É visível. Lembro de quando fui para Portugal, em agosto de 2007, e visitei pequenos vilarejos do interior. Esses locais tinham pouquíssimas crianças. Ao contrário, era comum ver um velinho simpático andando pelas ruas de pedra ou duas comadres conversando na porta de alguma casa.
A vila de Junqueira, onde morava meu avô, é uma daquelas aldeias que vai acabar desaparecendo. No local moravam cerca de 40 pessoas. Entre elas, uma única criança. Não há jovens, pois todos vão estudar em cidades maiores. Quando se formam eles não voltam, pois não há emprego. Viram adultos moradores de centros urbanos. E o número 40 diminui a cada dia, pois os idosos vão morrendo e seus filhos, ao invés de voltar, vendem a casa que restou.
Meus pais, que voltaram do velho continente há pouco tempo, sentiram isso de perto. nas grandes capitais o problema mal se nota: há jovens por todos os lados e uma população extremamente ativa. Nas cidades um pouco maiores, o idosos estão em grande quantidade. Mas é nas pequenas vilas que vemos o que a gente tanto lê nos livros de geografia, mas não consegue visualizar. É um movimento de dentro pra fora que o turista do roteiro comum talvez nem perceba.
(Casa em Junqueria. Apesar da beleza, muitas já estão abandonadas)
Tendência mundial
Alguns motivos contribuem para o envelhecimento da população. Um deles é o crescimento da expectativa de vida. Enquanto a população europeia morria aos 45 anos em 1900, hoje ela ostenta uma expectativa de vida entre 75 e 80 anos. No Brasil, observa-se algo semelhante. Segundo dados do IBGE, em 1900 um brasileiro vivia em média 33,7 anos. Em 2000, esse número pulou para 68,5 anos. O crescimento da expectativa de vida foi causado, entre outros fatores, pelas melhores condições alimentares e sanitárias e pelos avanços na medicina.
O outro motivo para o envelhecimento é a queda da taxa de fecundidade. Segundo dados de 2008 do IPEA, na década de 1960 a média brasileira era de 6 filhos por mulher. Em 2007, o número caiu para 1,9. Na Europa é ainda menor. A Itália tem as piores projeções: 1,2 filhos. Diversas entidades já demonstraram que para a população de um país manter-se estável, é preciso que cada mulher tenha ao menos 2,1 filhos. Nenhum país europeu, porém, passa no teste.
A Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa afirma que o envelhecimento da população é um dos maiores desafios que o continente enfrenta. A mão de obra na Europa já está escassa: a cada 4,4 pessoas com idade para trabalhar há uma pessoa idosa. Isso sem contar os gastos desses países com médicos, seguro-saúde e aposentadoria.
Se o problema já é grande quando pensamos dentro de uma lógica brasileira, imagine na Europa, que garante todos os direitos de seus cidadãos! Não estou dizendo que os países não devam fazer isso, principalmente se eles pagam tantos impostos. Mas sabemos que um país pode ficar "capenga" quando seus gastos orçamentais se elevam muito.
E o problema vai além do financeiro, pois o país começa a criar uma cultura ao redor de toda essa "segurança social". Segundo minha própria minha tia, que mora em Porto, as pessoas estão ficando preguiçosas. Meus pais demoraram 2 dias para conseguir uma procuração pois a funcionário não conseguiria atender o incrível número de 4 pessoas em menos tempo. Quando alguém perde o emprego ela permanece assim por meses a fio, já que o seguro desemprego dura 3 anos. Até a comida dos doentes eles levam em casa. Acho todos esses benefícios ótimos, se querem saber. São frutos de lutas de uma população lutando pelos impostos que pagam. Mas essa cultura quase assistencialista, um dia, pode se tornar insustentável.
DICA: A Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra realizou um estudo do perfil de envelhecimento da população portuguesa. A ideia é, por meio dessa pesquisa, identificar as peculiaridades dessa "geração" e, assim, proporcionar um maior bem estar para essa população. Para quem quiser se aprofundar no assunto é só entrar nesse site.
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