segunda-feira, 13 de junho de 2011

Pequeno grande país

Logo depois do almoço saímos de Menton e fomos para Mônaco. Na praça central da pequena "cidade dos aposentados franceses" um ônibus que cobrava somente 1 euro levava os passageiros para o outro país. No caminho a beira-mar, sol (apesar do frio), céu claro e águas de cor azul anil, uma constante no mediterrâneo francês.

Apesar de ser outro país, não há fronteiras bem marcadas. Os desavisados chegariam a Mônaco sem perceber. Mas isso não acontece por um simples motivo chamado riqueza. Como disse no post passado, assim que o principado começa você já vê a diferença nas construções, no cuidado com os jardins, nas roupas dos habitantes. Os turistas não vão a Mônaco pela sua arquitetura ou pela história da nobreza, vão pelo luxo.

(Vista da cidade do bela vista da cidade do alto da Praça do Palácio)

Uma passada de olho

O Principado de Mônaco é o segundo menor país do mundo. Muitos sequer o consideram país e, por isso, o denominam como um dos 6 microestados da Europa. O que interessa é que o território monegasco tem apenas dois (DOIS!) quilômetros quadrados, perdendo apenas para o Vaticano, com 0,4 km².

(Infraestrutura impecável nos dois quilômetros quadrados mais populosos do mundo)

Apesar do espaço reduzido, todos querem viver em Mônaco e por isso ele detém o recorde de estado com maior densidade populacional do mundo: cerca de 16 mil habitantes por km². Isso nota-se facilmente. O local tem arranha-céus por todos os lados. O interessante é ver também que, apesar do espaço mínimo e aproveitamento máximo, não há bagunça. Não há edifícios amontoados, as ruas são largas o suficiente para não produzirem engarrafamentos e a cidade encontra espaços para jardins, praças e calçadões. Tudo na medida.

O porquê de o país ser tão pequeno tem raízes históricas. A área que hoje pertence ao Principado de Mônaco é habitada desde a pré-história por ser um local estratégico: as montanhas serviam como refúgio às populações primitivas e o porto era a saída para o mar. A fundação de Mônaco se deu pelo povo fenício. Até o século X a espaço foi invadido por uma infinidade de povos, dos gregos e romanos até colônias muçulmanas. Com a expulsão desses povos pelos franceses, o local foi sendo habitado pouco a pouco.

(Preparada para a emboscada!)

A partir do século XII a história de Mônaco começa a ganhar contornos de realeza. Em 1331, por fim, Carlos I ganhou o direito de governar o país e tornou-se o "primeiro senhor de Mônaco". Ainda assim, alguns governos lutavam pela anexação do espaço a países diversos. Só em 1489 o país foi considerado soberano e o estado francês anunciou proteção ao seu príncipe. Durante a Revolução Francesa o país sofreu o último atentado a sua soberania após ser anexado à França, mas com o fim dos combates ele foi novamente libertado.

Os contornos luxuosos do país se iniciaram em 1861, quando o príncipe Carlos III resolveu chamar a atenção da alta sociedade e pediu que estes contribuíssem para o desenvolvimento do Principado. Dois anos depois o país erguia seu primeiro e mais famoso prédio, o Casino de monte Carlo. Três anos mais tarde o centro de Monte Carlo também estava estruturado com seus cafés classe A e uma cuidadosa administração governamental. A cidade respirava o luxo.



(Cassino de Monte Carlo e Café de Paris. O centro geográfico do país concentra também os pontos mais frequentados pela high-society. Há quem diga que os ricos conhecem locais novos mais descolados - e menos apinhados de turistas)

Detalhes a ver

O ônibus parou em frente ao escritório de informações para turistas. Pegamos um mapa e descobrimos, assim que nos viramos para o lado que já estávamos, na verdade, na Place du Casino, uma praça com muito verde e fontes que ficam ligadas 24 horas por dia. O espaço é o centro do bairro mais famoso do país: Monte Carlo.

(Alguns chamam o espaço de Praça do Espelho. Dependendo do ângulo, a estrutura reflete diferentes monumentos do entorno)

Logo a frente, o famoso Casino desenhado pelo arquiteto Charles Garnier. Para entrar e ter acesso aos salões do edifício é preciso pagar 10 euros. Ou seja, não entramos. Do lado de dentro há um espaço aberto cercado por 28 colunas de ónix e salas revestidas de ouro. Ao redor da praça, edifícios chiques e arquitetura francesa. Entre eles o Café de Paris, bistrô mais chique da cidade.

Resolvemos andar a esmo pela cidade. Dois quilômetros quadrados seria pouco para a gente se perder. Estávamos no alto da cidade e fomos descendo em direção ao porto. No caminho, as faixas laranjas e brancas da Fórmula 1. Eu ADORO Fórmula 1 e ver as faixas e as marcas de pneu no asfalto foi muito legal. Elas estão por toda a cidade e só quando passamos lá deu pra entender a real dificuldade dos atletas participantes da volta de Mônaco. O problema não é o caminho estreito, mas o fato de que não há espaço para erros. Se você bater não tem para onde ir. Invariavelmente vai se deparar com um muro, um poste, um prédio.

