sábado, 29 de outubro de 2011

Low-cost: para não cair nas pegadinhas

A manhã chegou fria, mas com sol. Pena que aquele seria o nosso último dia em Paris. Levantei mais cedo que as meninas pois tinha combinado de passar no Museu do Louvre com o Teichmann. Arrumei meu mochilão, coloquei nas costas e saí. Foi um passeio super rápido, desses em que a gente chega, fica 5 minutos olhando para cima e para os lados tentando captar a essência do local, tira algumas fotos diferentes, outras muito clichês, e vai embora.

(Quer foto mais clichê que colocar a mão no final da pirâmide? E é claro que tiramos uma foto dessas... Foto tirada desse link)

Mas apesar da correria eu estava muito feliz. Daqui a algumas horas eu estaria em Madrid conhecendo um novo país. Porque daqui a algumas horas? Desde que cheguei a Clermont todas as minhas viagens foram feitas de trem ou de carro por causa das circunstâncias, das distâncias e dos preços. Pela primeira vez eu ia voar de avião.

Um alerta: todos acham que viajar na Europa é mega barato e que os turistas têm todas as vantagens do mundo. Ledo engano. De fato, viajar na Europa é mais barato do que viajar no Brasil mesmo convertendo a moeda (aliás, praticamente tudo na Europa é mais barato). Aqui, as passagens de avião são caras, as promoçõs são raras e as ofertas cheias de asteriscos minúsculos. As nossas companhias mais baratas jamais levariam o nome de low-cost e os nossos serviços aéreos são sempre demorados. De fato, o grande problema no Brasil é a falta de opção. Os preços são relativamente tabelados e as empresas não são tão diferentes assim.

Como voar barato na Europa?

Na Europa, as opções aumentam, mas é preciso estar atento a algumas dicas se você quiser voar barato:

(Uma manhã no aeroporto de Guarulhos é mais ou menos assim. Nos aeroportos da Europa é a mesma coisa. Foto tirada desse link)

1. Acompanhe sites como Melhores Destinos, Aquela Passagem e Decolar.com (mas os mais desconfiados já diriam: quando acharem uma oferta incrível, busquem também no site oficial da companhia).

2. Tente em várias datas, em diferentes semanas, altere o número de noites em um destino. Em um dia pode estar 50 euros mas no outro menos de 15.

3. Busque sempre ida e volta pois os trechos costumam ser mais baratos.

4. Leia as regras das promoções pois nem sempre ela é tão bonita quanto parece. As vezes ela é promocional porque o avião que você vai pegar é em um aeroporto a duas horas da cidade destino ou porque o limite de passagem é reduzido.

5. Compre com antecedência. Quanto antes maiores as chances de a passagem estar barata. Em compensação, quem deixa para comprar depois perde a possibilidade de participar de leilões ou de adquirir passagens por promoções-relâmpago.

Nós pecamos em quase todos os itens. A começar, nossas passagens Paris-Madrid e Sevilha-Barcelona foram compradas com pouca antecedência. Além disso, elas tinham uma data fixa para acontecer: não podíamos esperar muito para chegar à capital espanhola pois, caso contrário, passaríamos pouco tempo em Madrid e em Sevilha antes de ir para Barcelona que, impreterivelmente, era o nosso destino no dia 31. Não conhecíamos buscadores como eDreams, o Syscanner e o Matrix, dois dos melhores sites para procurar passagens em toda a Europa. Então, entramos diretamente no site de empresas com Ryanair, Vueling, Spanair e EasyJet.

A sorte é que, como disse antes, viajar de avião na Europa é mais barato que no Brasil em termos gerais. Encontramos passagens de Paris para Madrid por 45 euros e de Sevilha para Barcelona por 25. O item que não pulamos foi conferir as regras da companhia. Fomos preenchendo o formulário, lendo as regras e então vimos que ainda era preciso pagar por uma taxa de 15 euros em cada uma delas. Pegadinha nº 1. Mas ok, era em cima da hora.

A pegadinha nº 2 é que grande parte das companhias low-cost realizam seus voos em aeroportos menores, afastados da cidade, e as vezes o preço da passagem mais transporte até o local fica mais caro do que uma companhia comum. Mas nem sempre. No nosso caso ficou quase igual... com a diferença de que quase perdemos o voo. A passagem da Ryanair saía do aeroporto de Beauvais, a uma hora de Paris. Na estação de Porte Maillot há ônibus que pela "bagatela" de 15 euros levam os passageiros até lá.

(A rodoviária de Beauvais. Nada contra aeroportos pequenos. Eles são ótimos para desafogar o fluxo de aeronoaves dos maiores. Mas esperar 3 horas em um lugar como esse é dose. Foto tirada desse link)

Assim, eu o Teichmann pegamos o mapa e tentamos localizar a estação Porte Maillot quando a Tissi me envia uma mensagem. "Onde vocês estão? Já chegamos aqui". Calma, a gente está chegando. No meio do caminho, "já estamos na fila para comprar as passagens do aeroporto". Calma, quase lá. Saímos da estação final e o local era TÃO mal sinalizado que paramos três pessoas para perguntar. O celular toca de novo. "Cadê vocês?". Começamos a correr.

