no ano de 1889 para a Exposição Mundial de Paris. Anos antes do evento, o governo abriu inscrições para um concurso que iria escolher um projeto de design e arquitetura que fosse capaz de mostrar ao mundo o savoir-faire francês. Gustave Eiffel ganhou o concurso e o apoio... do governo. E só. Dizem que a população não gostou do projeto e achou a torre um tanto quando feia. Mas sua estrutura inusitada e seus 324 metros (foi a construção mais alta do mundo até 1930) chamou a atenção de todos e rapidamente se tornou famosa.

Como sempre, a fila para a subir a Torre Eiffel estava imensa. Mesmo em uma segunda-feira, a noite, no inverno, ela dava voltas. Me esqueci que em Paris sempre é alta temporada. Já era noite quando chegamos lá em cima. A vista continuava linda, mas os pontos turísticos não estavam mais tão visíveis. Demos a volta completa e tiramos mil fotos, mas não demoramos muito para descer pois o vento estava congelante.

(Vista noturna do Champs de Mars do alto da Torre Eiffel)

A pergunta então foi: "e aí francesinhas, pra onde a gente vai agora?". Tínhamos de mostrar Paris para um turista em três horas úteis. E pela nossa experiência o melhor lugar era o Champs-Elysées. A avenida mais famosa da cidade que ostenta o Arco do Triunfo com certeza estaria cheia de gente, de comércio e de atrações àquela hora da noite. Isso sem contar que era o ponto mais bonito (quiça de toda a Europa) para se ver no natal.

Andamos por toda a avenida. Entramos em diversas ruas para ver os monumentos do 8º arrondisement, como o Grand Palais e a Igreja de Santa Madalena. Chegamos até a Place de la Concorde, que guarda uma linda fonte e o famoso obelisco egípcio de 3300 anos, ofertada pelo presidente do país à nação francesa em reconhecimento ao primeiro tradutor dos hieróglifos. Ali também estava a Roda Gigante que a gente via lá da outra ponta da avenida. O preço por cabeça? 30 euros. Demos meia volta instantaneamente e continuamos a andar.

(Roda gigante no final da Champs-Elysées. Ao lado direito, o obelisco egípcio. Foto tirada desse link)

Apesar de ser só o início da nossa eurotrip, nos divertimos como se não houvesse amanhã. Até o frio passou. Andamos uns oito quilômetros em três horas. Passeamos pelas barraquinhas do mercado de natal, conversamos com estranhos, zombamos do excesso de ostentação da capital francesa, subimos em monumentos histórico para tirar fotos e, claro, como não podia deixar de ser com um grupo de brasileiros, não paramos de falar um segundo.

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