(As curvas da Fórmula 1)

No caminho não vi nenhum carro de Fórmula 1, mas tropecei em Jaguares e Lamborghinis. E quando acaba as ruas, começa o mar. E os barcos. Iates, na verdade. Centenas deles. O Porto Hercule é um ótimo local para passear. Além da vista marítima há belas boutiques e bares ao longo das ruas. Para chegar do outro lado do porto é preciso uma grande caminhada. Mas ao preço de um euro por pessoa uma pequena lancha atravessa os passageiros para o outro lado. E você ainda pode pagar uma de rico e dizer que "andou de barco no mar de Mônaco".

Do outro lado está a parte medieval da cidade. Conhecida como o Rochedo, foi ali que os fenícios se instalaram séculos atrás. A primeira imagem que se vê são os muros que protegiam o local. As escadas levam a um anfiteatro que tem uma das melhores vistas da cidade. Jardins com esculturas e plantas bem cuidadas circundam as passagens até o Palácio de Mônaco, também conhecido como Palácio do Príncipe. Todos os dias, às 11h55, a residência da família real desde 1297 oferece aos turistas a cerimônia da troca de guardas.

(Do lado da porta estão duas pequenas casinhas aonde ficam os guardas da Realeza. Em pé, 24 horas por dia. Foto tirada desse link)

Por algum motivo, aquele dia a gente não pode entrar. Então aproveitamos o tempo calmo e a vista incrível do alto do rochedo para dar uma volta pela enorme praça. Para continuar o passeio seguimos pelos jardins Saint Martin e chegamos ao Museu Oceanográfico. O edifício foi erguido em 1889 e tornou-se instituto, aberto também para o público, em 1910. Criado com o intuito de prover aos pesquisadores um ambiente para o estudo do ambiente submarino, o local abriga um recife de corais com mais de 4 mil espécies de peixes e outras 200 de invertebrados. Há também uma série de exposições permanentes e itinerantes.

Um pouco mais a frente está a Catedral de Mônaco. A igreja de arquitetura romano-bizantina jpá chamava atenção. Mas ficou ainda mais famosa após o casamento de Grace Kelly com o príncipe Rainier III. Toda aquela história de conto de fadas (atriz simples que conhece - literalmente - um príncipe e vive o resto da sua vida como uma jóia da realeza) tornou célebre o local e também o país.


(Fachada do Museu a esquerda e da Catedral a direita. Segunda foto tirada desse link)

Depois dali e com o sol baixando... nos restou aproveitar o dia. Descemos até o porto de Hercule para passear pelo país, ver os bares, as lojas chiques, as pessoas. O número absurdo de pessoas morando naquele território é o responsável pelo fato de Mônaco, apesar de pequena, estar sempre cheia. O movimento no local é enorme, fruto não só dos moradores mas também dos turistas que invadem o local todos os dias do ano (afinal, boa parte dos ricos vive eternamente de férias).

A noite em Mônaco é agitada. Boates e bares chiquérrimos aguardam os convidados dispostos a gastar algo como 300 euros por noite. Não tínhamos o que gastar e estávamos cansadas, mas paramos em um bar pequeno para tomar um café para quem é de café e uma cervejinha pra quem é de álcool.

O ponto alto da noite (pelo menos pra Fafá) foi quando descobrimos um parque de diversões com um brinquedo bizarro. Uma mini gaiola carrega 4 pessoas por vez e começa a subir e descer sem parar a mais de 15 metros de altura. Para quem fica embaixo você só escuta o "aaaAAAaaa" das pessoas chegando fraco e passando forte do seu lado. Ela foi e voltou completamente descabelada.

(Algumas pernas balançantes lá do alto do brinquedo)

Já o ponto baixo da noite foi quando entramos na fila da Oktoberfeste de Mônaco. O evento da cerveja, do qual participamos em Munique, festa oficial, acontece em outras cidades e países pelo mundo. Naquela semana ele acontecia no Principado. Apesar de menor, pensamos que seria como na cidade alemã: quem quisesse poderia entrar, sentar, pedir uma cerveja, conversar com quem estivesse por lá e ir embora. Entramos na fila. Homens de terno e gravata e mulheres de écharpes de pele de animais olhavam para nós. E a gente tava até arrumadinha... Tudo estava muito estranho. Na fila nos disseram: precisa de nome na lista. Pegamos o último ônibus da noite e fomos embora. Mônaco é lindo, mas nos sentimos mais a vontade na nossa simples Menton.

(Desculpem pela futura falta de matérias... Trabalho de Conclusão de Curso apertou e tive que dar uma atenção especial. A minha banca será no dia 7 de julho e, na semana posterior, o blog volta ao normal!)