Chegamos na fila a tempo. Ali encontramos com a Agathe, a francesa mais brasileira que já conheci na minha vida. Nos tornamos amigas em uma situação completamente atípica: uma amiga da faculdade conheceu a Agathe em Belo Horizonte e disse para entrar em contato quando estivesse em Clermont. Já eram 4 meses de convivência quando estávamos combinando nossa viagem de fim de ano para a Espanha e ela disse que iria conosco. Empecilho linguístico? Nenhum. Ela falava português, com todos os "tipo assim" e palavrões que a gente adora repetir de 5 em 5 minutos. Com a trupe completa e os bilhetes comprados, estávamos prontos para embarcar.

Quantos prós valem os contras?

Depois de uma hora de viagem, chegamos ao Beauvais, tão pequeno que mais parecia uma rodoviária do interior. As filas estavam pequenas e nós estávamos com tempo. Compramos sanduíches naturais, colocamos as malas no chão e nos sentamos até a hora do voo. A pegadinha nº 3 tem a ver com o check-in: quem não imprime a confirmação da compra da Ryanair antecipadamente paga 40 euros. Mas dessa estávamos livres. Imprimimos e ainda tiramos xerox da impressão, para ninguém atrapalhar.

(Um dia eles vão cobrar até pelos itens de segurança... Imagem tirada desse link)

Com o bilhete na mão, sem filas, correto? Errado. Pegadinha nº 4: se você não é um cidadão europeu você precisa mostrar seu passaporte na "boca do caixa". O pior é que mesmo com todo aquele tempo sobrando só descobrimos isso 30 minutos antes do avião decolar. A Agathe e o Teichmann (descendente alemão) passaram e nos prometeram que o avião não saía do chão sem a gente. Claro que na hora do vamos ver eles não fariam diferença alguma, mas foi bom ter um conforto naquele momento.

Enfrentamos a fila e imploramos encarecidamente pro moço carimbar olhar nossos passaportes e carimbar nosso bilhete de avião antes de recolher as malas daquela fila imensa. Depois era hora de passar pela fiscalização das malas. A maior parte das low-costs não deixa o passageiro despachar suas malas. Ou seja: ele é obrigada a viajar com tudo nas mãos. Até aí tudo bem, mas a pegadinha nº 5 é que a mala não pode ter mais de 10kg. Lembro que um dia antes de viajar fui a uma farmácia pesar a minha mala. Por sorte ela tinha 9,8kg. Mas quando chegamos lá vimos que eles não colocam a mala em uma balança. Na verdade eles tem uma armação em aço e a mala tem que caber naquele espaço. Se ela entrar e sair, a pessoa pode passar.

(Foto tirada desse link)

O Teichmann tinha 15kg e, não bastasse isso, a mala dele era visivelmente maior que a nossa. Se não passasse de primeira ele teria que pagar 30 euros para despachar ou deixar meio mundo para trás. Então antes de irmos para a fila do passaporte divimos o que ele tinha, acabamos com a comida da sua mala (claro que comer doces natalinos alemães não era esforço nenhum) e rezamos para ele passar. Deu certo, por um milagre.

Depois disso foi tudo tranquilo. Mas fato é que viajar de low-cost pode se tornar uma aventura. Por isso vou enumerar as pegadinhas que citei até agora (e outras tantas) para você não cair em nenhuma delas quando chegar a sua vez:
  • Na hora de comprar a passagem leia TUDO que está escrito. As companhias colocam mil opções para o cliente como mala adicional, seguro de viagem, seguro saúde, etc. É preciso clicar nas casinhas desmarcando as opções caso não queira que o preço da sua passagem aumente.

  • Check-in pela internet e bilhete impresso na mão caso você não queria receber uma multa de 40 euros.

  • Malas pequenas são fundamentais. O Teichmann deu sorte mas já vi pessoas tirando roupas, bebidas e tudo o mais que você pode imaginar para não precisar de pagar e despachar o excesso de peso. Agora imagine deixar as suas compras ou as suas roupas preferidas no aeroporto? Vista tudo se for necessário.

  • Não adianta levar uma bolsa, uma sacola cheia de apetrechos e a sua mala. Eles só permitem UM volume em mãos.

  • Não há lugar marcado, a não ser que você queira pagar uma pequena taxa para ter prioridade de embarque. Caso não tenha feito isso não se espante ou queria matar o coleguinha que parece estar furando fila. Ele pagou o direito de escolher a melhor cadeira primeiro.

  • Há outras mil coisas irritantes: os assentos são super apertados e não reclináveis, o avião é um outdoor sem fim de tanta publicidade e tudo que é vendido no avião tem um preço, normalmente alto.

(Para ser barato, haja patrocínio. Foto tirada desse link)

Mas se vale a pena viajar low-cost? CLARO. Tenho a mesma opinião da Adriana Setti, jornalista e blogueira da Viagem e Turismo:

"Sim, eles esfregam na sua cara que você pagou barato. Sim, você perde mais tempo com deslocamentos. Sim, alguns detalhes são mesmo irritantes. Sim, eles são intolerantes e se aproveitam de qualquer distração dos passageiros para faturar. Mas se todas essas pequenas coisas fazem a passagem custar três vezes menos do as outras, tô dentro! Defendo a Ryanair com unhas e dentes porque eles não enganam ninguém: ao comprar a passagem você é ostensivamente informado sobre todo o procedimento, em letras garrafais". (texto completo nesse link).

E afinal, chegamos em Madrid, não chegamos?

(São e salvos, a espera do trem que ia nos levar para nosso albergue)

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