Eu estava pronta para começar mais um post. Ia escrever sobre a viagem que fiz no início de setembro pela Costa do Sol, no sul da Espanha. Seria mais um texto sobre uma viagem legal. Seria só mais um texto.
Comecei a pensar no por quê dos meus textos. E até no por quê do meu blog. Por que escrever um blog de viagens? Para que serve? As informações que eu posto aqui devem levar em consideração o que os leitores buscam? Ou eu deveria trazer coisas que eles não buscam pelo fato de que, antes do meu texto, eles sequer sabiam que essa coisa existia? Qual o meu papel como blogueira e jornalista? Qual a minha implicação frente ao objeto que descrevo?
Acho que poucas pessoas têm a oportunidade de refletir sobre o próprio trabalho e uma série de circunstâncias me fizeram ter a sorte de ser uma delas.
Em mais de três anos de blog eu escrevi algumas centenas de textos, recebi algumas dezenas de comentários e vi o número de visitantes do Eu mundo afora chegar a cifra dos milhares. Criei twitter, página no facebook, perfil no pinterest e tentei manter o meu leitor sempre informado. Revejo com orgulho tudo o que criei, mas com um olhar crítico.
Há algum tempo eu me preocupo consideravelmente com as implicações do turismo. Quase todos os cantos do mundo são possíveis vítimas de um ciclo vicioso que consiste em um lugar ser explorado e relatado por alguém, o relato cair no gosto do público, o público buscar esse lugar, esse lugar se adaptar ao público e assim deixar de ser o que era antes. Esse processo faz com que cidades, paisagens e até mesmo tradições percam as suas peculiaridades. Algumas ilhas da Tailândia, por exemplo, já não podem ser símbolo de calma e tranquilidade. A hula-hula no Havaí já deixou de ser apresentação para se tornar representação, exibida fora do seu contexto habitual.
O processo não é sempre igual e em cada parte há uma série de variáveis. Uma cidade demora anos ou mesmo décadas para se transformar em destino dos sonhos. As vezes ela nunca o será. Alguns povoados não se importam com o fluxo de turistas e não mudam por causa da nova rotina. Outros se adaptam e melhoram.
Poder descobrir novas paisagens e conviver com outras culturas é um desses privilégios inolvidáveis. Quem viaja sabe o prazer que é chegar em um local onde tudo é novo. Passar o dia caminhando por ruas até então desconhecidas, observar as estruturas que dão vida ao ambiente, sentir um novo sabor ao experimentar uma mistura de tempero exóticos, ver um mundo de pessoas (in)visíveis, que choram, riem e sentem, quiçá, as mesmas emoções que sentimos. Mas hoje vivemos um grande paradoxo: as cidades se adaptam para receber um turista que, na verdade, quer conhecer este local exatamente por suas particularidades.
A mídia tem um grande poder nisso tudo, não só pela exposição que faz dos destinos turísticos, mas pela forma como se dá essa exposição. Uma pessoa que jamais viu um certo local tende a acreditar no que vê e a sentir o que sente o narrador de tal relato. É preciso pensar mais no que será exibido, ler mais o que será escrito, sentir mais profundamente a alma de um certo local - se é que ela existe - antes de apresentá-lo ao público.
Em busca de respostas para esse monte de perguntas, resolvi deixar o blog parado por um tempo. Prefiro esperar a continuar com a mesma fórmula que, para mim, já não faz sentido. Não vou apagar nenhum texto, sequer mudar seu conteúdo. Vou reorganizar e recomeçar. Aguardem!
Acho que poucas pessoas têm a oportunidade de refletir sobre o próprio trabalho e uma série de circunstâncias me fizeram ter a sorte de ser uma delas.
Em mais de três anos de blog eu escrevi algumas centenas de textos, recebi algumas dezenas de comentários e vi o número de visitantes do Eu mundo afora chegar a cifra dos milhares. Criei twitter, página no facebook, perfil no pinterest e tentei manter o meu leitor sempre informado. Revejo com orgulho tudo o que criei, mas com um olhar crítico.
Há algum tempo eu me preocupo consideravelmente com as implicações do turismo. Quase todos os cantos do mundo são possíveis vítimas de um ciclo vicioso que consiste em um lugar ser explorado e relatado por alguém, o relato cair no gosto do público, o público buscar esse lugar, esse lugar se adaptar ao público e assim deixar de ser o que era antes. Esse processo faz com que cidades, paisagens e até mesmo tradições percam as suas peculiaridades. Algumas ilhas da Tailândia, por exemplo, já não podem ser símbolo de calma e tranquilidade. A hula-hula no Havaí já deixou de ser apresentação para se tornar representação, exibida fora do seu contexto habitual.
O processo não é sempre igual e em cada parte há uma série de variáveis. Uma cidade demora anos ou mesmo décadas para se transformar em destino dos sonhos. As vezes ela nunca o será. Alguns povoados não se importam com o fluxo de turistas e não mudam por causa da nova rotina. Outros se adaptam e melhoram.
(Na Livraria Lello, em Porto (Portugal) a maior parte das pessoas entra, dá uma olhada, atrapalha o caminho, tira uma ou duas fotos e vai embora. Nem se lembram que aí se vendem livros)
Ainda que a transformação causada pela atividade turística não seja universal, ela é cada vez mais forte. Exemplos como o fechamento de praias por grandes resorts, a cobrança de entradas para a visitação de igrejas, o aumento considerável do valor dos alimentos e a mudança dos hábitos da população local visando sua adaptação à rotina turística mostram a influência dessa atividade.Poder descobrir novas paisagens e conviver com outras culturas é um desses privilégios inolvidáveis. Quem viaja sabe o prazer que é chegar em um local onde tudo é novo. Passar o dia caminhando por ruas até então desconhecidas, observar as estruturas que dão vida ao ambiente, sentir um novo sabor ao experimentar uma mistura de tempero exóticos, ver um mundo de pessoas (in)visíveis, que choram, riem e sentem, quiçá, as mesmas emoções que sentimos. Mas hoje vivemos um grande paradoxo: as cidades se adaptam para receber um turista que, na verdade, quer conhecer este local exatamente por suas particularidades.
A mídia tem um grande poder nisso tudo, não só pela exposição que faz dos destinos turísticos, mas pela forma como se dá essa exposição. Uma pessoa que jamais viu um certo local tende a acreditar no que vê e a sentir o que sente o narrador de tal relato. É preciso pensar mais no que será exibido, ler mais o que será escrito, sentir mais profundamente a alma de um certo local - se é que ela existe - antes de apresentá-lo ao público.
Em busca de respostas para esse monte de perguntas, resolvi deixar o blog parado por um tempo. Prefiro esperar a continuar com a mesma fórmula que, para mim, já não faz sentido. Não vou apagar nenhum texto, sequer mudar seu conteúdo. Vou reorganizar e recomeçar. Aguardem!