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Opulência em Mônaco

Luxo. Riqueza. Pompa. Tudo o que já falaram para você sobre os ricos de Mônaco é verdade. Os moradores do segundo menor país do mundo vão ao supermercado com suas bolsas Luis Vitton e seus óculos Ray Ban. Almoçam em restaurantes de luxo da mesma forma que compramos casquinhas no McDonalds. Saem a noite para diversões banais, como cassinos e festas de alto padrão. Entrar em uma boate que pede mais de 100 euros só para respirar lá dentro não lhes parece, de forma alguma, um exagero.

(Sem pressa, moradores e turistas descansam no Café de Paris, o local mais famoso e requisitado para um "rendez-vous")

No Principado de Mônaco, todos são assim. Mas no que concerne a personalidade existem dois tipos de ricos. O primeiro é o tipo extravagente. Adora dizer que tem um flat na cidade e reprime os pobres mortais que nunca sairão da rotina casa-trabalho-televisão. Ele passeia com sua Lamborghini para cima e para baixo, só para aparecer.

O segundo é o tipo humilde (sim, humilde). Acha tão normal ser rico que se impressiona e até fica vermelho quando alguém afirma "noooossa.... você mora em Mônaco... que luxo!". Usa roupa de grife e vai em balada cara por hábito, porque gosta da qualidade desses locais. Ele passeia com sua Lamborghini para cima e para baixo porque precisa se locomover.

(Por fora e por dentro. O chiquérrimo Moods Studio & Music Bar foi inaugurado com a presença do príncipe (se bem que o país tem cerca de 2km quadrados. Onde mais ele iria?). Foto a direita tirada desse link)

Mas morar em Mônaco é mesmo viver em um mundo paralelo. Assim que você atravessa a fronteira já é possível perceber. A diferença aparece de uma rua para a outra. Se de um lado há cidadezinhas francesas agradáveis, naturalmente bonitas, do outro você já vê prédios de luxo, paredes de mármore, vidros fumê, ruas impecáveis, canteiros podados e jardins bem cuidados.

Mais no centro do país, luxo total. Fontes luminosas, flores coloridas, arquitetura preservada. Os hotéis e restaurante têm detalhes dourados. Os funcionários estão sempre bem arrumados e prontos a abrir a porta de um Jaguar para o cliente. Carros. Sim, você esbarra em Ferraris e BMWs.

(Conhecemos um monegasco em Aix-en-Provence que tinha um jaguar com apenas 19 anos. Ele disse que era ralé perto dos amigos... Oi? Foto tirada desse link)

O país caminhou em cima de um tapete vermelho durante toda a sua história. A começar pela monarquia, que trouxe tradições de elite. E o governo muito se interessava pela ascenção do local. O divisor de água veio em 1861, quando o príncipe de Mônaco, Carlos III, chamou a atenção da alta sociedade internacional e pediu que todos contribuíssem para o progresso econômico do Principado. Desde então foram construídos casinos e hotéis de luxo. Como uma bola de neve, a riqueza atraiu pessoas, que atraiu mais riquezas, que atraiu turistas, que atraiu mais riqueza...

Hoje, a pompa faça parte dos monegascos, que nascem e vivem em berço de ouro. Ou talvez seja simplesmente uma vontade de ser e se manter assim. O fato de o país ser um paraíso fiscal também ajuda. Afinal, não há lugar melhor para um investidor morar do que em um país aonde eles não estão sujeitos a impostos.

A riqueza deslumbra. Principalmente os turistas, que gastam fortunas nesse pequeno país. Ir para Mônaco deixa uma ponta de vontade de ser como um deles, usar suas roupas, dirigir seus carros, morar em apartamentos com vista para o Porto, cheio de iates luxuosos.

(O porto de Monte Carlo e seus barquinhos... humpf!)

Ou não. Imagine um grupo como o nosso: três reles estudantes de intercâmbio que contaram os centavos para alugar um twingo. Até podíamos fazer uma extravagância, sentar em um bar, tomar um café à 4 euros. Mas jamais pagaríamos 30 para um prato do dia ou mesmo 10 para se divertir em um cassino. Ficamos tristes? De forma alguma. Passeamos muito e nos divertimos um outro tanto. "No dia em que tiver o meu barco..." ou "Quando comprar a minha Ferrari..." eram frases correntes. Sabíamos que era ilusão. E nos divertíamos com o fato.

(Desenhado por Charles Garnier, o mesmo arquiteto que projeto a Opera House de Paris, o Casino de Monte Carlo é ponto alto do passeio - claro que deve ser muito mais doido pra quem entra...)

Se os tipos de ricos em Mônaco são dois, os turistas também são: igualmente ricos ou classe média sem grandes expectativas. Quem vai sem muito dinheiro achando que pode passar uma semana de glamour vai acabar frustado. No nosso caso, foi exatamente o contrário. Sem contar que vimos muita gente metida, pessoas que nos julgavam por nossas roupas e garçons que não nos atendiam por puro preconceito. E ao fim do dia, uma certeza: Mônaco não é pra nós. Que bom.